Tenho comigo Os abraços que quero. Tenho comigo os olhares De ternura que não dispenso. Tenho comigo Os sentimentos que sinto E os pensamentos que penso.
Não sou incompreendido Porque seja incompreendido. Quem me não compreende Escolhe não me compreender. As minha dores são só minhas. Ninguém me faz sofrer Dores órfãs. Escolho cuidadosamente As dores que quero sofrer. Adoto-as e acaricio-as Como a um cachorro abandonado. Só. Absolutamente só. E de pé até morrer.
Nasci desamparado Como todos nasceram desamparados. Vivo isolado Como todos vivem isolados. E, quando morrer, Não terei tombado. Sou o homem vertical. O cadáver que incomoda. A consciência ausente e justa Da podridão impune. A coisa fora de moda Que se despreza E se escarnece. Sorriso fétido Que apodrece.
Essas criaturas nojentas E alapardadas Não precisam que lhes diga Que estão erradas. Elas sabem que estão erradas. E persistem…
E a nau, Ondulante e silenciosa, Passa certa e vagarosa, Por esses sargaços de gente. Burro cego e impotente Como o país do Almada. O único onde há chegada Sem ter havido partida. O único, onde recebe a medalha Quem não correu a corrida.
AAhhh! Puta de vida. Pudesse eu lavar-vos da lama Sem me sujar nela. Pudesse denunciar Sem se denunciar, A sentinela.
Adio-me No adeus. Há dias em que vivo E há dias em que morro. E há dias em que contemplo A paisagem decadente. E há dias em quem me afasto. E há dias em que me despeço de tudo isto E minh’ alma sorri e alegra-se.
E volto aos braços que me querem E aos olhares que me ressuscitam.
A Cristina, que anda zangada comigo, faço-te queixa, a ver se conversas com ela, hoje, numas momentâneas tréguas, disse-me, João Paulo, tens uma coisa na tua secretária. Espero que seja boa, repliquei curioso. Ora, sabendo eu que ela sabia que, uma vez chegado à secretária, teria de ver a coisa, inferi que o realce justificaria algo de importante e significativo, independentemente da natureza. E era. Era o teu livro.
Fiquei ali a soluçar, com duas lágrimas impertinentes a roubarem-me o estatuto de homem forte. O teu livro, porra!
É uma obra muito especial. Faz-te justiça de muitas formas diferentes. Profissional, ética, reivindicativa, equalitária, social, política, sindical, solidária, e, sobretudo, humana. São palavras dos teus amigos e das pessoas que te admiram e respeitam e amam. São palavras simples e profundas.
E tem uma carrada de fotos onde brilhas com o teu olhar incisivo, provocador e doce. E está cheio de África. Como tu adorarias.
Sabes, depois de o ler uma vez e outra, senti paz. Senti como se um ciclo se tivesse fechado. Como se algo incompleto se tivesse completado. Como se, de repente, já não precisasse mais de andar preocupado com algo que me atormentava: a justiça para contigo, a tua figura ímpar, a tua pessoa única. Acho, mas não tenho a certeza, que esse sentimento vivia em mim por teres partido tão repentinamente e por ter-te acompanhado de forma tão próxima naquelas últimas horas.
Há muitos agradecimentos a fazer, ao SPN, à Maria José, ao Baldaia, ao Borges, e a tantos outros. Mas eles não querem agradecimentos. O que eles querem é o mesmo que eu: que se preserve bem viva a memória de ti e tudo o que representas para nós e o Mundo em que vivemos. Tentaremos estar à tua altura, fazer justiça ao teu legado. Tarefa nada fácil. Ergueste a fasquia bem alta.
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