Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Crónicas de Maledicência – As 50 Parvoíces de João Paulo Videira

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Crónicas de Maledicência – As 50 Parvoíces de João Paulo Videira

Levantei-me cedo, passei pelo duche e depois pelo espelho, olhei as curvas esculturais do meu corpo. Aqueles vinte quilos a mais vinham mesmo a calhar. Davam-me volume. Lavei as mãos, fiz xi-xi e saí para a rua com um olhar lânguido para o indicador de combustível. O tanque, tal como eu, estava cheio.

Fui ao ‘Builders’ da Matola. Comprei um berbequim de 1200 watts, uma serra manual, 5 metros de corda, uma catana, uma caixa de parafusos de 12 milímetros e outra de buchas, dois ganchos tipo arnês, um tubo de silicone, um par de luvas de pedreiro e um martelo. Regressei em excesso de velocidade, tinha um enchumaço entre pernas, levei a mão ao dito, era o porta-chaves. Cheguei a casa, dirigi-me ao quarto, ela esperava-me com seu corpo de mulher de vinte e quatro anos vezes dois, estava húmido e brilhante, lá fora o sol brilhava, 38 graus centígrados e 87% de humidade relativa do ar. A conversa não poderia ter sido mais explícita:

– Então, vens remodelar o quarto?
– Não. Venho fazer amor à moda de Grey.
– ‘Tás parvo!

E bazou.

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Venho falar-vos do que não conheço e também do que conheço. Não li o livro. Não conheço. Ainda não vi o filme. Ainda não conheço. Tenho lido as reações pró e contra e não posso ficar-lhes indiferente. Conheço. Se é verdade que aquele tipo de literatura não me atrai, não me cativa, tenho de admitir que já teve duas virtudes. Pôr toda a gente a falar de sexo sado-masoquista e bondage e nossa sociedade precisava disto pois já que temos de ser masoquistas por via da crise, ao menos que o sejamos na cama. A outra virtude, ao que dizem, foi ter dado a conhecer ao mundo a filha do Don Jonhson. Ora, eu devo ser um tipo antiquado, mas assim muito antiquado, mesmo mais antiquado que o Marquês de Sade. Eu explico. O sexo, na minha mente retrógrada, tem a ver com amor e com prazer. Muito prazer. Ora, tanto quanto me consegui informar, o sado-masoquismo o o bondage têm a ver com dor. Seja lá porque razão descabida for, o meu cérebro tem dificuldade em associar a dor ao prazer. Já, por outro lado, o meu cérebro associa o sexo a libertação o que, quer queiramos, quer não, não combina muito bem com algemas. Da última vez que verifiquei, as algemas eram umas cenas metálicas que serviam para prender criminosos. Mais uma vez, há uma ligação que tenho dificuldade em fazer: associar o sexo ao encarceramento. Então mas somos amantes ou criminosos? O que me dá Vigor não é a companheira com as mãos amarradas, é a companheira com as mãos livres para… sei lá, fazer coisas!

Se eu não percebo porque é que? Percebo. Mas temo as consequências. Imaginemos que um casal vai para um hotel, ela amarra-o à cama com as algemas e na hora de o libertar aquilo encrava ou a chave parte. Tomba uma sombra de Grey sobre aquele casal. É que a próxima vez que estiverem juntos, vai ser quando ela regressar da rua com um serralheiro. Mas há mais. Estou mesmo a ver escoriações por via de cordas super apertadas, chicotadas que foram além da força, Ups, querida, desculpa… vou buscar um pouco de algodão e álcool para desinfetarmos isso, chapadões que eram para ser na face e acertaram na vista e mesmo, sabe-se lá, a metade do chicote que ficou partida e presa não sei onde, mas onde não chega muita luz e coisas do género. As casas de artigos de construção e carnaval vão esfregando as mãos de contentes, mas a malta do Sistema Nacional de Saúde anda preocupada. Já não bastavam as Urgências cheias de gente a desfalecer de gripe e outras doenças sérias, quanto mais agora terem de ajudar casais que resolveram virar-se à bordoada uns aos outros durante o ato. E com adereços! Ah Xôtor, o meu marido estava a mudar uma lâmpada, desequilibrou-se e caiu sentado em cima da garrafa de cerveja, veja lá o Xotôr o azar!

Mas há mais… nem tudo é negativo. Até aqui, os cônjuges que gostavam de uns filmes pornográficos, andavam à socapa uns dos outros em pesquisas na Internet para as teses de mestrado e doutoramento. Agora, já podem dizer que estavam a ver o clip promocional das “Cinquenta sombras de Grey” e, bem vistas as coisas, podem fazer a investigação juntos e coiso e tal, mas deixem-se de brincadeiras com adereços.

Se as relações entre as pessoas, no plano horizontal, podem ficar aborrecidas? Podem. Mas não é preciso arranjar escoriações para que as mesmas recuperem o interesse. Um jantar à luz trémula e amarelecida das velas, umas pétalas de rosa na cama, uma musiquinha de fundo, um fim de semana em que se entregam os crianços à avó e se vai a um SPA ou a um hotel super romântico. Caro? Há quem ache isto caro? Então experimentem pagar a um serralheiro para desencravar umas algemas e fingir que nunca o fez, experimentem perguntar quanto é que custa encontrar a metade do chicote ou os restos da garrafa de cerveja… isso é que é caro.

E agora, se me permitem, vou-me daqui que a patroa aguarda-me, plena de sensualidade. Brrrrruuuuiiiiiimmmm, brrrrruuuuiiiiimmmm… (tentativa de reproduzir o som de um berbequim)

jpv

 


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Vermelho Direto – Claques e Presidentes

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Sejamos diretos e frontais.

1) Eu sou contra todo o tipo de claque de futebol organizada e apoiada por um clube. Esse tipo de organização nunca trouxe nada de positivo ao futebol português e, por mim, poderiam e deveriam acabar todas.

2) Eu abomino o que se passou no pavilhão da Luz, nomeadamente, a evocação, através de uma tarja, de um dos mais trágicos e condenáveis incidentes, a meu ver a configurar um homicídio, do futebol português.

Dito isto. Tomando estes dois pressupostos para início de conversa, não me parece que qualquer clube dos grandes, e não só, possa acusar os outros. A verdade é que todas as claques já perpetraram atos de violência inomináveis. E, sim, um dos mais recentes foi a vandalização do estádio da Luz por adeptos sportinguistas que queimaram umas centenas de cadeiras. Nunca ouvi uma declaração pública de repúdio como ouvi esta semana por parte do presidente do Benfica em relação à abominável tarja. Penso que Luís Filipe Vieira esteve muito bem em relação ao que disse e quando disse. Se eu fosse sportinguista, também gostaria que ele tivesse dito mais cedo, mas a verdade é que estava uma investigação a correr e esses processos requerem alguma prudência. De resto, o presidente do Benfica tocou no ponto certo da ferida: o problema não é esta ou aquela claque, o problema que é preciso atacar é o da violência no futebol. E, no seu discurso condenou claramente o ato. Isso é inequívoco.

Bruno de Carvalho esteve igual a si próprio: mal! Dificilmente estaria pior. Cortar relações em vez de unir esforços, culpar um adversário para branquear um empate que compromete o título, são marcas de atuação que, infelizmente, já vão sendo hábito no atual presidente do Sporting. Quase apetece perguntar com quem é que ele ainda não cortou relações dentro e fora do Sporting? Bruno de Carvalho não veio para acrescentar nada ao futebol português, veio para destruir. E tem conseguido. O Sporting, por exemplo, está de rastos. O treinador não tem paz, está uma pilha de nervos, os jogadores andam perdidos em campo e não, não jogaram bem contra o Benfica, se tivessem jogado bem, tinham ganho por vários a zero porque o SLB, infelizmente, esteve muito fraco, mas suficientemente forte para marcar quando precisou, e toda a estrutura anda em ansiedade. É vê-los a comemorar golos contra o Penafiel, o Arouca e o Belenenses como se fossem os golos das suas vidas. É vê-los a serem campeões dos empates. É ver a figura ridícula e humilhante que um, outrora, muito bom guarda-redes, fez ontem no jogo contra o Belenenses. Patrício, que não merece, foi a imagem de um Sporting instável e esfrangalhado não obstante ter um bom punhado de jovens jogadores. Inácio um excelente ex-jogador e ex-treinador era, no banco, a imagem do desespero provocado pela instabilidade e pelo desacerto da equipa.

Penso que os tipos da claque que colocou a tarja deveriam ir a tribunal, cumprir pena de prisão e nunca mais pôr os pés num estádio de futebol.

Penso que Bruno de Carvalho deveria ter um assomo de consciência e sumir de mansinho.

Penso que Luís Filipe Vieira está obrigado a levar o inquérito e a investigação até ao fim e a identificar e banir os culpados para fora do SLB.

Tenho dito!
jpv