Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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SENTENÇA

A onda, quando bate na areia,
É como a palavra contumaz.
Pode vir outra a seguir,
Mas aquela não volta atrás.

E a chuva, quando toca o chão,
É como a mentira proferida.
Pode vir outra a seguir,
Mas aquela não será recolhida.

E o vento, quando sopra no deserto,
É como a ofensa consumada.
Pode vir outra a seguir,
Mas aquela não será apagada.

E assim vivemos
A triste sequência
Da palavra que mente
E desenha a ofensa
Que a onda não varre,
A chuva não lava
E o vento não limpa.
Essa é a sentença.

jpv


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MATINAL

O mar no horizonte.
O mar é o horizonte.
A graça de olhá-lo,
De contemplar a ondulação
Quase impercetível
Que vem beijar o areal.
A marcha ociosa,
Do espreguiçado tempo
De ter tempo para nada.
As palmeiras disputam
Os segredos de quem passa
E o mar namorando
A areia molhada.

jpv


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TERAPIA

De manhã, ao acordar,
Assim que a luz
Me vem visitar,
Desce um frio que renova e regenera.
Entra na carne
E no espírito
E deixa tudo mais limpo e melhor do que era.

E paira uma pureza
No olhar e no sentir,
A nitidez e a certeza
De que a promessa se vai cumprir.

É o Mundo antes do Mundo,
Um clamor antigo e profundo,
Um ritual tantas vezes repetido
E sempre inaugural e renovado.
Nasce um novo dia
Na frescura do horizonte iluminado.

jpv


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TSUNAMI

Já conhecia aqueles silêncios.
Já vivera aquelas hesitações.
Já engolira os gestos intensos.
Já calara outras emoções.

E já entregara as armas
E as depositara no chão
Em outros tempos
E outras contendas.
Já caminhara, só, com o destino pela mão.
Já ouvira as mesmas histórias e lendas
E já divagara por aquele deserto.

Sempre que o mar recua,
o tsunami está perto.

jpv