
Arde no peito
Quando os rios
Correm ao contrário.
Quando não são minhas
As carícias no teu corpo.
Quando tudo o que vivia
Jaz frio e morto.
Quando a brisa não corre
E a cria no ninho
Arrefece e morre.
Chega uma revolta surda
E inquieta
Quando não há alvo
Para a seta
E se perde o rumo.
Quando a canção
Dolente e romântica
Me agride o ser e a existência.
Não há, para este mistério,
Lógica, equação, nem ciência
A não ser a do desespero.
Tudo o que desejo e quero
Vive noutros vales,
Acorda outras manhãs,
Ama outros universos.
E, para mim,
Poeta da solidão,
Ficam só os versos,
As palavras que não te tocam,
Não te acordam o ser
Nem a memória dele.
Não há vida possível
Para esta morte.
Tratado de revolta,
Poeta sem caminho nem sorte…
jpv