
A Palavra,
Algemada,
Saiu à rua,
Caminhou nua,
E foi encarcerada.
Passou um pensador,
Não percebeu tamanha dor,
E com um trejeito na face,
Antes que acabasse
De passar,
Atirou duas ideias
Ao ar
E pôs a Palavra a pensar.
E ela libertou-se,
Esgueirou-se,
E saiu de novo à rua,
Outra vez descarada
E nua
Como se nada devesse
À vida
Nem às gentes.
São assim, certas palavras,
Teimosas e impertinentes.
Brotam à chuva e ao sol
E dão flor e fruto
Vindas de sementes
Sem ascendência nem história.
Crescem na terra árida
E negada
Mesmo com a alma agrilhoada
E a ideia algemada.
Saiu à rua,
A Palavra nua.
jpv