Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Confissão Sim, Sim…

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Aos leitores de MPMI.

Caros amigos, tenho andado nesta preguiça de escrever porque me enredam as coisas pequenas da vida. E essas, têm poderes maléficos. Os de nos distraírem do fundamental. Este Blogue tem tido umas crónicas, umas erupções poéticas, umas parvoíces… tudo espaçado de dias longos. Os meus leitores e os meus amigos e, garanto-vos, há grande confusão entre esses dois grupos, merecem melhor. E merecem mais.

Sim, sim, as viagens transcontinentais, vida cá, vida lá. Sim, sim, as responsabilidades no trabalho e o volume que ele assume. Sim, sim, a revisão do recentemente terminado romance para que possa publicar-se em breve. Sim, sim, a mudança de casa e mai-los episódios tipicamente africanos que a seu tempo contarei… Sim, sim… tudo isso são justificações válidas, mas são, também, no dizer antigo da minha querida e falecida avó Ana, desculpas de mau pagador.

Hei de dar-vos um conto da série “O Ofício da Memória”.  Hei de trazer-vos novidades acerca do próximo romance. Há de escrever-se um conto da série “Histórias a Preto e Branco”. E hão de ver a luz dos vossos olhos algumas dessas crónicas africanas.

Sim, confesso. A produção escrita anda devagarinho e desleixada. Talvez esteja descansando. Talvez… Mas ando incomodado com esta letargia que ataca de forma severa a minha caneta. Sim, a caneta. Eu escrevo primeiro à mão, depois passo para o processador de texto e finalmente tudo vem morar aqui… Sim, sim…

jpv


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Tenho Palavras

Tenho palavras
À janela da tentação.
Tenho palavras
Bailando na mão.
Tenho Palavras,
Mas não tenho tempo para elas.
Tenho palavras
Que morrem antes de escrevê-las.
Uma viúva de negro
Sulcada de rugas
E desesperada.
Um homem amordaçado
Em princípios e valores
E outro que rouba sem consciência
Nem pudores.
E há um cavaleiro que vem salvar uma donzela.
Emerge da noite
Em luminosa e moderna tela.
E vejo um homem que mendiga
Repudiado
E um outro vivendo incólume
Num conforto roubado.

Tenho palavras
Que não posso dizer.
Tenho histórias
Que não posso contar.
As palavras hão de morrer
E as histórias terão de acabar.

jpv


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Crónicas de Maledicência – E Agora, Europa?

greciaCrónicas de Maledicência – E Agora, Europa?

Lá, onde se inventou a democracia, lá, onde ela parecia estar moribunda e desnorteada, lá, esse povo parece querer tomar conta desse poder e reinventar, com novas linhas, essa mesma democracia. E agora, Europa?

O mundo estava já acomodado à alternância no poder de duas grandes forças. Os nomes variavam, a dança repetia-se. Os gregos rasgaram o livro de instruções e, parece, estão a trilhar novos caminhos. Imprevisíveis. Inusitados. E agora, Europa?

Esse mesmo mundo que se espantou, e ainda anda à procura de saber como se pronuncia “SYRIZA” E Tsipras, discute agora se haverá Euro ou não, se haverá Europa ou não, se haverá Troika ou não, se haverá austeridade ou não, se haverá radicalismo ou não. E agora, Europa?

Os gregos não parecem muito preocupados com todas estas questões. Na verdade, parecem mais preocupados com a sua soberania, com a sua dignidade e com aquilo que eles próprios querem para eles próprios. E isto, este simples exercício de autonomia e autodeterminação, parece estar a incomodar muita gente por esse mundo fora, a mobilizar muita gente por esse mundo fora. E é isto que merece a nossa reflexão. Se tudo isto está tão errado, tão fora das regras, porque aderem as pessoas com tanta esperança à ideia de mudança que as eleições gregas trouxeram consigo?

É verdade que há regras internacionais de funcionamento, é verdade que as regras e os acordos são para respeitar, mas é verdade, também, que foi com essas regras que os bancos e os banqueiros faliram as nações e os povos tiveram de sacrificar-se para pagar esses despautérios ao mesmo tempo que se convenciam as pessoas que a culpa era delas e de viverem acima das suas possibilidades. Dentro desta equação, o que se passou ontem e hoje na Grécia tanto pode ser visto como um desrespeito às regras de funcionamento da Europa, como a salvação e o resgate dessa mesma Europa.

Importará perceber qual a dimensão da determinação do novo Governo grego, qual a profundidade do seu ímpeto reformista e, sobretudo, que ideias tem para alicerçar uma nova ordem. Sendo que, para nós, algo se afigura como óbvio: é mesmo necessária uma nova ordem. Terá custos, naturalmente. Mas ainda não estamos nesse plano. É que os sistemas estatuídos têm tendência a segurar-se e a agarrar-se à sua própria existência. Ainda não aconteceu nada. Isto, ainda é só o começo. Importa ver como o resto da Europa vai reagir à nação que a (re)inventou.

E agora, Europa?

Tenho dito.
jpv


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Olhó Peixe Fresquinho! Em Maputo!

my-sea-peixariaQuando se fala de Moçambique, há três fatores que emergem de imediato na conversa. A simpatia das gentes, as praias magníficas e o peixe fresco.

Quando se cá vive, apercebemo-nos de que as gentes são, de facto, calorosas, de que há praias magníficas pelo país fora, sobretudo a Norte de Maputo, muito a Norte, e de que não é assim tão fácil encontrar o tal peixe fresquinho e fabuloso porque a oferta é muita, diversificada e nem toda de qualidade.

O Leandro Santos e a Mara Herequechand, algarvios, ela nascida em Moçambique, chegaram há um ano à Capital moçambicana e trouxeram-lhe o que tanta falta fazia: uma peixaria gourmet, com atendimento simpático e personalizado e peixe de qualidade suprema. Na Peixaria My Sea, até pode escolher o peixe de olhos fechados. Acerta sempre!

E depois há aquela bancada tão típica e sempre tão deliciosamente preenchida.

A Peixaria My Sea fica na avenida 24 de Julho, junto ao Ministério da Educação, do outro lado da avenida, e aguarda uma visita sua. Não vai arrepender-se!

Entretanto, contou-me um passarinho que, em breve, a My Sea vai ter… sushi! Isso mesmo, o cliente escolhe o peixinho e o sushi é preparado ali à sua frente. Depois leva para casa e delicia-se!

MPMI faz esta publicidade voluntária e gratuita porque o empreendimento de qualidade de jovens portugueses no estrangeiro merece sempre o nosso reconhecimento.

Até breve!

jpv

 


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Vermelho Direto – O Ouro da Bola

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Capa do jornal A Bola de 13 de janeiro de 2015 (o destaque é nosso).

Vermelho Direto – O Ouro da Bola

Esta crónica não é sobre futebol. Não é sobre a bola de ouro. É sobre o ouro da bola.

Se fosse sobre futebol, seria uma qualquer análise acerca do atual momento futebolístico, mas isso arruma-se em três penachadas. Penachada Primeira: toda a gente merecia ir em primeiro, mas quem vai é o SLB. Ou seja, mais do mesmo. No campo, que é bom, perdem pontos. Nos jornais e nas redes sociais são os campeões da conversa da treta. Penachada Segunda: A taça, ou vai para o SCP ou para o SCB. Ou seja, este ano o troféu será entregue a um daqueles clubes que, briosamente, costuma ser o primeiro ou o segundo dos últimos. Penachada Terceira: A taça da liga é uma incógnita e a Europa não vai dar em nada. Antes desse.

Se fosse sobre a bola de ouro, seria um corropio de elogios ao CR7, que muito admiro na sua profissão. Leva tudo a sério, prepara-se como ninguém, é ambicioso, mas mantém a humildade dos nobres. Eu penso que não se deve cair na tentação de comparar o CR7 com Messi. São universos diferentes, matérias diferentes. CR7 é todo profissionalismo. Messi é mais circo e vedetismo.

A crónica de hoje é sobre o ouro da bola. Essa filigrana de valores tantas vezes esquecida. Por baixo da merecidíssima primeira página que o jornal A Bola dedicou à conquista de CR7, surge, em letras pequeninas, uma notícia sem importância quase nenhuma para quase toda a gente, mas que mudará a vida de milhares de crianças. A Fundação Benfica vai construir em Cabo Verde, terra recentemente assolada pela catástrofe natural, uma escola com capacidade para 600 crianças! Há os que dizem que ganham tudo, há os que dizem que mereciam ter ganho tudo, há os que dizem que têm as melhores equipas, há os que dizem que formam os melhores jogadores, e depois há o Benfica. No meio de todas as competições, atingido, como todos, pelas condições financeiras débeis da conjuntura mundial, o SLB consegue olhar para o lado e desempenhar um trabalho humanitário, solidário, em prol do futuro dos jovens a quem o futuro parece não sorrir, e dedicar-se a uma causa tão nobre que, essa sim, merecia primeira página. Mas não teve. E nós, benfiquistas, não nos incomodamos nada com isso. A história do SLB não é feita só de primeiras páginas. É feita da nobreza das páginas todas. Obrigado Benfica!

jpv


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Saudação

A vida não nos dá tudo o que desejamos. Há que aceitar essa contingência da condição humana. Bem vistas as coisas, essa até deve ser uma situação desejável. Assim, mantém-se acesa a chama do desejo, motor precioso de vida.

Viemos por pouco tempo. Estivemos com alguns familiares e amigos. Poucos.

A todos os amigos e familiares que não foi possível dar um abraço aqui fica uma palavra de amizade e afeto. Não é possível estar com todos mas todos estão nos nossos corações e nas nossas preces.

Até breve.

jpv


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A Idade do Reumático

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 A minha avó, que era uma santa, tinha uma dor num braço e quando eu lhe perguntava porque é que lhe doía, ela dizia, entre o desespero e a conformação, que não havia nada a fazer, É o reumático, filho.

Amanhã iniciamos de novo a viagem de cruzar meio mundo, mudar de continente, saltar de hemisfério. E é precisa coragem e energia. Juventude! E, contudo, olha para nós. Estamos sentados na cama ainda a noite mal entrou. Tu lês uma revista com óculos de ver ao perto, queixas-te dos dentes e tomas dois ou três comprimidos antes de ires dormir. Eu esfrego pomada Voltaren no joelho que me dói sempre por causa do mesmo reumático da minha avó, coloco uma meia elástica e antes de ir dormir tomo dois ou três comprimidos. São diferentes dos teus, mas querem dizer a mesma coisa. O tempo. Estamos sós aos quase cinquenta. Lado a lado, dois companheiros do passado e para o futuro. Dois companheiros do reumático e dos óculos e das dores que surgem só porque sim. Tu tens brancas que pintas. Não precisavas. Ficas bem com as tuas brancas. E eu não tenho brancas porque me falta um requisito fundamental: o cabelo.

E aqui sentados lado a lado sob as mantas e as maleitas, nem parece que amanhã vamos cruzar meio mundo, conquistar novos horizontes, demandar outros futuros. A idade do reumático não é o fim. É só mais uma etapa deste caminho a dois.

jpv