Cansaço
Estou cansado
Das pessoas.
São demasiado más
As coisas menos boas.
Estou cansado
Das palavras.
São demasiado amaras
As menos doces.
Estou cansado
Dos gestos.
São demasiado agressivos
Os mais brandos.
Estou cansado
Desta mesquinhice
Sempre alerta,
A espada da língua
Sempre desperta.
Não há originalidade possível,
Não há limpeza viável,
A virgindade morreu virgem
E putrefacta,
Devassada por homens educados
E mulheres dignas.
Não gosto de ti, nem de ti,
Nem de ti,
E de ti também não.
Para cada pronome
Há um nome,
Uma figura
E uma configuração.
Jorro o fel
Para me não sufocar nele.
O único mel
Tem agora uma fina camada de bolor.
Essa crosta da ferida,
Depois do sangue
E da dor.
Já desisti das tentativas todas.
Já não quero a hipocrisia das festas e das bodas,
Já rejeito todas as palavras suaves,
Amo as duras e graves,
E tomo por certa a hostilidade.
Já morreu o meu crer,
Morreu de cancro e excesso de idade!
Era uma vez um menino…
Fez-se homem,
Desiludiu-se
E morreu.
E, mais tarde, quando veio a falecer
Já nada tinha de seu.
Desse âmago verdadeiro e inexplorado,
Desse solo fértil de esperança,
Resta um mato escasso e queimado
E reina miséria
Onde houve abastança.
Chega já a noite doce e funesta
Cantam e silvam em rituais de festa
Os seres do além.
Uma alma mais se aproxima,
Vazia e fustigada.
Ouvi, anjos e demónios,
Finalmente morreu Ninguém!
jpv

01/11/2013 às 08:15
Muito obrigado por suas palavras, querida Isa! jpv
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01/11/2013 às 02:05
“Era uma vez um menino…
Fez-se homem,
Desiludiu-se
E morreu.”
Quantos não há assim…?
Um poema que brada! Gostei muito!
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29/10/2013 às 20:42
Muito obrigado, José. pretendeu-se isso mesmo! Um forte abraço. jpv
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29/10/2013 às 16:09
Um poema duro, mas honesto, íntegro, brilhante.
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