Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Curtas do Metro – "Sandui-Chita"

“Sandui-Chita”

Não é bem uma curta do Metro. É mais à porta do Metro.
E também não é uma história. É só um apontamento.

Na estação do Cais do Sodré há um pequeno bar, daqueles feitos em materiais pré-fabricados, fica ali na confluência da saída do comboio, do barco e das escadas rolantes do Metro. Conclusão: tem muito boa frequência. Servem cafés, meias-de-leite, galões, bolos, sandes, croissans, chás, enfim, pequenos-almoços e refeições ligeiras. Chama-se “Sandui-Chita“.

Em Lisboa deve haver centenas de pequenos bares destes o que não justifica esta curta do Metro. O que a justifica então? Dois aspectos. A eficiência das senhoras que servem e a extrema simpatia do senhor que está na caixa. Ele é daquelas pessoas que marca a diferença porque faz das pequenas coisas, coisas especiais. Uma pessoa chega ali pouco depois das 8:30 da manhã, pede um café duplo e uma merenda, ele tem dúzias de merendas num tabuleiro, todas quentinhas porque acabadas de fazer, mas é bem capaz de dizer “Sai um café duplo e uma merenda quentinha bem especial para este senhor que está cheio de fome!” E aquela merenda deixa de ser mais uma em vinte e passa a ser a especial merenda quentinha. Tenho reparado que, das pessoas de circunstância, ele vai observando os hábitos de consumo das que lá vão passando mais vezes e quando faz os pedidos invoca a particularidade de cada um. Ora, no meio da turba de milhares de pessoas que chegam, que partem, que passam, nós deixamos de ser mais um e passamos a ser aquele, o tal, o da merenda especial.

Esta atenção e este cuidado merecem uma referência neste cantinho. Porquê? Óbvio. Porque vivemos tempos de impessoalidade e agressividade e no “Sandui-Chita” somos todos especiais e com especial simpatia tratados! Com merendas quentinhas!

jpv


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Curtas do Metro – Separados

Separados

18:01h. Estação do Cais do Sodré na direcção Santa Apolónia.
O Metro está parado fazendo um compasso de espera antes de se pôr em marcha. Está cheio. Não cabe nem mais uma pessoa. Ou melhor, vai caber mais uma. Duas é que não. Chegou um jovem casal de namorados, a rondar os 17, 18 anos. Ele entra, o alarme de fechamento de portas soa, ela não entra, ele estende-lhe a mão, ela estende-lhe a mão, depois encolhe-a, ela não entra, seria difícil, mas não impossível, ele não sai.

E é isto que eu não percebo. Isto e o que se passou a seguir.

Ela acenou-lhe e fez uma cara triste. Ele acenou-lhe e riu-se. Mas, afinal, o tipo estava a rir-se de quê?

jpv


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O Regresso da Estranha

O Regresso da Estranha

Sabes, o teu regresso
Não foi inesperado.
Um homem sabe
Que volta sempre
O sorriso anunciado.
E que trouxesses
Alguma surpresa,
Disso, não tinha a certeza.
Só sabia que vinhas.
E acordaste o que estava
Adormecido.
Um sentimento longínquo,
Mas não perdido.
Uma incerteza, talvez.
Era a natural ânsia
De ver-te sorrir outra vez.
E houve vida em mim.
Cantaram meus anjos,
Dançaram meus demónios
E todos se juntaram
Na comunhão de ti.
Tu, que não me conheces,
Mas a quem eu vi,
Regressaste.
E o teu regresso
Foi meu mudo sucesso.

jpv


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"Com Amor," – Documento 3

Olha lá, mas tu achas que eu não te topo?

Beijo? Mas que beijo? Beijo a quem ou de quem?

Mas que petulância!

Verónica