
GEORGES MELET (GETTY)
Não se assiste impunemente
Ao sucumbir de uma alma.
À chacina violenta de um espírito.
Não se educa para a morte,
E menos ainda para a subserviência.
De resto, a morte é sempre preferível
À subserviência.
É uma questão de decência
E ética pura,
Não habituar as almas brevemente nascidas
Ao peso ignaro da censura.
Respeite-se quem quebra as regras.
Respeite-se quem desrespeita.
Respeite-se quem não se verga.
Respeite-se quem corre o risco e espreita
A paisagem proibida.
E não lhe chamem futuro, senhores.
A dignidade quere-se hoje.
Hoje, é já tarde para a dignidade.
É já tarde para ensinar a sonhar
E ir mais além.
Não sabe ensinar
Quem pergunta e quer ouvir o que ensinou.
Professor… professor a sério…
Olha para trás e vê o aluno que se revoltou.
Não vê a matéria…
Vê a transformação.
Quem ensina
E quer que se aprenda
Não sabe o número da lição.
Não deu lição.
A Educação não pode ser uma esmola.
Tem de ser um foguetão que não existe,
Um disparo de pistola
Com uma palavra em riste.
Uma conta errada.
Todas as contas certas estão erradas.
Tem de ser a aurora boreal num cálice de sonhos,
Um poema letal antes das emboscadas.
Uma alma livre vagueando
Na madrugada de uma cidade adormecida.
O segredo da juventude eterna.
O resgate e a redenção da vida
À porta de uma taberna
Cheia de doutores com beatas sob os pés.
Diz-me o que és
E dir-te-ei quem não quero ser.
Cadáver ambulante,
Morto antes de morrer.
Grita, berra alto, grita!
Até que fiquem surdos
Os detentores do saber
E quem te dá conselhos
E esfrega as mãos ao ver-te falecer.
Era bom rapaz!
Vês?!
Antes nunca o tivesses sido.
Antes tivesses parido
Uma cesta de incómodos
E sete armários de preocupações.
Mete-te em confusões
E faz tudo ao contrário
Do que te pedem.
Por baixo dos fatos cinzentos
E das maquilhagens de marca
Todos os corpos fedem.
Fá-los pagar o preço
Deste Mundo que te deixaram.
Desobedece!
E quando vierem à tua procura,
Não fujas!
Não sejas vítima!
Ergue a cabeça e aparece.
Ergue a voz e fala.
Ordena e cala.
Faz-te comandante
Do único navio que vale a pena comandar,
Da única viagem que vale a pena fazer,
Da vida que vieste viver.
Se não percebeste isto,
Já morreste
E ninguém te veio dizer!
jpv