Vermelho Direto – O Ouro da Bola
Esta crónica não é sobre futebol. Não é sobre a bola de ouro. É sobre o ouro da bola.
Se fosse sobre futebol, seria uma qualquer análise acerca do atual momento futebolístico, mas isso arruma-se em três penachadas. Penachada Primeira: toda a gente merecia ir em primeiro, mas quem vai é o SLB. Ou seja, mais do mesmo. No campo, que é bom, perdem pontos. Nos jornais e nas redes sociais são os campeões da conversa da treta. Penachada Segunda: A taça, ou vai para o SCP ou para o SCB. Ou seja, este ano o troféu será entregue a um daqueles clubes que, briosamente, costuma ser o primeiro ou o segundo dos últimos. Penachada Terceira: A taça da liga é uma incógnita e a Europa não vai dar em nada. Antes desse.
Se fosse sobre a bola de ouro, seria um corropio de elogios ao CR7, que muito admiro na sua profissão. Leva tudo a sério, prepara-se como ninguém, é ambicioso, mas mantém a humildade dos nobres. Eu penso que não se deve cair na tentação de comparar o CR7 com Messi. São universos diferentes, matérias diferentes. CR7 é todo profissionalismo. Messi é mais circo e vedetismo.
A crónica de hoje é sobre o ouro da bola. Essa filigrana de valores tantas vezes esquecida. Por baixo da merecidíssima primeira página que o jornal A Bola dedicou à conquista de CR7, surge, em letras pequeninas, uma notícia sem importância quase nenhuma para quase toda a gente, mas que mudará a vida de milhares de crianças. A Fundação Benfica vai construir em Cabo Verde, terra recentemente assolada pela catástrofe natural, uma escola com capacidade para 600 crianças! Há os que dizem que ganham tudo, há os que dizem que mereciam ter ganho tudo, há os que dizem que têm as melhores equipas, há os que dizem que formam os melhores jogadores, e depois há o Benfica. No meio de todas as competições, atingido, como todos, pelas condições financeiras débeis da conjuntura mundial, o SLB consegue olhar para o lado e desempenhar um trabalho humanitário, solidário, em prol do futuro dos jovens a quem o futuro parece não sorrir, e dedicar-se a uma causa tão nobre que, essa sim, merecia primeira página. Mas não teve. E nós, benfiquistas, não nos incomodamos nada com isso. A história do SLB não é feita só de primeiras páginas. É feita da nobreza das páginas todas. Obrigado Benfica!
jpv
