Antes (18:45 em Maputo)
Category Archives: Benfica
Já lavavas a cara, não?
Sexta Feira Especial!
Crónicas de Maledicência – Uma Questão de Oportunidade
Crónicas de Maledicência – Uma Questão de Oportunidade
Crónicas de África – A Terra do Benfica
Maputo é a terra do Benfica. Nunca vi, noutra cidade, como vejo nesta, uma manifestação de simpatia clubística tão acentuada, tão ferverosa.
Por exemplo, em dia de jogo do Benfica, seja ao sábado, seja ao domingo, seja mesmo durante a semana, são aos milhares, os habitantes de Maputo que envergam camisolas do SLB. Antigas, recentes, do equipamento principal, do secundário, genuínas ou falsificadas, tudo o que seja encarnado e tenha um emblema do Benfica serve. É engraçado vê-los atrás das esposas no supermercado, a empurrar o carrinho, é engraçado pararmos num semáforo e o carro ao nosso lado ter quatro homens lá dentro e todos estarem vestidos à Benfica. E eu perguntei:– Bom dia, então para onde é que vão?
– Vamos ver o jogo! O Benfica é um orgulho nacional!
Esta resposta deixou-me perplexo. Ele disse vamos ver o jogo como se o jogo fosse em Maputo num dos estádios da cidade. E disse “orgulho nacional”. De que nação? Da Moçambicana? Da Portuguesa? Acabei por concluir que era o orgulho da nação benfisquista e a nação benfiquista é multinacional! E depois, à hora do jogo, os bares e os restaurantes que transmitem o jogo numa televisão enchem-se de camisolas do SLB a gritar ferverosamente goooolo!
Tenho de ser justo. Também se veem por cá camisolas do FCP e do SCP, mas o fenómeno não tem, nem lá perto, a dimensão do fenómeno benfiquista. São situações pontuais. Ora, quando joga o benfica, mesmo antes do jogo, ao longo do dia, é impossível atravessar-se uma avenida da cidade, ir a um supermercado, a um restaurante ou a um café sem nos cruzarmos com diversos simpatizantes vestidos a rigor! A cidade pinta-se de encarnado.
Assim, cito aqui uma expressão do meu colega e amigo benfiquista, Francisco Carvalho, sobre haver, ou não, seis milhões de benfiquistas. Diz ele na sua página do Facebook: “Seis milhões? Façam lá o update!”
Se eu pertencesse aos corpos dirigentes do SLB, tratava de premiar os habitantes de Maputo pelo seu inquestionável benfiquismo, nomeadamente, visitando, com a equipa principal, a capital moçambicana com alguma frequência. Assim, podia ser que, um dia, quando me dissessem “Vamos ver o jogo!” estivessem mesmo a dirigir-se para o espectáculo ao vivo e a cores com o clube do seu coração, o tal que é orgulho nacional!
Sporting – Benfica: A Paixão do Dérbi
Sobre o jogo de ontem, que foi genericamente um jogo fraco, vou dizer uma verdade que oiço a certos comentadores: o jogo teve duas partes! Não sei como nunca tinha pensado nisto! Na primeira, dominou o Sporting que chegou ao intervalo a ganhar com justiça apesar de ser com um golo ao calhas. Ninguém acredita que o avançado do Sporting fez aquilo de propósito, nem ele, porque se vê claramente que ele fecha os olhos antes de rematar. Um primor! Pode jogar no Euromilhões!
O árbitro esteve bem no sentido que não interferiu no resultado do jogo. Mostrou um amarelo justo ao Maxi Pereira que foi infantil e não expulsou o Wolswinkel (isto não se escreve assim, mas não me apetece ir ver, aliás, não é nome que se ponha a uma criança) como devia ter feito por entrada traseira e bárbara sobre um indefeso jogador das águias. Hihihi…
E pronto, venha o próximo que este já está.
É Este o Espírito!
Por muitos a zero!
Querida mana,
O pai sentava-se na sua mesa, fazia contas, lia o jornal, escrevinhava papéis ou abatia-se sobre os braços e adormecia profundamente donde só acordava para comentar o que se estava a passar na tv como que anunciando “eu estou aqui, não estou a dormir”. Mas estava e isso não tinha importância nenhuma. A mãe sentava-se costurando uma coisa qualquer, fazia um bolo, conversava ou escapava-se para o quarto, ali mesmo ao lado, donde emergia sonolenta para fazer algumas das coisas que ainda agora referi. Nós andávamos pela sala, no chão, debaixo das mesa, como se esse território nos pertencesse em exclusivo. Espreitávamos a televisão e sobretudo, brincávamos.
s casos nunca se resolviam na tv, não se ganhavam os jogos antes de começarem nem depois de acabarem, e havia sempre muitos golos. Ser do Benfica era, na altura, o mesmo que ganhar por muitos a zero. E, na segunda-feira, todos discutíamos as jogadas que não víramos como se as tivessemos visto. E todos tínhamos certezas. Era o inefável poder da imaginação despertado pela rádio. Havia mesmo alguns de nós que conseguiam dizer “eu vi bem que foi falta!”.–
O que eu gosto no Benfica de hoje, ou no de ontem à noite, é o despudor com que defende mal, até porque defender não interessa para nada, é a ingenuidade de estar a ganhar por 4 a 0 e os jogadores continuarem a correr como se não houvesse amanhã, loucos, esses loucos, que jogam à bola como cachopos entusiasmados mesmo quando o resultado já está feito. O que eu gosto no Benfica de ontem à noite é que joga dentro do campo para quem cá está fora. O que eu gosto é do renascer da ideia de espectáculo e do que eu gosto mesmo, acima de tudo, em nome da minha infância distante, é que me devolveu a alegria de ganhar por muitos a zero.
–Querida manucha, este mail era para ser sobre política, sobre a apresentação do novo governo do senhor engenheiro que nos vai conduzir nos próximos anos. Mas quem é que quer saber disso quando o Benfica está a ganhar por muitos a zero?!
–O nosso avô e o nosso pai, lá onde estão, seja isso onde for, estão a gozar à brava. À uma, porque eram Benfiquistas à moda antiga, sem “ses” nem “mas”. À duas, porque têm lugar cativo e não pagam tv. Será que no Céu há cervejinha e tremoços?
Beijo divertido,
mano.






