
De Rerum Natura
Catilina
Não é espanto. Não é admiração. Nem é surpresa. Não é, por certo, zanga… de facto, não se alterou a batida do coração nem um bocadinho. Pouco depois, medi a tensão e estava a 12-6. Normalíssima e aconselhável para a minha idade. De um jovem! Não perdi um átomo de segurança e determinação. E não vacilei. Quando a nossa história é feita de momentos destes, os outros não percebem que, por ser a nossa história, estamos já habituados a todos os cenários, à forma como os olhos se movem, ao som trémulo da voz, ao movimento dos lábios e a surpresa, afinal, não é surpresa nenhuma. É só tristeza. É só uma desolação profunda pelo profundo desequilíbrio que presenciamos a cada gesto, a cada decisão, a cada movimentação… e fico, depois, a olhar o quadro com uma lucidez fria e gélida e pergunto se não sabem que sei. Que sabia. Quando se chega a esta idade e já tanto se presenciou e viu e sabe, cada decisão é pensada e tomada e assumida com ponderação e firmeza e o caminho será sempre o que for e as surpresas são só novas oportunidades que a vida nos abre… ainda ontem… sim… ainda ontem privei com o futuro. E o futuro sorriu-me e disse-me para seguir tranquilo!
jpv