
Estão a ver aquela planta,
Não sei como se chama,
Quando éramos miúdos,
Soprávamos só para a ver desfazer-se
E fugir-nos no ar
Enquanto lhe colocávamos
Uma mão por baixo
Como se a fossemos apanhar.
Não sei, sequer,
Se é uma planta ou uma flor.
Sei que fazíamos jogos de amor
Com o que restasse dela,
O que sobrevivesse ao sopro.
Não me ocorreu, na altura,
Poderia ser de intensa dor
Aquele voo inútil e desnecessário.
Nunca mais vi a plantinha,
Nunca mais me cruzei com ela.
Talvez a vida esteja ao contrário
E o meu destino seja afinal como o dela.
Meu pai já morreu.
Minha mãe foi a sepultar.
Meu filho vive lá longe
Onde a neve cair devagar.
Estão com ele meus netos.
E há outros queridos entes
Anónimos por entre as gentes
Mas ainda a acordar meus afetos
Que esvoaçam como a plantinha.
Graciosos, desordenados, distantes…
E com uma mão por baixo.
E é isso que não percebo
Neste universo:
Se foram eles que se dispersaram,
Ou se sou eu
Que ando disperso…
jpv