
Das muitas coisas que aqui há, mercearias é uma delas. Logo à partida, a mercearia do senhor Horácio. Muito vivido, muitas experiências atravessaram aquele corpo, até que matou um cancro da próstata por um método que eu nunca ouvira falar.
A mercearia não tem nome. Em vez disso tem uma campainha que se toca quando a porta está fechada. E tem outra coisa, miraculosa, juntou toda a família a volta da mercearia. Amanham a terra, volvem cada grão com as suas mãos, descascam, secam, e põe à venda. Parece um trabalho pouco rentável, mas bem vistas as comissões, há um número vasto de consumidores.

A mercearia é muito austera, tem os produtos, não tem multibanco nem MBway, mas tem sempre as histórias do senhor Horácio.
Há dias quis comprar tangerinas, e ele, Tem aqui as do Algarve, e lá fora tem as nossas, que são mais baratas. Eu, ia jurar que não tinha visto tangerinas lá fora. Procurei, procurei, até que disse, Não tem aqui fora tangerinas, ele, com o seu malandreco, que já enganámos outro, na árvore, senhor, na árvore. E lá fomos os três apanhar que tangerinas. Ao que ele disse bem, a propósito, Mais frescas do estás vai ser difícil. E assim se fez a manhã, com parte delas pesadas, e outra parte já no bucho.
É assim, no Coimbrão, há várias coisas interessantes, mas uma mercearia com o senhor Horácio, e onde se apanham tangerinas só há uma.
jpv