Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Paradiso XI

As cadeiras abandonadas

Sempre.

A paisagem é o mar,

Sempre o mesmo mar.

E as rochas

Acolhendo as bátegas

Com mais ou menos força.

Uma ave passa

De quando em vez,

O grasnar

Cortando o silêncio.

Tudo isto é verdade

E tudo isto

Tem uma repetição

Que não é própria

De um paraíso…

Falta-lhe vida…

A vida da savana!

Dos animais que se perseguem,

E comem, vorazes,

A presa.

E calmos,

Quando é preciso

Estar calmos,

E suados

Quando precisam

Suar.

E aquele, lá no alto,

Redondo,

E vermelho como nunca…

O Sol.

Quando chegarem a um local

Se o Sol não vos ferir

A sensibilidade

Ainda não é

O Paraíso…

jpv


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Paradiso X

Pardais.

Trepam todas as superfícies.

Ainda há pouco

Subiam a escada

Pelos caminhos

E ao mesmo tempo

Pelos degraus.

Enquanto um espiava

Os restos deixados

Numa mesa.

Outros debicavam

Uns grãos

Outros no chão.

E por fim,

A coragem de ir a uma mesa.

Dormem, às dúzias,

Por sob as palhas

Dos chapéus-de-sol.

E regozijam na grama

Da hortelã.

E por fim,

Uma pausa

Para interrogar-me

Porque um paraíso

Só tem pardais,

Só pardais.

Pardais.

jpv


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Paradiso IX

Em todo este

Cinza,

Passou, isolada,

Uma ave

Que não sabia

Para onde fosse.

Tinha uma rota,

Parecia bem definida

E cruzou à minha frente

O seu certo caminho.

Acontece,

Momentos depois,

Duas passaram

Para o outro lado.

Por fim, soltou-se

A Lua,

E o quadro

Fez-se completo.

jpv


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Paradiso VIII

As cadeiras continuam abandonadas

E chega, aos meus pés,

Um restolhar

Do mar

E rocha

Que dão o descanso.

Bate e bate e bate,

E de novo bate,

Como se estivesse

A castigá-la.

Mas os beijos

Do mar,

Se vem de lá tão longe,

Hão de ter essa profundidade,

Essa paixão,

Ressonada na rocha

Que o acolhe.

jpv


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Paradiso VII

Aqui ao pé

É um mar

Só.

Fugiram todas as aves

E os peixes

Foram dormir

Lá para o fundo.

Sobra este mar

Cinzento.

Até lá,

Junto ao horizonte

Onde as marés viram

E depois, só há dragões,

É neste momento do dia

Que penso

Porque não?

jpv