Ser ou não ter…
Na luz difusa e dourada
do calmo entardecer
no leito sentada,
busco o silêncio
da hora sagrada,
do reencontro
com o ser.
À janela entreaberta,
olho o poente
de cores
ruborescente,
fito as mãos
da figueira erguidas
como um canto
e sinto, levemente,
a diáfana frescura do ar.
Aves de todos os ninhos
ainda cantam devagar…
Respondem-se em eco
Comunicando risos,
Escrevendo frases musicais,
e palavras soltas de pasmar!
Há toda a suavidade
do fim da dia a levitar
na atmosfera transparente…
Está lá fora,
no espaço aberto
e está aqui,
na paz secreta
do meu lar.
A luz ténue
e misteriosa
derrama-se,
paulatinamente,
em tudo o que vejo e aspiro,
como uma comida
saborosa e quente
depois da rudeza do frio.
No entardecer de seda,
Vai, a estrela-Sol, a deslizar
horizontalmente,
em direção ao mar.
Com o pensamento,
eu consigo alcançar
a vastidão do oceano
que a minha nação
veio a trespassar!
E, feita ponte,
juntou a Terra,
que se julgava então,
de nós, separada.
É essa sintonia da união,
que o meu país deu ao Mundo,
que eu sinto aqui, agora,
como tesouro e glória,
no meu coração, a palpitar.
O ar está morno já,
quase mais quente
e o silêncio,
cruzado de chilreios
invade, ardente,
a minha alma cansada.
O repouso absoluto,
compasso do tempo
reencontrado,
tenho-o buscado
incessantemente.
Dentro de mim… eu sei,
está o princípio do Ser.
Só tenho que descobrir,
de vez, a fluida nascente
para o resgatar e defender.
Cada ínfimo movimento
da ramagem
me traz de volta
ao movimento puro
e primordial,
ao gesto infinitesimal,
ao mapa do essencial.
E quero reaprender
a procurar, a olhar
o pequeno e o simples
para voltar
a saber ser,
além das aparências
e dos vãos sinais.
Ser ou não ter…
Eis quem eu Sou!
MV