As Cores da Capulana
Uma Mão Negra Numa Mão Branca
Uma mão negra
Numa mão branca,
Umas calças
E uma camisa…
Pouco mais
Um homem precisa.
Uma mão negra
Numa mão branca,
Uma saia
E uma blusa…
Pouco mais
Uma mulher usa.
Uma mão negra
Numa mão branca,
Uma conversa arrolhada,
Uma carícia,
Um beijo na testa
E outra frase namorada.
Uma mão negra
Numa mão branca,
Um caderno
Debaixo do braço
E outro caderno
Debaixo do braço.
Um peito inflamado
Um olhar brotando ternura…
Entre a mão negra
E a branca mão
Há uma nascente da coisa mais pura.
Uma mão negra
Numa mão branca.
Category Archives: Mãos
Menino de Rua
As Cores da Capulana
Menino de Rua
Menino de rua,
De pé no chão,
Mão estendida
E alma nua…
Que vontade
É a tua?
Que história
Por contar?
Que destino
Por cumprir?
Que amores
Por amar?
Que fugas
Por fugir?
Menino de rua,
De alma nua…
Um homem por perto,
Um sorriso aberto,
E no olhar,
Sempre a mesma
Dança
Do desespero
E da esperança.
Mão estendida
À procura de vida.
Uma vida
Maior do que tu,
Menino de rua,
De corpo semi nu
E olhar terno,
Menino de rua,
Filho do tempo moderno,
Que vontade
É a tua?
Que reflexo
Tem na gente
A tua alma nua?
Filho do povo,
Órfão do ritmo novo,
Vagueias com o pé
No chão
E o vazio na mão.
Estendida.
Que homem
Nascerá no teu corpo
Semi nu?
Que responsabilidade
Terás tu?
Como agarrarás
A vida,
Se a tua mão
Estava estendida
E o teu olhar
Concentrado
Nesse homem por perto
Que não viu
A floresta no teu olhar
E plantou um deserto?
Menino de rua,
De alma nua,
Que vontade
Será a tua?
Tento na TV – Arregaçar o Quê?
Dar as Mãos
[Como já se suspeitava, confirma-se a existência da doença das vacas loucas também nos E.U.A. Atinge um ponto alto a discussão nos media acerca dos reality shows. Saddam Hussein é capturado e feito prisioneiro.
Aqui sentado, confortável, de lume crepitando conforto, de família conversando aconchego, lembro, num relâmpago que me atravessa a memória, os Natais todos, todos os risos, as vozes todas altercadas, todas as vontades em uníssono e… todas as mãos todas. O pai apertava as mãos com a franqueza e a força de quem se entrega de cara e coração abertos, era uma força que, parece, ainda se sente.
O avô abraçava como quem tem tudo para dar mesmo que fosse pouco. O tio Toneca apertava-nos as mãos com as duas mãos, a enchê-las como que a querer sentir-nos melhor. As mãos da mãe eram quentinhas e macias como são as mãos de todas as mães para os filhos todos. A avó não tinha mãos a medir que lhe não cabia nelas tudo o que sentia, tudo o que queria para os seus. A tia Geralda vivia o nosso Natal como se fosse o dela. Era um dar, um adivinhar os nossos pequenos grandes anseios só para fazer feliz a pequenada. De todas as particularidades recordo, sobretudo, o afazer das mãos, os gestos pequenos e os grandes, a forma com se abriam, cerravam, a forma como recebiam e se entregavam e, sorte a nossa, como, sempre prontas, davam.
Um beijo de mão dada
Mano.


