Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Curtas do Metro – Passa! Passa!

Passa! Passa!

Fim de dia. Chego a Santa Apolónia. Saio do Metro. Não vejo ninguém conhecido nem nada interessante. Quando me aproximo do controlador magnético para passar o meu cartão, quem é que está mesmo à minha frente nos seus característicos trajes negros? A Mulher Vampiro!

O cartão dela não quer abrir a porta. Coloco-me atrás dela, passo o meu cartão, a porta abre e eu digo:
– Passa! Passa!

Ela passou e eu logo atrás dela. Os dois duma vez. Já do outro lado, rimos a bom rir. Tinha sido o nosso pecado, a nossa pequena irreverência do quotidiano:
– Olhe lá, sabe que uma vez por mês é preciso pagar o passe?
– Engraçadinho!

jpv


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Curtas do Metro – The F Word

The F Word

Cais do Sodré. Caminhamos para os controladores. Atrás de mim vêm duas vozes novas, bem dispostas e bem falantes, falando de compras e tratando-se por “amiga”. Passam-me. Vão com calções brancos de sarja, camisolas de cavas, uma castanha e outra verde-escuro. Usam sandálias. Têm um aspecto elegante e polido e, na minha avaliação, educado.

Ao passar pelo controlador, ultrapasso-as. Depois do controlador volto a ouvi-las atrás de mim. Estamos ao cimo das escadas. O Metro está lá em baixo e elas dizem:
– Corre, corre, ainda o apanhamos.
– Achas? Vamos lá!

Os alarmes de fecho de portas soam. É a partida. Para qualquer um de nós é impossível apanhá-lo e elas dizem uma a seguir à outra:
– F***-se!
– Que se F**a!

Moral da história: erros de avaliação!

jpv


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Histórias do Autocarro 28 – Ajuda Externa

Ajuda Externa

Só a mim, meu Deus, só a mim. Lisboa tem centenas de milhares de habitantes e transeuntes, milhares de autocarros, mais milhares de outros veículos de transporte público, e as alemãs tinham de me calhar a mim!
Em época de FMI, de FEEF, de Ângela Merkl, de ajudas externas, de restrição e austeridade, entro no 28 e atrás de mim entram duas alemãs de meia idade, calças de ganga, t-shirt branca de cavas, suadas até dizer chega. Uma agarra-se e quase me cola o sovaco peludo ao nariz. A outra, vá-se lá saber porquê, não se agarrou. O 28 arranca. Não sei se o motorista sabia que tinham entrado alemãs, mas sei que o esticão foi… repenicado!
A que não se agarrou, desamparou-se e ia mesmo cair. Deitei-lhe a mão e segurei-a por um braço. A senhora reequilibrou-se, olhou-me um bocadinho envergonhada e disse:
– Dankeschön
– Bitte Schön

Ia ficar por ali, mas resolvi acrescentar em inglês de sotaque aprumado:
– It’s ok. This is probably the only way Portugal will help Germany in the next few years.

Fez um sorriso amarelinho, colou os olhinhos no chão e eu pensei em pensamento futebolês:
– Portugal 1, Alemanha 0.

jpv


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Curtas do Metro – Tentativa de Assassinato por Esmagamento

Tentativa de Assassinato por Esmagamento

Manhã muito bem disposta. Conversa animada entre a saída do comboio e a entrada no Metro. Vou eu, o RB e a Mulher Vampiro*. De repente, quando nada o fazia prever, sem motivo aparente, a Mulher Vampiro atira-se violentamente para cima de um simpático e incauto passageiro que fica esmagado entre a figura negra e sólida da Mulher Vampiro e as costas do banco. Por momentos, pensei que ia mordê-lo no pescoço!
Ela reequilibrou-se como pôde e nós, como bons cavalheiros, pedimos desculpa ao senhor em nome dela. Fizemos ali um bocado de conversa a ver se ele percebia que ela não era má pessoa. enfim, teve um momento de excesso… ou de fraqueza! Viro-me para o RB e digo:
– Achas que foi de propósito?
– Não. Desequilibrou-se com o arranque do Metro.
– Ah, pois. És capaz de ter razão!

Demos um cartão do blogue ao passageiro que, quando saiu, levava um ar bem disposto. Ou isso, ou estava aliviado por se ver livre da fúria da Mulher Vampiro!

jpv

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*Para quem a não conhece aqui das Curtas do Metro, trata-se de uma personagem do Clã do Comboio. Para a conhecer melhor, clique aqui.


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12 de Abril – O dia em que se quebraram barreiras!

Amigos, 12 de Abril foi dia de quebrar barreiras neste cantinho. Mails para a minha Irmã superou a barreira das 20000 (vinte mil) visitas num total de mais de 45000 (quarenta e cinco mil) visualizações, mas não nos ficámos por aí. Foi também o dia em que pela primeira vez se superou a barreira das 300 (trezentas) visualizações no mesmo dia. Como recompensa, uma vez que, ao que parece, as pessoas vêm cá para ler, publicaram-se histórias diversas o que se repetirá hoje uma vez que está na calha para o fim do dia a publicação de uma Curta do Metro e de uma História do Autocarro 28. Ambas muito curiosas.

Aos leitores, um muito obrigado pela presença assídua.

jpv

Contador, ontem, às 12:30h

Resumo do dia 12 de Abril com 304 visualizações


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O Clã do Comboio – Água Fria

Miguel Iago*
Água Fria
Foi uma manhã diversificada. Igual a todas as outras em tudo, excepto no ritmo.
Comecei por ler. Ler às 7:18 faz bem ao espírito. Ia tranquilamente a devorar “A Tia Júlia e o Escrevedor” quando entraram, em Santarém, os três amigos que querem salvar o mundo. Vinham perfeitamente desinquietos e dispostos a arruinar a tranquilidade da carruagem. E conseguiram. Quer dizer, o VM e o RB conseguiram. O J limitou-se a dormir. É engraçado porque o VM e o RB conseguem que ninguém durma menos o J que vai ao lado deles e ferra o galho na mesma. O RB, cujo regresso se assinala com alegria após o nascimento do Miguel Iago, começou por conceder-me autorização para publicar a foto do já célebre quarto amigo que quer salvar o mundo. É uma preciosidade, como se vê. O RB, que é um babado, merece! O pequeno Iago talvez merecesse um pai com mais juízo, mas não era a mesma coisa, o RB vai ser um pai espectacular. De resto, o tipo tem provas dadas: este é o terceiro! Eh valente!
Depois o VM lembrou-se de contar uma anedota em que cita um tipo que cita Shakespeare: “O sono é a antecâmara da morte.” E daqui para a frente não conto mais porque é impronunciável e há crianças que visitam este blogue, um lugar de frequência séria e distinta! Depois, fizeram várias e jocosas tentativas para me envergonhar junto dos outros passageiros. Sem resultados, claro, porque já toda a gente percebeu que o único tipo idóneo naquela conjugação é o reputado escritor. “Do alto da sua ignorância”, o VM distribuiu boa disposição e um humor de fino recorte… qualquer coisa!
Isto já ia animado e desassossegado e motivos de conversa não faltavam. Talvez por isso, o maquinista resolveu fornecer mais um e esqueceu-se de parar numa estação. A malta a pensar, “Boa, poupam-se uns minutos! A malta a pensar mal. O comboio parou. Fez marcha atrás até à estação e lá embarcaram os tipos que deviam ter perdido o comboio. É claro que nasceram logo ali teorias diversas. E o J a dormir!
Até que chegou o momento da viagem. O RB começou a gabar-se de que passava melhor a ferro do que eu, o que duvido, mas concedo. E é nesse momento que o J acorda e remata desta forma a sessão de tagarelice gratuita:
– Um dia, ainda o vemos a passar a ferro e a cantar “Água fria…”
Gargalhada geral. Ficou o livro por ler, mas não faz mal até porque, pelo meio, dissemos mal à fartazana dos tipos do FMI. E isso, meus amigos, não tem preço!
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*Excepcionalmente, a foto que acompanha todas as histórias do Clã do Comboio foi substituída por esta. Acho que a razão é suficientemente forte: é o esplendor da vida! A sua publicação foi, feliz e simpaticamente, autorizada pelos papás babados!