
Uma nau navegava
Em água tranquila
E quase parada.
E o nauta esquecera
A âncora fundeada.
Arrastava-se a embarcação,
Metro a metro,
Dor a dor.
E o nauta ergueu a mão
Para admirar o esplendor.
Era Terra…
Uma terra de promessas,
Vegetação ardente,
Areia alva nunca pisada.
E a nau sem pressas…
Acorda-lhe uma emoção no peito,
Põe a voz a jeito
E dá a ordem inaugural.
Mas a âncora estava ali,
Adormecida e fundeada.
A nau imóvel,
Na ilusão do sucesso,
Não tinha ida
Nem regresso.
E o nauta gritava incitações,
Pedia dados e explicações
Para tal imobilidade
Na visão do Paraíso.
Perante tudo o que um nauta quer,
Como poderia estar a nau imobilizada.
Um homem soturno e cobarde
Segurava a âncora fundeada.
Recebeu ordens para a içar,
E não respondeu nem agiu.
Outro marinheiro o viu
E foi afastá-lo.
Mas o homem era já só
Um hirto corpo
De olhar fixo e morto
No passado.
A alma vazia e desesperada,
Em âncora convertida,
Pesada, inerte e fundeada.
A ilha se desvanece,
O ânimo do nauta perece.
A tripulação insurge-se, irada,
E é assassinado o marinheiro
Da visão inalcançada.
A âncora permanece
Inerte e fundeada.
jpv
18/05/2020 às 23:55
Ola amigo!! Mais um relato real e absoluto dos passos que deixamos por dar devido àquilo a que, simpaticamete, se pode chamar de âncora. Eu costumo chamar de raizes, mas vai dar no mesmo.
Para não chamar cobardia, podemos dizer cautela. Mas, a verdade, e que um barco ancorado nunca conhece o seu verdadeiro destino.
Adorei!
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19/05/2020 às 07:24
Obrigado pelo teu comentário. Brilhante, como sempre!
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