
Primeiro,
Era o papel limpo e branco
Por onde deslizou o traço firme e escuro
Com que desenhaste o sonho e o encanto
De um retângulo marinho sem vedação nem muro.
Riscaste a brisa
Refrescando a pele do homem
Sentado ao fundo da sala ampla.
Muita luz, pouca mobília,
Uma cozinha recheada de imaginação
E um alpendre de conversas para amigos e família.
Emocionou-se o traço
E tremeu-te a mão
Quando desenhaste
O quarto do abraço
Onde semearemos
O amor pelo chão.
Avançou o carvão
No papel antes deserto
E agora prenhe de horizontes e ilusões.
Pensaste nos afetos mais chegados
E, em linhas retas e simples,
Abriste as portas
Dos quartos visitados.
Deixaste a claridade entrar
E as sacadas imensas abertas de par em par.
E com teu traço
Certo de incertezas
Fizeste um passadiço,
Espreguiçadeiras e mesas.
Ficou gravado
Com finas sombras,
Contrastes e nuances,
um breve cantinho
Para os meus romances.
Um a um,
desenhaste cada pormenor delicioso,
Perfumado pelas ondas do mar.
A carvão, recortaste,
Em nossos sonhos,
O edifício de amar.
jpv