Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Gritos – O Mandato

2014-12-28 23.54.13

Hoje, não sou cordato.

Sou o decreto e o mandato

Do caos e da desordem.

Hoje, tenho unhas que ferem

E dentes que mordem.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – O Abjeto

2014-12-28 23.54.13

O abjeto entrou em mim,

Corroeu-me

E transformou-me.

O abjeto não sou eu,

Mas matou-me.

Uma palavra.

Um engano.

Uma ilusão.

O abjeto teve cirúrgica e precisa mão.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – A Carga

2014-12-28 23.54.13

Trago arrependimentos

No porão da minha existência.

Trago desilusões arrancadas

À minha essência.

Trago insultos por cuspir.

Trago palavras de não deixar mentir

A mentira.

E trago esta pobre e desgastada lira

Por arma e companheira.

Trago palavras por dizer

E corpos por amar

E outros amados em pecado.

Trago a raiva no peito

E um murro na mesa

Solitário e adiado.

Já só resta o eco.

Trago pudores enjeitados,

Coisas que não são de mim,

Trago dias de não me conhecer,

Caminhos vedados sem preço,

Ilusões… sem fim.

E arrasto tudo isto,

Todo este peso,

Toda esta lama

E este sangue

Que me turva a vista

E barra o caminho.

Trago este fardo sozinho

E não sei quem sou.

jpv/dezembro 2014


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Gritos – O Sentido

2014-12-28 23.54.13

Jogar pelo seguro

É uma merda.

A vida não se prende

Nem se herda

Nem se entrega

Para viver.

Suga-se.

Usa-se.

Gasta-se em cada palavra irrefletida

E em cada gesto inesperado.

Tudo o resto é mentira.

Adiar inevitável do fim.

Na vida,

Há só uma e única maravilha,

A consciência de que cada instante

Tem de ser vivido

Em êxtase

E frenesim.

Qualquer plano

É um plano a mais.

O único caminho

É atravessar os pinhais,

Voar os céus,

Mergulhar no mar bem fundo

E acordar do outro lado do mundo

Com um par de botas gastas,

Um pouco de nada na algibeira

E a consciência intacta

E inteira

De não ter prometido nada,

De não ter cumprido nada,

De não ter falhado nada.

De ter vivido tudo.

Não querer, não ter,

Não possuir.

Viver cada dia

Com o sentido único

De usufruir.

E tu, alma errante e indecisa,

Não te arrependas do que deixaste  por fazer.

Não havia nada para fazer!

A segurança é uma prisão,

Uma alma agrilhoada.

Um velho decrépito

Que acumulou tudo

E agora não tem nada.

Preserva um olhar,

Um momento contemplando o horizonte,

Guarda um abraço,

Um sol por cima do monte,

E o recorte dos sobreiros.

E guarda um beijo

Desenhado em lábios de desejo.

E um corpo oferecido e nu.

Guarda para ti, sempre,

O único e irrepetível sentido

De seres tu!

jpv/dezembro 2014