Os Rios Não Correm Para Trás

Andaram tenteando intenções, mesmo sabendo que, fossem quais fossem as intenções, nunca lhes vestiriam a roupagem das ações. Conversaram na periferia da tentação, na escuma espraiada do desejo quando a onda já se foi embora. Outra virá. E aquela tensão entre o querer e o poder nunca se fez palavra, nunca se fez gesto.
Um dia, de frente para uma paisagem idílica, com um rio manso e animais bebendo na orla, ele aproximou-se por trás dela, sentada no banco do miradouro, e fez-lhe uma breve massagem nos ombros. E aqueles trinta segundos foram a sua eternidade. Depois, sentou-se a seu lado e ficaram os dois olhando a paisagem em silenciosa contemplação enquanto se reerguia entre si o muro. Foi um silêncio eloquente, jogaram-se ali todas as promessas imaginadas, todas as intenções, todas as hesitações e as impossibilidades todas.
A história não tem um final feliz. Foram às suas vidas, a ser quem acreditavam e podiam e deixaram tudo o resto para trás. Não voltaram a falar-se. Não voltaram a olhar-se nos olhos luminosos e húmidos. Guardaram de si a memória doce e fugaz daquela massagem de frente para o rio. Um dia, essa memória esfumou-se.
jpv