
Incógnita
Entre o Cais do Sodré e a Baixa/Chiado pouco depois das 18h.
Um casal em pé, lado a lado, encostado às costas de um banco do Metro. São ambos altos. Ele é um pouco obeso, calças de ganga, pólo encarnado, casaco de ganga, sapatos de vela castanhos. Ar abatido, barba por fazer, óculos redondos daqueles sem aro à volta da lente. Ela é um pouco obesa, chinelos de enfiar no dedo, calças leves, de linho verde, blusa preta colada às curvas cheiinhas da barriga e por cima um casaquinho do mesmo linho verde das calças.
O presente texto foi escrito por via das poucas, mas perturbantes palavras que trocaram um com o outro. Começou ela:
– Vais para casa?
– Não.
– Então?
– Oh, o que é que eu vou fazer para casa? Não está lá ninguém à minha espera! E tu?
– Também não.
– Então?
– A mesma coisa!
Fez-se um silêncio longo até que ela o quebrou:
– Olha lá…
– Sim…
– Porque é que a gente se divorciou?
– Sei lá!
O Metro parou. Tive de sair e não pude ouvir mais. Nem era preciso, a incógnita estava lançada.
jpv