Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de Maledicência – O Maior Espetáculo do Mundo

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Crónicas de Maledicência – O Maior Espetáculo do Mundo

Depois das manifestações, depois das especulações, depois de se ter garantido que tudo iria correr mal, a festa vai começar.

Começa hoje o mais vasto, o mais visto, o mais apaixonante e aquele que é, financeiramente, o mais volumoso espetáculo do mundo.  É evidente que há opções questionáveis. É evidente que, ao mesmo tempo que organiza espetáculos com esta dimensão, o Ser Humano não resolve as suas assimetrias, não soluciona os problemas culturais, sociais e ambientais.

Mas, será que se nos concentrássemos exclusivamente em resolver os problemas e não déssemos espaço à realização dos nossos eventos, à expressão da nossa cultura, os problemas se resolveriam? E em que medida valeria a pena resolvê-los? Por comparação, a indústria livreira deve ser das maiores responsáveis pelo abate de árvores e, contudo, alguém equaciona a possibilidade de pararmos de fazer livros?

A Humanidade está a enfrentar problemas sérios e tem de o fazer, mas não pode abandonar-se à esterilização da sua existência. Como já muita gente disse, o futebol é uma religião. Um lenitivo para os problemas do quotidiano e a perspetiva de ver em confronto nações e culturas dos quatro cantos do mundo encerra em si um interesse antropológico magnetizante. Entusiasmante. Conheço muitas pessoas que não sentem grande interesse pelo futebol, mas sempre que há torneios que envolvem seleções como sejam um mundial, um europeu ou a CAN, vestem as suas cores e torcem pela sua nação.

Além disso, o futebol é divertido. Há o interesse do jogo e há, à volta do jogo, uma multiplicidade de aspetos mais ou menos folclóricos que atraem e entusiasmam as pessoas.

Espero que a organização esteja à altura. O Brasil merece isso. Espero que haja jogos fantásticos. Espero que Portugal ganhe e, não ganhando Portugal, espero que os nossos irmãos brasileiros arrecadem a Jules Rimet! Espero que as pessoas se entusiasmem com o torneio. A verdade, gostemos ou não, é que o mundo vai parar por um mês! Tudo vai ser relativizado. Quem quer saber da dívida externa ou do buraco do ozono no dia em que o Brasil e a Croácia abrem o espetáculo dos espetáculos? E não há nisso qualquer maldade ou insensibilidade. É que a bola vai rolar e a Humanidade vai tirar férias da sua enfadonha vida de sempre.

Que ganhe o melhor!

Tenho dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – Um Tendão Pomposo

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Crónicas de Maledicência – Um Tendão Pomposo

Ainda o Mundial de Futebol 2014 não começou e Portugal, o país verdadeiro e profundo, já tem razões para estar agradecido ao evento e a alguns dos seus intervenientes. O futebol, por ser um desporto de massas, signifique isso o que significar e, por certo, significa muitas coisas, pode ser extremamente didático.

Até aqui, o português comum tinha joelhos. Depois da lesão de Cristiano Ronaldo, sabe que a essência do joelho é a rótula e sabe também que a rótula tem tendões que servem para qualquer coisa, nomeadamente, correr e dar pontapés na bola. Mas a didática da bola vai muito mais longe. Até aqui levávamos pantufadas nos joelhos, cacetadas, sarrafadas e, derivado das mesmas, ficávamos coxos. Agora já ninguém fica coxo. Os portugueses, por via de seu amado CR7, ganharam o direito a subir de meros coxos a pacientes que sofrem de inflamação do tendão rotuliano. Eu, que tenho vinte e quatro anos de serviço docente esforçado e brioso, nunca consegui ensinar uma tão complexa e extensa sequência vocabular em tão pouco tempo a tanta gente ao mesmo tempo. O futebol ultrapassa-nos a todos.

E isto tem as suas consequências positivas. Agora, o velhote vai ao médico e ai do dótôr que venha para cá falar do romático, ou da ciática, ou da artrose! Isso é vocabulário simplório e comum. Os velhos, agora, vão reclamar o nome apropriado no relatório do diagnóstico: inflamação do tendão rotuliano. Deve ser um tendão pomposo uma vez que lhe deram um nome pomposo que faz lembrar os nomes dos imperadores romanos e daqueles tipos de túnica branca que iam ao senado afacalhar-se uns aos outros depois de noites em loucas orgias. E quando o dótôr perguntar se a pessoa sabe do que sofre e qual a gravidade da doença, o paciente saca do baú da sapiência faustamente recheado em longos telejornais e mai-los programas da especialidade e os diretos e ainda os tipos em cima das motas atrás do autocarro e esfrega nas ventas do médico com todas as definições, sintomas, implicações e terapias relativas e apropriadas ao tratamento.

Isto é assim, caro leitor, investem-se milhões na Educação, em escolas, em vencimentos de docentes, em médicos, em publicidade institucional, em centros de saúde e a coisa resulta em muito pouco. Dinheiro mal gasto, está bom de ver! Já, por seu lado, o Cristiano Ronaldo e os amigos vão ao Brasil dar uns pontapés na bola e outros tantos na gramática e vai daí a população fica genericamente mais douta seja ao nível da Língua, seja ao nível dessa inesgotável ciência exata que parece ser a Medicina.

De resto, isto está tudo cruzado. Bem vistas as coisas, dá para perceber de que lado está a sabedoria. Por exemplo, tecnicamente, Cristiano Ronaldo e os outros vinte e dois juntamente com seu garboso treinador percebem mais da Constituição da República Portuguesa do que o Governo. E as contas são fáceis de fazer. Já alguém ouviu falar do Tribunal Constitucional ter chumbado o que quer que fosse do CR7 e seus amigos? Ah, pois não! Mas a oposição também não se fica a rir. Andava tudo numa lufa-lufa a ver se o Costa ganhava ao Seguro ou se era o Seguro que ganhava ao Costa, se iam a diretas ou se se ficavam pelas indiretas e vai daí o CR7 lesiona-se e os outros dois passam para horários menos nobres, deixam de abrir os serviços noticiosos e ficam entregues a uns especialistas duvidosos que falam depois das 22h. Tecnicamente, o Cristiano nem precisava de apresentar oitenta medidas. Bastava uma meia dúzia e todo o Portugal saberia do que se tratava e toda a Assembleia da República se curvaria às mesmas.

Isto é assim. Há o país real. E há aquele país para onde a gente foge sempre nos podemos escapulir ao país real. Ora, nesse outro país, há um imenso relvado, duas balizas, uma bola, vinte e dois tipos suados com tatuagens e cortes de cabelo criativos e não há lá coxos, há atletas que sofrem de inflamação do tendão rotuliano. E é para lá que emigramos todos. Sempre que podemos. E é por isso que dentro de quarenta e oito horas o país real, quer queira, quer não, vai entrar em auto gestão. Mai nada.

Tenho dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – O Fracasso da Copa

Fifa, Copa, Brasil, 2014, Portugal, JesusCrónicas de Maledicência – O Fracasso da Copa

Não tenho, neste momento, quaisquer dúvidas. A Copa Brasil 2014 vai ser um fracasso. Só o hoje o descobri, mas temo que a descoberta seja incontornável.

Como vai sendo hábito desde que me conheço, ainda que com parcimoniosas exceções, hoje acordei de manhã. E acordei ao som do despertador. Tenho um daqueles que, quando desperta, dá música. Ou melhor, daria. A verdade é que a minha mulher, vá-se lá saber porquê, prefere acordar com notícias. Eu acho aquilo um hábito um pouco sado-maso, uma espécie de bondage do acordar, funciona, mas é violento.

E hoje as notícias que me roubaram aos braços de Morfeu eram sobre o quê? As eleições europeias e o assalto da extrema-direita ao poder por via democrática? Não. Pouco interessante. Sobre os concursos de docentes em Portugal? Na… Sobre a saída limpa ou a retoma da economia nacional ou europeia? Na… Sobre os problemas que assolam as comunidades lusófonas em África como, por exemplo, a fome? Na… Sobre as eleições na Guiné? Na… Tudo matéria de somenos quando comparada com o verdadeiro motivo de notícia com que o dia acordou: o futuro de Jesus!

Eu, por acaso e ignorância, pensei que o futuro de Jesus estava traçado e consistia em ficar ao lado de Deus num cadeirão dourado com um estofo macio em veludo encarnado. Enganei-me. O futuro de Jesus também é encarnado e também é num estofo macio, mas será no banco reservado ao treinador do Benfica. A malta do Rio Ave e do Sporting e do Porto não deve ter gostado nada da ideia porque o Jesus já esteve este ano nesse banco e ganhou tudo. É um alambazado que não deixa nada para os outros. Eu que sou benfiquista também não gostei. Então a Seleção tem um compromisso tão importante como a Copa do Mundo e a gente não manda para lá o Jesus? Vai o Paulo Bento? Que eu saiba o Bento não passou de Papa.

A Copa não terá o mesmo brilho. Não terá o mesmo glamour. Não terá a mesma ciência nem a mesma filosofia e, de certo, não terá a mesma arte. Estará votada ao fracasso, portanto!  Quem é que vai dizer peaners e acardito? Quem é que vai dizer a gente temos? Quem é que vai citar Pascal e fazer perguntas de filosofia aos jornalistas? Quem é que vai comparar a mui nobre arte de treinar jogadores de bola à pintura de Paula Rego? Quem? Sim, quem é que no espectro internacional tem estaleca para dar um espetáculo dentro do outro com a originalidade, sempre renovada, se Jorge Jesus? Ah pois é… ninguém!

A organização da Copa 2014, se andasse com juízo, inventava mais uma vaga para um país que tivesse ficado de fora por uma nesga e pagava para o Jesus treinar os maganos. E aí sim, toda gente ficava a ganhar. Eu dantes pensava que o futebol era interessante por causa da bola, das balizas, dos jogadores… andava enganadinho. A bola tem muito mais interesse com o Jesus no espetáculo e é por isso que eu não vou ligar nenhuma a esta Copa! Sem Jesus, não vale a pena. Já fracassou!

Tenho Dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – Pouca Europa, Muitas Europas

European Election 2014Crónicas de Maledicência – Pouca Europa, Muitas Europas

Não sou politólogo, nem especialista em eleições. Não apareço na TV a comentar. A autoridade que me assiste é, somente, a de pensar.

A Europa, tal como a conhecemos nos últimos anos, a Europa do Euro, a Europa da União, virou autofágica e destruiu-se.  Essa Europa de faz de conta morreu.

É simples apurar isso. Houve eleições europeias em Portugal. Não se discutiu a Europa. Discutiram-se os problemazinhos de Portugal, que são sérios e merecem atenção, precisam dela, mas que, se fossem enquadrados num raciocínio mais abrangente de pensar o Velho Continente, talvez tivessem solução. Assim, não têm. Os políticos portugueses entretiveram-se, a pretexto destas eleições, com uma disputa interna a ver quem internamente ganhava. E o Destino foi traiçoeiro. Para todos. Nem o PSD perdeu tão pouco quanto queria, nem o PS ganhou tanto quanto pretendia, nem todos os outros deixaram de ser cruelmente esquecidos. O PSD correu junto com o CDS e os dois juntos contra um só partido não evitaram uma derrota com margem de 4%. Grave. Foram ao tapete. Contudo, o PS anteciparia, lá está, por via das questões internas, uma vitória mais robusta. Não a teve. Todos os outros só contam para quem votou neles. A maioria dos portugueses nem se lembra já da siglas.

Mas há mais. Todos, mas todos mesmo, sem exceção, saíram derrotados sob o peso de uma elevadíssima abstenção. Sessenta e seis por cento dos eleitores portugueses não votaram. Isto comporta duas mensagens inequívocas. A primeira é que o conceito de uma Europa unida diz pouco aos portugueses que, em jeito popular, vão dizendo que aquilo é mais uma maneira deles se amanharem. A segunda, mais séria e funda, é que o sistema eleitoral e o conceito de uma União Europeia estão postos em causa. Quando, num dos Estados-Membro, quase sete em cada dez eleitores não se dá ao trabalho de ir fazer a cruzinha, a verdade é que a eleição, em si, não diz muito ao eleitor. Ninguém assumirá esta derrota. Isso seria pôr em causa aspetos que se não podem pôr em causa. Porquê? Porque interessa, a quem usufrui financeiramente desta Europa, que ela exista.

Mas há mais. Olhemos, de relance, os resultados em perspetiva europeia. Há pouca união, pouca coesão e, nesse sentido, há pouca Europa, muito pouca. Há uma difusão de orientações que vão, nos diversos países da UE, desde vitórias da Extrema Esquerda, a vitórias na Extrema Direita, com os sensaborões do centralão pelo meio. Ou seja, há demasiadas Europas para que a União Europeia aguente. Não sei, mesmo, se com uma tal composição, será possível governar a UE. Nunca percebi porque é que em cada Estado Membro votamos nos nossos partidos e não nos partidos europeus. Isso transviou a discussão em torno destas eleições para as questões internas de cada país e impediu uma discussão lata acerca dos destinos e do pensar a Europa no seu todo. Acredito, mesmo, que haja pouco portugueses capazes de nomear, nem que seja pela sigla, um único partido europeu. Os portugueses, na generalidade, não os conhecem, não sabem quais são e, pior do que isso, não sabem quem são as pessoas por trás deles. Creio firmemente que seja diminuto o número de eleitores portugueses que saibam, quando votam no PSD, no PS, no PCP, no BE, para as europeias, em que partido estão a votar para o Parlamento Europeu. Esse gigantesco parlamento de quase setecentos elementos que, isso sim, nós pagamos com os nossos impostos. De resto, todo o processo está viciado. Dos poucos eleitores que vão votar, daí a representatividade estar posta, seriamente, em causa, a maioria fá-lo por disciplina de voto. Fá-lo por seguidismo e tradição e di-lo. Ninguém olha para os programas eleitorais, os compara e vota neles. Quem é do PSD abomina por princípio tudo o que venha de outros partidos, em particular do PS. Quem é do PS abomina por princípio tudo o que venha de outro partidos, em particular do PSD. E assim sucessivamente. Ninguém do PCP ou do BE olha para um programa do PSD ou do PS à procura das suas eventuais virtudes. Nada disso. O que importa é encontrar as falhas naquilo que à partida se classifica como mau só porque vem de onde vem. E o inverso é igualmente verdade. Em Portugal, neste tipo de pensamento e processo, não há inocentes.

Ontem, não ganhou ninguém e perdeu toda a gente. E, sobretudo, perdeu a Europa, embora tenham ganhado as Europas.

Tenho dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – O Linchamento da Copa

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Crónicas de Maledicência – O Linchamento da Copa

Eu nunca estive no Brasil. Não tenho qualquer conhecimento profundo do funcionamento quotidiano da sociedade brasileira nas suas diversas vertentes. Cultural, social, política e económica. Logo, não me assiste qualquer autoridade para escrever estas linhas que não seja a de um cidadão interessado naquilo que o rodeia. Nihil humanun alienum mihi est.

Acontece, entretanto, que os mais recentes acontecimentos de teor político-social me trazem preocupado. Porque o povo brasileiro me parece revoltado e em revolta, porque me parece desmandado, completamente desorientado, mais à procura de culpados do que de soluções, porque me parece estar a ser alvo de diversos tipos de manipulação e, finalmente, porque me parece que sofre e se vira contra si próprio.

Não sendo eu uma pessoa que atribua ao futebol uma importância extrema, nem lá perto, encaro-o como uma forma de diversão e tenho pelo jogo o interesse que se atribui a um espetáculo de entretenimento diversificado, também não ignoro tratar-se de um desporto que arrasta milhões de adeptos e assume a dimensão de um fenómeno cultural a que quase ninguém fica indiferente. Além do aspeto cultural, o futebol tem um peso significativo ao nível dos média, ao nivel industrial, comercial e, naturalmente, financeiro. E até do ponto de vista da imagem que se projeta de uma determinada nação. E isto acontece quer através das seleções, quer através dos clubes. Uma coisa é certa, trata-se de um fenómeno de dimensão global. Não ignorável, portanto.

O Brasil, por sua vez, diga-se e pense-se o que se quiser, é, por razões de ordem diversa, uma nação poderosíssima. É “só” o maior produtor mundial de hardware informático, tem cento e setenta milhões de habitantes e falantes da Língua Portuguesa, acolhe a floresta amazónica, justamente chamada de “Pulmão da Terra”, desenvolveu um poderio agrícola e industrial muito significativo, a sua produção cinematográfica e, em particular, a sua produção musical, chegam aos quatro cantos do Mundo, sendo incontornáveis, no âmbito da CPLP, autores como Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Jorge Amado…

Este país tem símbolos, ícones e manifestações culturais que o marcam e o caracterizam e, mais do que tudo isso, fazem parte da sua identidade enquanto nação. Brasil é café, Brasil é samba e bossa nova, Brasil é Carnaval e Brasil é… futebol.

E ninguém impôs isso ao povo brasileiro. Foram os brasileiros, enquanto povo, que se afirmaram com essas características, que construíram e assumiram essas manifestações culturais, donde negá-las parece assumir contornos de uma macro-negação da sua própria identidade.

Ora, os brasileiros votam. E quando votaram, da última vez, quero acreditar que escolheram, em consciência, quem consideravam melhor para os governar. Isto não significa, tout court, que os eleitos façam um bom trabalho, ou façam o que prometeram, mas significa que têm legitimidade democrática para governar.

Junta-se a este raciocínio um outro fator. A grande nação brasileira está a atravessar graves problemas sociais e políticos. Altíssimos níveis de pobreza extrema, assimetrias financeiras muito acentuadas, o problema da marginalidade e da criminalidade, a falência do sistema público de saúde e sérias dificuldades em manter um sistema nacional de educação público e de qualidade. E há um outro, pelo que leio, pelo que vejo na televisão e na Internet, que é transversal a todos os outros e não só está na sua génese como constitui um sério obstáculo à sua solução: a corrupção.

Chegados aqui, olhando para a nação que o Brasil é, olhando para as fortíssimas marcas culturais que transporta, olhando para os graves problemas que atravessa, olhando para o universo faustoso que a organização da Copa 2014 comporta, estão criadas as condições para fazer do certame o bode expiatório de todos os problemas e insuficiências e promover o seu linchamento. Como escreveu Camões, tão amado no Brasil, “Mísera sorte, estranha condição”.

Como quase sempre acontece nestes casos, geram-se dicotomias e antagonias que dividem a população. Há os que são a favor da resolução dos problemas e, como tal, contra a realização do certame e há os que são a favor da Copa e a seguir pensa-se de novo nos problemas. Pois, eu penso que, quer um posicionamento, quer outro, são pouco ambiciosos. Na minha humilde, imperfeita e inabilitada visão, os brasileiros deveriam exigir aos seus governantes, nada mais, nada menos, que a realização da melhor Copa de sempre e a resolução dos problemas que assolam a nação. O Brasil tem potencial e gente para solucionar os problemas que enfrenta sem descaracterizar-se culturalmente. Atrevo-me a colocar, por ousadia, duas questões aos meus irmãos brasileiros. Primeira, os problemas existiam ou não existiam muito antes do Brasil assumir a organização da Copa 2014? Segunda, se lincharem a copa e suspenderem a sua realização, os problemas ficam resolvidos? Pois, como se diz por aqui, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

A solução dos problemas sociais tem de ser prioritária, mas não pode levar o país a negar a sua própria identidade nem aquilo que o povo chamou a si como sendo as suas manifestações culturais. Por essa ordem de ideias, a do linchamento da Copa, enquanto houver um problema social por resolver, não pode haver Carnaval, não pode haver um concerto de música, não pode haver uma peça de teatro e, em boa verdade, também não deveria haver festas de anos nem churrascos em família.

Assustam-me os problemas, mas assusta-me mais, e dói-me, assistir a uma nação virar-se contra si mesma, mutilar-se da sua cultura e da sua identidade e linchar-se na rua. O que é efetivamente necessário é ser exigente para com o corpo político, cobrar-lhe a restituição da paz social, da qualidade de vida, dos serviços públicos de qualidade, e, simultaneamente, cobrar-lhes a garantia das manifestações culturais que são intrínsecas ao Povo. o que é preciso, é acabar com a corrupção, com a fome, com a pobreza. Isso é que é preciso. Não é linchar a Copa!

Tenho dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – No Reino Animal

Crónicas de Maledicência – No Reino Animal

Amigos e leitores, isto hoje é assim uma crónica do tipo “National Geographic”. Só com alimárias. E daí, não sei não, porque há um macaco que parece que não é bem macaco. Quer dizer, ele nasceu macaco, mas parece que para sair do cativeiro não pode ser macaco. E onde é que isto se passa? Nos Estados Unidos, claro. Se Darwin não conseguiu, os americanos dão um jeito. A coisa foi assim: ao que parece há um chimpanzé que está em cativeiro. Preso, portanto. Houve uma ONG que quis libertar o macaco e por isso pediu o seu Habeas Corpus ao tribunal. Acontece que o Habeas Corpus, segundo a lei, serve para libertar uma pessoa detida ilegalmente. Ora, que o macaco esteja detido ilegalmente, ninguém duvida. Já que ele seja uma pessoa… Ao que parece, a ideia é o macaco ser pessoa por um dia e depois voltar a ser macaco. Mas isso, a mim, desculpem-me o conservadorismo e a falta de sensibilidade, parece-me um passo maior do que a perna. Parece-me, mesmo, uma daquelas coisas absurdas saídas de Hollywood. Eu tinha cá uma ideia mas deve ser muito simples para as complicações dos homens. Então e se libertassem o macaco como macaco e pronto não se fala mais nisso sem ser preciso ele ser por um dia o que nunca será por tempo nenhum? Eh pá, amigos, andamos a complicar um poucochinho acima da conta.

 
Por falar em animais, mas desta vez mais pertinho do que nos EUA, ali mesmo em Lisboa de Portugal, aconteceu uma daquelas coisas que, se o ridículo matasse, os envolvidos já estavam a prestar contas ao Criador. Quem me conhece, sabe que sou um tipo ordeiro e respeitador da lei, da ordem e das autoridades que a garantem, mas… às vezes, até eu duvido! Vejamos, os senhores da Guarda Nacional Republicana, como isto aqui não é a balbúrdia que vai nos States, apreenderam, apreenderam é o termo, nove, não um, nem dois, nem três, mas nove(!) leões a um circo. E foi para proteger os animais? Nada! Foi porque não tinham papéis de identificação. O GNR passou por ali, pediu o Cartão de Cidadão ao leão, ele não tinha, passaporte muito menos, e vá de o apreender. Até aqui tudo bem. Os meus amigos sportinguistas que me desculpem, mas leão que é leão ou anda identificado ou apreende-se! Ora, tendo apreendido os felinos, o que lhe fez a GNR? Entregou-os ao dono! Pois, chegámos, no nosso país, a este estado de coisas. A GNR já nem tem jaulas nem tratadores para tomar conta dos leões que vai apreendendo no quotidiano da Capital. Eu até considero a medida muito adequada. Por exemplo, se me apreendessem o meu carro por falta de documentos, eu não me importava nada que mo entregassem à minha guarda. 
As notícias que deram origem a esta crónica encontrei-as aqui e aqui e parecem-me fidedignas. Mas lá que são estranhas… e a malta com tanta dívida pública para pagar!
jpv


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Crónicas de Maledicência – Ponto da Situação

Crónicas de Maledicência – Ponto da Situação

Não pode um homem virar costas durante uns dias, uma mísera semana no cósmico devir dos tempos, e Portugal desata a acontecer. Final de ano letivo, uma viagem, mais umas consultas, comprar uns medicamentos que o corpo começa a fazer perguntas ao tempo e resultou tudo numa semana de um pouco menos de atenção aos média. Menos net, menos telefone e menos televisão. E assim que um tipo acorda para o mundo lusitano, ele mudou-se de lugar. Foi tanta coisa em tão pouco tempo que, sabendo nós que temos muitos leitores em fase de veraneio, vimos aqui fazer um breve, se for possível tanto Rossio para tão pouca Betesga, ponto de situação.

Ao que parece o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros demitiu-se com caráter irrevogável. Fosse porque o caráter não era irrevogável, fosse porque não era caráter, foi readmitido como Vice-Primeiro Ministro. Ele justificou-se, e bem, dizendo que primeiro estava o país. Só não disse onde é que estava o país quando da demissão que foi irrevogável mas mudou de teor.
Ao que parece, a nova Ministra das Finanças tomou posse e ao que parece nem toda a gente concordou e ao que parece esteve de saída e ao que parece não saiu. Chama-se Maria, a Senhora Ministra, nome muito apropriado, porquanto ainda agora conheceu o menino e já tem percorrido longo calvário.

O Povo, que é ingrato e néscio, andava acusando o Senhor Presidente da República de não fazer nada. Houve mesmo quem buscasse metáforas circenses de mau gosto rapidamente perdoadas. Ora, um fim de tarde cálido, estava o Senhor Presidente da República a fazer nada e acordou de sua entorpecida letargia. E fez. Fez tudo duma assentada. Com a particular e difícil virtude de ter feito a vontade a todos. Sim, já nasceu o homem que agradou a gregos e a troianos. Havia os que queriam que ele mantivesse o Governo. Ele manteve o Governo. Havia os que queriam um Governo de Salvação Nacional multicolor. Ele decretou a constituição de uma coisa dessas. E havia os que queriam eleições antecipadas. E ele marcou-as. Claro que a salvação nacional não pode durar mais de onze meses, mas compreende-se, se é para salvar, então que seja rápido.

E, assim sendo, já tínhamos em perspetiva três Governos possíveis, acontece que o próprio Governo propôs um outro Governo! Eu até pensei que devia ser engano do jornalista, mas estavam todos a dizer o mesmo. Enfim, não se compreende, mas aceita-se.

Por sua vez, a oposição diz que vai a jogo, à conversa de diálogo chamada. Mas avança que não aceita. E talvez por isso há por aí muito ignorante, grupo em que me incluo, que não percebe porque é que vai conversar se a conversa já terminou.

Por sua vez, inquietada com tanta agitação enquanto ela estava para ali a fazer nada e a ver os outros a divertirem-se, a Senhora Presidente da Assembleia da República, aquela jeitosa do biquini branco que tem um corpo interessante e adequado para anúncios de fraldas para a icontinência, mas, de certo, tem demasiado corpo para o cargo que ocupa pois todos sabemos que o Presidente da Assembleia da República tem de ser velho e reformado e ela só é reformada, resolveu dar um arzinho da sua graça. Ora, errou na força do arzinho e saiu-lhe um ciclone. Na mesma tarde, citou Simone Bôvuare (ela pronuncia assim), correu com uma cambada de manifestantes da Assembleia da República porque isto é à vontade, mas não é à vontadinha, a democracia tem limites, fez uma metáfora e prestou declarações à imprensa. A senhora devia estar derreada. Eu que tenho a impressão que sou escritor é que sei o trabalho que dá fazer metáforas. E nem sempre saem bem.

Estava o país entretidíssimo com tanta ação e tanta novidade, a pontos de ninguém se interessar pelas imagens discursivas contundentes dos deputados do Bloco, não digo de Esquerda porque da maneira que isto vai, ainda muda de mão, e aparece aquela senhora que foi Ministra das Finanças e não acerta com as concordâncias de género e número, a Doutora Manuela Ferreira Leite, e diz do ex-futuro-ministro-Doutor-Paulo-Portas que ele era um menino que fez birra porque lhe tinham dado um brinquedo e depois lho tinham tirado porque o brinquedo não era dele. Às tantas, eu estava confuso porque já não sabia bem de quem era o brinquedo. E é claro que, com declarações deste teor e de tão ilustre personagem, seria de esperar que Portas se escondesse atrás das ditas enquanto a vergonhaça passava.

Qual quê! A tradição já não é o que era. O ex-futuro-ministro foi à Casa da Democracia, fez um acalorado discurso onde justificou a sua partida e explicou o seu regresso e foi aplaudido, nada mais, nada menos, do que de pé.

No final de uma sucessão trepidante de eventos deste teor só apetece perguntar, assim meio baralhado, Olha lá, como é que ficou o jogo? E a resposta é simples. Antes disto, os juros da dívida pública estavam a 6,10% e agora estão a mais de 7,5%. É verdade que pode ter saído caro, mas não é menos verdade que o entretenimento foi do melhor nível possível. A Teresa Guilherme que se cuide, se a Casa da Democracia continua a dar este espetáculo, ela vai ter de fechar a casa do irmão grande e fica no desemprego a engrossar o engano nas previsões daquele senhor benfiquista que já cá esteve mas foi embora. Aquele do Borda d’Água…

jpv


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Crónicas de Maledicência – As Cartas Estão na Moda


Crónicas de Maledicência – As Cartas Estão na Moda

Pode um homem esforçar-se o que quiser, aplicar-se e trabalhar tudo o que quiser que, a verdade, verdadinha, é que quem pode, pode, quem não pode, arreia.

Tentamos motivar os alunos para o discurso epistolográfico de primeira pessoa, escolhemos cartas interessantes como exemplo, mostramos powerpoints, fazemos discursos entusiastas e… nada… nem um piscar de olhos… Dizemos aos pais para comunicarem connosco, que, ao menos, assinem a caderneta e mandem um recadinho por lá a dizer se receberam certa informação e… nada… nem um piscar de olhos. Ninguém quer saber de cartas para nada.

Até ao momento em que dois senhores, por motivos diferentes, em países diferentes, se põem a escrever uma carta, mais ou menos esperada e, até, em certos aspetos, mais ou menos óbvia, e o que é que acontece? Telejornais e comentadores até às duas da manhã, primeiras páginas, internet atulhada de referências. E eram estas cartas especiais? Quer dizer, ser, eram. Todas o são, caso contrário, quem as escreveu não se tinha dado ao trabalho. Mas também não é como se revelassem algo que já não soubéssemos todos!

A carta/comunicado que Snowden escreveu ao Presidente Obama é tão óbvia que o próprio nem reagiu. Então ele revela ao mundo e acusa o Presidente de andar a espiar a Europa? E o que é que isso tem de novo? Quem é que não sabia ainda? Se é por causa destas revelações que os americanos andam a ver se deitam a mão ao Snowden, então deixem-no em paz que o tipo é uma autêntica fraude, não tem mesmo nada de novo para revelar. Em todo o caso, a sua carta/comunicado teve uma virtude reveladora. Acabou de vez com a guerra fria! Ah pois é! Foi ontem que se enterrou o fantasma da guerra fria. Eu, que vivi o auge das ameaças nucleares e as tensões e as competições e as ameaças de boicotar Jogos Olímpicos, ouvi ontem, com estes dois que a terra há de comer, o Presidente da Rússia a chamar amigos ao americanos! Ele referia-se a Snowden e dizia, “Pode cá ficar se parar com estas brincadeiras e deixar de se armar em engraçadinho, caso contrário, procure outro país porque nós respeitaremos os nossos amigos americanos” Eh pá, iam-me vindo as lágrimas aos olhos…

Por falar em cartas, Vítor Gaspar, pouco dado a narrativas, homem mais dedicado aos gráficos e ao Excel, deixou-se de numerologias, mudou de software, atirou-se ao processador de texto e escreveu uma carta. Tal como a de Snowden, também ela tinha informação óbvia. Gaspar diz que se enganou. Pois, andam a dizer-lhe isso há muito tempo. Gaspar diz, por outras palavras, que não tinha o apoio do Governo. Pois, já o tínhamos visto muito sozinho, as bases dos partidos da coligação a desautorizá-lo, enfim, nada de novo. Gaspar diz a Passos Coelho que está na hora de investir. Anda tudo o que é analista, economista, politólogo e cidadão comum a dizer a mesma coisa há meses, anos, até. Então, porque é que a carta ocupou tanto tempo de antena? Básico, simples e justificadíssimo motivo: a carta de Vítor Gaspar faz emergir Maria Luís Albuquerque! O leitor não sabe quem é mas vai descobrir já na próxima declaração de IRS! É uma espécie de Vítor Gaspar, mas sem olheiras e de saias! Era o braço direito do próprio! E é isso que me intriga. Se o braço esquerdo não servia, porque serve o direito? Mas, enfim, nada de juízos precipitados. Dê-se, por agora, o benefício da dúvida, a ver se os tipos da Troika nos dão o benefício da dívida! E deixemos trabalhar a Senhora Ministra que a espera tarefa ciclópica.

Posto isto, esperemos ávidos pelas próximas cartas. É que pelo andar da carruagem, cheira-me a ter pegado moda.

Com a mais elevada estima e consideração,

Maputo, tantos do tantos

João Paulo Videira


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Crónicas de Maledicência – Carta de Conveniência

Crónicas de Maledicência – Carta de Conveniência

Eu nem devia dizer isto porque sou homem, muito menos escrevê-lo, mas enfim, cá vai: então as mulheres ainda não aprenderam que, se disserem a um homem, “Utiliza-me como te convier.”, há uma probabilidade elevadíssima de ele o fazer?!

A Senhora da Imagem é Christine Lagarde, a diretora do FMI. Sim, esses mesmos que nos andam a exigir sacrifícios e a errar nas contas e nas folhas dos excéis. Ora, a senhora escreveu uma cartinha ao então presidente de França, Nicolas Sarkozy, e, entre outros mimos, trata-o por “querido”, diz-lhe que existe para o servir e acaba dizendo a lapidar frase “Utiliza-me como te convier.” E ele utilizou. Não, caro leitor, não vá pelos caminhos sinuosos da libido porque o Sarkozy já tinha a Carla Bruni que lhe dava uma trabalheira. De cada vez que a excelsa modelo francesa pedia uma beijoca ao presidente, lá ia ele buscar o escadote e vai de subir e vai de beijar e vai de descer. Ou seja, Lagarde bem quis, mas ele não podia mais. Então, serviu-se dela para, alegadamente (escrevendo esta palavra livro-me de processos), se dirigir ao presidente jurando-lhe fidelidade. Acontece que a folha da senhora está tão limpa como um pano de mecânico, os mecânicos que me perdoem, e ela estava a ser investigada no escândalo Tapie quando a terna missiva foi encontrada.

Pergunta o leitor, com toda a razão, Ó JP e quando é que começas a fazer sentido? Vai já, caro leitor, vai já!

Acontece que o tribunal condenou o Estado Francês, representado por Sarkozy, a pagar a um empresário chamado Bernard Tapie a módica quantia de 403 milhões de euros sendo que, pasme, amigo leitor, pasme, Tapie é amigo de Sarkozy e Christine Lagarde é amiga dos dois e até se predispõe a ser usada por um deles como, a ele, lhe convier. Não censuremos a senhora! Se eu tivesse uma amiga com uma amiga com 403 milhões de euros eu não só escrevia à minha amiga para me usar como lhe conviesse, como escrevia às DUAS para me usarem como lhes conviesse.

Conclusões. A senhora da foto é amiga de um tipo que era chefe de estado quando o seu amigo, também amigo dela, o processou e ganhou e ela assistiu a tudo e calou-se. E o que é que isto tem a ver connosco? Simples. Está a ver a dificuldade em pagar a conta da luz, em fazer compras no supermercado, em comprar o gasóleo? Pois, ela não tem, mas o caro leitor tem. Por via de uma austeridade imposta por uma equipa que esta senhora dirige!

E pronto, traçada a teoria da conspiração, vou ali escrever uma carta e já venho:

“Querida Christine,
Utiliza-me como te convier…”

Tenho Dito!
jpv


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Crónicas de Maledicência – O Mal Agradecido

Crónicas de Maledicência – O Mal Agradecido

A imagem que escolhemos para ilustrar esta crónica não bate muito certo com o título dela. E o efeito é propositado.
Efetivamente, vemos na imagem o Senhor Presidente da República agradecendo quando, na verdade, terá dado mostras de ser um tanto mal agradecido.
Eu explico e faço-o com brevidade. Numa altura em que o país é assolado pelo mais grave dos flagelos, o desemprego, fenómeno que destrói a economia, a capacidade de produção, o comércio e o tecido familiar, e, concomitantemente, numa altura em que se antevê que o homem que dá corpo ao Senhor Presidente da República, o cidadão Aníbal Cavaco Silva, pode engrossar as fileiras de desempregados, houve um cidadão que, em Elvas, terá mandado Aníbal trabalhar, com certeza oferecendo-lhe emprego, numa demonstração de preocupação com o seu futuro e simpática generosidade. E como foi recebida tal oferta? Com um célere julgamento que, logo no dia seguinte, condenava o simpático cidadão a uma multa de 1300€.
Ficámos perplexos. Logo à partida, não sabíamos que o trabalho constituía ofensa, depois, pensámos que, havendo tão pouco trabalho, assim que aparecesse algum, a oportunidade não seria desperdiçável e, por fim, pensávamos, até agora, que Aníbal era um adepto do trabalho. De tal forma que até acumulava funções e as respetivas regalias como sejam os vencimentos, as reformas, as viaturas, enfim, tudo a que tinha direito.
Ora, ironias à parte, importa perceber como é que num país em que é preciso dedicarmo-nos a tanta coisa de suma importância para sairmos da situação em que estamos, a justiça, conhecida por ser lenta, foi desta vez tão célere. Porque se gastam energias e a preciosa verba do erário público com coisas como seja um cidadão, num clima de crise, dizer ao Presidente da República para ir trabalhar.  Mesmo reconhecendo a falta de respeito, e condenando-a, parece-me que o Senhor Presidente da República deveria ter mais o que fazer do que a andar a apresentar queixa e a patrocinar processos desta (quase insignificante) importância! Imaginemos que era eu, ou o amável leitor, que me queixava à justiça por alguém me mandar trabalhar. Teríamos processo resolvido em 24 horas? Seria o culpado identificado, interrogado e intimado a pagar uma multa de 1300€ em tão curto espaço de tempo? Ficam as interrogações. E fica, para a história, esta sensação de que Aníbal Silva, ainda pode vir a arrepender-se de ter recusado a oferta…
Tenho Dito!
jpv
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A presente crónica fez fé em notícia publicada aqui e aqui.