Ontem, foi uma noite marcada pelo imprevisto, e por esse carismático concerto de André Rieu.
Tudo é especial, os convidados, um touro à solta pela sala e tantas outras surpresas.
À entrada para o pavilhão, uma das moças reconheceu-me, disse o meu nome, e acrescentou, Foi o melhor director que houve naquela escola. Enfim, não fui director, mas aquele abraço e o reconhecimento, valeram por uma vida
Fecha-se hoje um ano após o meu AVC. Nunca pensei que um ser humano pudesse mudar tanto. Há muitas coisas que vos queria contar… mas deixo isso para um livro. Sim. Vai dar direito a um livro. Os prós, porque os houve, os contra, quase todos… De quando eu não dizia nada, e queria dizer tudo.
Dizia nada, e queria dizer tudo…
Fica um obrigado do tamanho do mundo para a minha mulher CLÁUDIA, e para a minha terapeuta.
Quando tudo começou Eu ainda era um rapazinho Com as mãos voltadas para dentro E um eu maior que o mundo. Foram precisas Muitas horas, Muitos dias, Muita paz, E algumas guerras Para saber que ainda não Não se dizia. Porque não se diz ainda sim. Porque um povo não queria. Porque, afinal, O povo que ama a liberdade É capaz de levantar-se do sofá Para dizer basta!
E precisamente aqui onde estou sentado, que quero estar. E é precisamente com estas pessoas que me quero dar. Ao contrário do que possam pensar, não é um raciocínio exclusivo de tirar uns para fora e meter outros para dentro. A vida, no último ano, forçou-me a uma série de opções, que atos de acolhimento quero, e, vi o que então já vira, mas na carne dói muito mais. Uns a sair por ordem das circunstâncias, outros a não se aproximar, para não empatar, e outros sumiram da minha vida tão depressa quanto entraram. Outros, até, inventaram chatices no trabalho para dizerem o que já se sabia que iam dizer.
Quando se sofre de um AVC, há coisas que partem para não voltar, há coisas que partem para voltar, poucas, estas, e há uma miríade de coisas que partem para regressar diferentes. De tal forma que as pessoas dizem, enganadas, que nunca mais foram os mesmos. Foram. Os mesmos, nunca deixamos de o ser, passe por nós o que passar, continuamos a ser nós. As coisas é que mudam. E muda sobre elas a perspetiva que tínhamos.
Quando tive o AVC não dizia uma palavra. Não era dizer pouca. Não dizia uma. O atendimento foi o que tinha de ser. Era Cabo-Verde, país bem diferente do nosso. Conheci por lá umas boas almas. Mas decidi vir-me embora.
Decidi apaixonar-me por Leiria. Sobre isso vos falarei mais adiante.
Hoje quero aqui destacar quem me salvou a vida. Foi a Cláudia Videira. Sabes, eu sei o que tu fizeste. Decoraste as passwords todas, aprendeste a levantar dinheiro, conduziste o carro a quem se tenha de abrir uma porta para de fechar um janela, tratastes das coisas do seguro de viagem, dos médicos, dos terapeutas, caiu-te o mundo em cima, e, mesmo assim, mentias-me como se não houvesse amanhã: sim, estava com bom aspeto, daqui a nada estás lá na escola, e contavas-me sobre o que tinham ditos sobre mim, e eu, olhava para ti, como quem olha para um pássaro belíssimo, e perguntava-me tantas vezes, o que é que ela ainda aqui está a fazer? E a resposta chegava sob a forma de um beijo, um de carinho… E faço cinquenta e sete. E sou um exemplo de uma recuperação fantástica… mas não há recuperações fantásticas sem que as fadas e os gnomos espalhem as sua magia. E eu vi fadas e gnomos em volta de mim.
Não sei se farei cinquenta e oito. Nem quero saber. Só sei que quero viver a vida um dia de cada vez, uma aventura de cada vez, um beijo de cada vez…
Há coisas que ficam. Espelhos alma que não somos capazes de os tirar e, ao mesmo tempo, reconhecemos que outra coisa, quiçá mais vistosa e atual, ocupasse bem o espaço.
Deixá-los ficar… pode ser que um dia destes alguém os tome como exemplo, e os ponha em prática. São na nossa escola… onde mais…
A nova escola não deixa de apresentar surpresas das boas. Até parece que os conflitos e as defesas de um argumento melhor ficaram lá fora. Pelo menos, para mim ficaram. Mas, em todo o caso, não é uma escola conflituosa. Isso respira-se.
Hoje quando cheguei, deparei-me com três visitas inesperadas.
Uma mulher belíssima que veio à escola para tomar o pequeno-almoço. Natália Capa, de seu nome, tem muitos quilómetros desta coisa a que chamamos pedagogia. Chegou a dar dactilografia no tempo em que se vivia disso. Trato fácil, acentuado pela idade que nos traz um posto. O de dizermos e fazermos o que bem queremos. Quem olhe para Natália, não diz que a escola a tratou mal.
Ainda, estava a tirar partido da presença agradável de Natália, quando conheci Fabrício Cordeiro. Hoje é o dia Internacional da Música, e, homenagem singela, mas significativa, trouxe-se à escola um compositor e intérprete de piano para tocar e espicaçar os miúdos a tocar também. A música é natural, sai-lhe das mãos com a nitidez com que queremos e a harmonia casa muito bem com os nossos ouvidos.
E, a terceira, mas não menos importante, chama-se Joana Antunes. Lá começou a medo, não queria tocar por não saber, se a música se lhe entretinha nos dedos vagarosa, a voz sobressaia nas agudas e nas graves como se tivesse o mundo na mão. E tinha.
Eu, que estava com a Rosa e o António, lá fui dizendo que esta era uma escola muito agradável. Um deles disse-me, Tu estás é muito feliz aqui!
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