Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


2 comentários

Ensina-me o Amor

“Grito de Paz” por Naguib Elias Abdula

Meu amor,
Quando tal não te importunar,
Hás de ter um tempo para me ensinar
As palavras que te excitam e incendeiam.
Hás de dizer-me os verbos
Que inflamam no teu corpo
O desejo de mim.
E hás-de esconder-me os que põem fim
À tua volúpia
E a essa vertigem húmida e desmesurada.
Quando, um dia destes, estiveres bem disposta,
Com o humor e o amor de feição,
Hás de ensinar-me os gestos que fecham a intenção
De ter-te sob o meu suor.
Onde queres que vagueie minha língua
E passeiem minhas mãos.
Onde podem perder-se meus lábios…
E hás de ensinar-me, meu amor,
Os perigos a evitar.
Hás-de dizer-me os rituais,
O olhar inaugural
E as carícias finais.
Tens de ter um tempo
Para ensinar-me o acordar pela manhã
E o deitar abraçadinhos
Quando chega o anoitecer.
Tens de ensinar-me o Amor
Para eu não esquecer
Essas coisas pequenas e aveludadas,
Esses imensos nadas,
Essa lição de amor,
Esse ter-te para te não perder.
Ensina-me, meu amor,
Para eu aprender
O que vive em mim.
E escreve esse sumário de êxtases
Na minha pele.
Vem dizer-me o que queres
Como se fosse um pedido
E ensina-me a dar-to.
Ensina-me como parto
De mim para te encontrar.
Ensina-me, meu amor,
A lição de te amar.

jpv


Deixe um comentário

Paisagem com Sol e Breu

Desliza a água calma
Tingida de lama.
As aves profusas
Entoam seu canto,
E as bestas lânguidas
Reviram-se no rio
Como na cama.
Soa um timbre amistoso
Fundido num longo abraço.
E o corpo,
Que cedia ao cansaço,
Reergue-se deste milagre
Para se reencontrar
Com o Universo.
E há distâncias, sim…
E que culpa tem disso
O canto chilreado das aves,
Ou o verde idílico da paisagem?
A vida é uma solitária
E singular viagem
Onde tu estás.
E em cada esperança que morre,
Em cada olhar que jaz,
Em teu peito
Nasce algo de meu.
Que culpa tem o sol
Que haja noites de breu?

jpv