



De Rerum Natura
Natal com Basílico
Seria fácil comprovar que o Natal não foi no Natal ou, tendo sido no Natal, deu-se em paragens pouco compatíveis com um cenário gélido de neves, ventanias e chuvadas intensas. Basta reparar nas ovelhas a pastar, no menino nas palhinhas, nas roupas leves dos pais, na luz nas lanternas e nas tochas… enfim…
Acontece que, há muito, o Natal deixou de ser a celebração de um nascimento. É, antes de mais, a celebração de um sentimento. O Amor. A celebração do que o Homem tem de melhor. O Natal não é, há muito, um fenómeno religioso. O Natal converteu-se num fenómeno supra que está antes e depois das religiões. É o símbolo da redenção, da vitória das forças do Bem sobre quaisquer outras.
O meu Natal não tem frio e os símbolos alusivos são escassos. Nada de luzes nas ruas, nem música a relembrar a época, nem montras enfeitadas a preceito. Aqui é Verão. Apetece praia! É tempo de praia. O mais parecido com um símbolo natalício que me aconteceu até ao momento, foi um soberbo gin tónico de… basílico! E sol. E mangas curtas. E ananases. E calor. E coisas grelhadas e cerveja fria e cortes abruptos e injustificados de energia. O meu Natal tem biquínis e piscinas e paira no ar um som de marrabenta e jazz.
E, contudo, não deixa de ser Natal porque o será sempre que alguém for generoso e solidário e colocar a capacidade de amar o próximo antes de qualquer outra. Ontem, no trabalho, um colega dizia, Aqui não tem nada de Natal. Ao que outro respondeu, Mas é Natal. O que respondeu é muçulmano!
O Natal é, entre os Homens, a esperança certa de que há em nós mais bem do que mal, de que, quando instados, decidiremos tomar parte pelas forças benignas. É um espírito que paira. Um espírito entre o humano e o supra humano. Uma energia, uma força invisível, mas ativa, que nos conduz a um sorriso, a um abraço, a um estender de mão, a querermos ser melhores sem razão objetiva. A olhar o outro e vê-lo como igual. Isto é o verdadeiro Natal. Aquele que acontece no nosso coração e procura o outro para lhe dar o melhor que lá temos guardado.
Feliz Natal, caros leitores, amigos e familiares.
Maputo, Dezembro de 2021
jpv