Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Da Mudança

O que é fantástico, entre os humanos, é que todas as raparigas tatuadas, com piercings e um hamster no ombro, foram, um dia, a menina linda da sua mãe.
jpv


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Sons

Se esta música não te fizer sentir nada, tens um problema para resolver.


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"Com Amor," – Documento 24

Minha Menina Verónica,

A mudança mais importante é a que se faz por dentro. São as decisões que tomamos de nós para connosco. Foi um gesto de coragem, Verónica, foi um gesto de coragem. Sabes, é precisa muita coragem para amar.
Se desse para fingir, não era amor, minha menina Verónica, era outra coisa, uma coisa espúria e secundária. Isto que sentimos e vivemos em comum, ainda que separados, não pode ser fingido porque tema força da evidência e da verdade que lateja no peito. Não nos vejo no futuro, se era sobre o futuro que me interrogavas, mas vejo-nos hoje. E vejo-nos lindos, apaixonados, teimosos, ternurentos e inseguros como os miúdos aos 18 anos. E vejo-nos juntos conversando, brincando, cozinhando, comendo, amando… não me é difícil imaginar-nos, Verónica, porque é como se sempre nos tivéssemos conhecido.

Não há Céu nem Inferno. Há vida e há opções. Em relação a isso discordamos, mas acho que te referias mais a como nos sentimos relativamente a uma decisão que tomamos do que em relação a uma situação de vida. Toma as tuas decisões em consciência e estarás no Céu mesmo que seja um Inferno! Houve algo que gostei na tua formulação: a ideia de não resistires 🙂

Sim, irei até ti. Quero ser recebido pelos teus braços, quero entregar-me neles e quero receber-te nos meus. Quando nos abraçarmos, minha menina Verónica, mais nada existirá no universo que valha a pena ser vivido e isso é inestimável.

Amanhã ligo-te.

Teu homem Rui.


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Galope

Galope

Ei, miúda da face luminosa,
Tu que passas amiúde
Pela minha prosa,
Vem adoçar-me os dias
Das fogosas correrias
De um tempo não vencido.
Vem dizer-me ao ouvido
Que tudo ficará bem.
Vem dizer-me também,
Sem qualquer sentido perverso,
Que saltas da prosa
Ao verso
E navegas nas ondas da minha poesia,
Enfrentas esse difuso tempo de maresia
Só por quereres sussurrar-me
Os mistérios de amar.
Essas cavalgadas do coração,
Em trote compassado,
Em galope de emoção.
E eu fico ouvindo a tua narrativa,
Invoco sabedoria primitiva
De ouvir com o bater do peito
E o mundo não precisa de mais nada.
Fica perfeito.

jpv


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SOL

Sol

Glória ao sol
E aos horizontes que abre,
Às mentes que acaricia,
Aos corpos que aquece.
Gloria ao Sol
Por mais um dia
De esplendor
Que a Vida acontece!

jpv


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Olhar D’Água

Olhar D’Água

Entre o tudo e o nada,
Entre a noite e a alvorada,
Entre a morte escura
E a vida esperançada,
Entre a imobilidade
E o perpétuo movimento,
Entre a companhia
E o isolamento,
Há uma fronteira de água.
Só!
E é nessa linha
Difusa
Que se desenha
O perfil da musa
Que me veio resgatar.

É a indefinível
Fronteira
Do seu olhar.

jpv


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O Clã do Comboio – Facebook

Facebook
Na passada sexta-feira só consegui sair do trabalho às 21:15h. O comboio a apanhar era o regional das 21:48h. O problemas dos regionais é o tempo que demoram. Apanhando esse, só mesmo junto à meia noite conseguiria estar em casa.
O trabalho correu bem, mas foi muito intenso e exigente, daí a demora. Ora, o cansaço era tanto que nem conseguia dormir. Ao meu lado, uma moça alta e bonita, igualmente exausta, de tal forma que estendeu as pernas e colocou os pés em cima do banco da frente. Eu imitei-a. Foi o nosso pequeno pecado de descansar. Não deu para conversarmos, não havia disposição nem energia para tanto. À nossa frente, uma moça muito atlética, com um fato-de-treino preto de licra colado ao corpo magro e musculado, umas sapatilhas de corrida, o cabelo comprido, castanho, apanhado num rabo de cavalo. A criar uma nota de diferença tinha umas longas unhas pintadas de encarnado.
Foi então que me lembrei que o meu telemóvel tinha acesso à net. Lembrei-me de aceder ao Facebook e usá-lo para o que, efectivamente, foi criado. Escrevi “Estou aqui. Está aí alguém?” Normalmente só uso o Facebook para divulgar o blogue. Nunca tinha participado em jogos, nem nunca tinha usado o meu “estado” ou o meu “mural” para dizer onde estava ou que estava a fazer. Foi a primeira vez. E foi fantástico.
De imediato, uma série de amigos e a minha mana, que estavam online, começaram a conversar comigo, a fazer-me negaças com o que estavam a comer, a dizer umas quantas piadas e a terrível hora e quarenta que tinha pela frente passou-se quase sem dar por isso. Não sei se foi para isso que criaram o Facebook. Já li algures que sim. O certo é que ontem foi fantástico ter essa companhia. E foi igualmente fantástico perceber e sentir a solidariedade e a humanidade dos meus amigos. Foi uma espécie de “O Outro Clã do Comboio”, aquele que não vai na carruagem, mas nos ajuda a suportar esse tempo, para além do cansaço e da fome e do sono…
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"Com Amor," – Documento 23

Tenho medo, Rui. Meu homem Rui. Tenho medo e quero. Desejo.

Sim, é amor. É verdadeiro e é nosso. Pronto. Já to disse. E agora, Rui? Assumi. Lutei comigo, contra mim, venci as minhas próprias forças e assumi. E agora, Rui? O que muda? Dizias que as palavras são gestos também… Que gesto foi este? O que mudou com ele?

Há algo que nos aproxima, meu homem Rui, não sabemos fingir, não queremos expurgar o amor que nos invade porque não queremos fingir a vida. Mas há outras pessoas, Rui.

Sim, isto é um tudo, muito mais do que um nada! Mas sabemos nós lidar com este tudo? Como nos vês, Rui? Como nos vês? Não és uma mão cheia de coisa nenhuma, Rui, és uma plenitude. Consigo conversar contigo, perceber-te, perceber-me através de ti, sentir-me compreendida. Mas não me sinto segura, Rui! Nem é este medo por mim. Eu tomo conta de mim. É pelos outros, Rui. Mostras-me o Céu e o Inferno e não lhes resisto, nem a um, nem a outro. Uma mulher é um instrumento do Amor se é de Amor que falamos.

Vem até mim, Rui. Vem até mim e receber-te-ei em mim!

Com Amor,
Verónica.


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"Com Amor," – Documento 22

Minha Querida Verónica,

O sofrimento está em todo o lado, não só junto ao amor. É evidente que o sofrimento é um dos matizes do amor, mas é por isso mesmo que o amor é tão precioso. Se estivesse facilmente ao alcance de qualquer um, sem esforço, sem provação, sem a perspectiva da desilusão, não seria tão extraordinariamente valioso. Não basta amar. Há que superar as exigências que o amor nos faz para conhecermos a sua plenitude e é essa plenitude tem o preço do que é preciso sofrer para alcançá-la.

O que sofrerias tu por mim, Verónica? Pelo nosso amor? Posso admitir que não contes com nada. Que eu seja para ti uma mão cheia de coisa nenhuma, mas há entre nós este inegável tudo, esta força de atracção, este poder magnético que me faz querer tomar-te nos braços e acariciar-te e amar-te e fazer-te sentir o centro do universo do meu amor, desnudar-te o corpo e a alma e possuir-te ambos. E isto, Verónica, seja o que for, não é um nada. Está mais próximo de um tudo absoluto do que de um nada. Se pudesse, minha querida, esvaziava o meu coração e não pensava mais em ti, mas é ao contrário. A mais ténue lembrança de ti, da tua voz, do teu olhar, enche-me de esperança e vida e isto não pode ser nada, Verónica.

Sabes, minha querida, nós podemos expurgar isto de nós, podemos decidir não percorrer este caminho, mas o que não podemos é negá-lo. Não podemos negar esta força e esta corrente. Não podemos fingir que esta atracção, misto de querer o corpo e querer a alma, esta admiração vertida também na química do sexo possível, não existe.

Existe. É verdadeira e é nossa!

Com Amor,
Rui.


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Curtas do Metro – Incógnita

Incógnita

Entre o Cais do Sodré e a Baixa/Chiado pouco depois das 18h.
Um casal em pé, lado a lado, encostado às costas de um banco do Metro. São ambos altos. Ele é um pouco obeso, calças de ganga, pólo encarnado, casaco de ganga, sapatos de vela castanhos. Ar abatido, barba por fazer, óculos redondos daqueles sem aro à volta da lente. Ela é um pouco obesa, chinelos de enfiar no dedo, calças leves, de linho verde, blusa preta colada às curvas cheiinhas da barriga e por cima um casaquinho do mesmo linho verde das calças.

O presente texto foi escrito por via das poucas, mas perturbantes palavras que trocaram um com o outro. Começou ela:
– Vais para casa?
– Não.
– Então?
– Oh, o que é que eu vou fazer para casa? Não está lá ninguém à minha espera! E tu?
– Também não.
– Então?
– A mesma coisa!
Fez-se um silêncio longo até que ela o quebrou:
– Olha lá…
– Sim…
– Porque é que a gente se divorciou?
– Sei lá!

O Metro parou. Tive de sair e não pude ouvir mais. Nem era preciso, a incógnita estava lançada.

jpv