Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


2 comentários

Não Quero!

Morre-se de abandono…
As mãos ao longo do corpo abandonadas.
Abandonado o olhar ao ponto longínquo da desistência.
Os argumentos e os contra-argumentos abandonados ao ouvido alheio.

Morre-se de abandono…
O desapego da ignara prepotência.
A desconfiança da religião e da ciência.
A vida escorre lenta e difusa como um sonho no sono.

Morre-se de desumanidade…
Não creio, já, em poetas e profetas.
Não creio na marcha dos líderes nem dos falsos exegetas.
Não creio no Homem nem na Humanidade. Abjuro a Pólis, a Urbe e a Cidade.

Assisto, consciente e incrédulo,
Como se, ao morrer, soubesse que ia de facto morrer,
Sem luz nem esperança, nem a salvação que todos alcança,
Só o pensamento falido e austero de uma alma em desespero,
Ao triunfo sonoro e ruidoso da ignorância e da inércia sobre o estudo e o esmero.

Em tudo sinto saudade de como foi.
Não quero querelas, já, que não valem a pena.
Não quero o Saber construído a pulso e suor de pensar para além do já pensado,
Na mesma cama que a jactante e falaciosa opinião. A mesma que rebola pelo chão vazio de uma ideia.

Fico.
Não parto, sequer.
A partida, é já uma corrida perdida.

jpv