Poesia das Palavras Indizíveis
Pediatria
Era negra, a menina.
Era negro, o destino.
Era negro e franzino
O gajo atrás do vidro.
E desfalecia, a menina.
Desfalecia, a vida
No vórtex da indiferença
De uma fila comprida.
Tempo de desespero,
A mãe com a criança
Entre os braços.
Estreitam-se ainda mais
Os já muito estreitados laços.
Um olhar triste.
Um olhar conformado.
Um olhar sem revolta
Na revolta de um olhar molhado.
E uma espera.
Uma noite longa e quente.
Um corpo pequenino e indefeso.
Um homem distante e ausente.
Sem piedade,
A urbe adormece,
Embalando nos seus braços
As teias que a vida tece.
E há dor.
E há vida e luz.
E há destinos de outra gente.
Gente que a gente produz…
E abandona às trevas da morte.
jpv
