Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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De Negro Vestida – LXXIV

 

Abandonar o Negro – XI

– Sabe, qualquer coisa na atitude da minha mãe a havia já denunciado. O cantarolar pela manhã, os jantares cada vez mais frequentes “com as amigas”, se é que me entende..
– Carolina, a mãe queria ter falado contigo, mas não tinha a certeza, quer dizer, não sabia ao certo no que isto ia dar…
– Mãezinha, não precisas dar-me satisfações, és tu a mãe, lembras-te?

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Sons do meu Tempo

É no que dá ouvir rádios regionais, sem respeito nem pudor pelo adormecimento das memórias que nos lembram que já fomos inconscientes e loucos, que já houve juventude também no corpo que a da mente, essa, reclamo-a sempre, que houve dias em que os cabelos compridos, as músicas suaves e as letras lamechas nos acordavam os sentimentos, faziam o coração bater mais forte e não interessava para nada o corte de cabelo piroso do cantor. Depois, outra coisa acontecia, as nossas mentes e as nossas emoções não estavam reféns do linguajar anglo-saxónico. Em italiano era romântico, em espanhol era pujante e em francês era doce e suave como se exigia a uma canção para dançarmos agarradinhos. As discotecas abriam às 21h e fechavam à hora que agora abrem. E havia os 30 minutos dos slows… lembram-se dos slows?! As calças de ganga eram justas, os gestos largos e a música soava assim… é no que dá ouvir rádios regionais.
Art Sullivan
Joe Dassin

Jean-François Maurice


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Bucólica Viagem

Suspensa está a Natureza
dos raios de Sol exuberantes,
porque só um véu de cinza
cobre os céus circundantes.
Ouvem-se, porém, suaves
chilreios e sopros de frescura
e eu viajo até às águas
dos ribeiros, sua brandura…
Saltitantes, ondeantes,
nas montanhas, nos pinhais!
Mas sem a alegria do Sol
até eu me sinto mole,
sem vontade, sem reacção,
ouvindo esta doce canção
da rola, do cuco, tão musicais,
e ainda muitas mais notas
dos passarinhos às voltas,
nas suas verdes catedrais.
É tão suave o ar que se espraia
e dilata por toda a paisagem
que trocava, para ir à praia,
meus afazeres pela viagem!

CS


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Tu Destruíste-me a Vida

Tu Destruíste-me a Vida

A acusação soou
E trouxe no eco da sua entoação
Um grito de desespero
Um prenúncio de destruição.
Fugiram-me as ideias para longe
Para o tempo de não ouvir-te dizer isto,
Mas perdi-me no caminho do reverso.
Assalta-me a questão fatal,
O anúncio do final:
Será capaz de olhar em frente
Quem não vê o fim do passado?
Quem não tem memória que valha ser lembrada,
Ainda tem pernas para a caminhada?
Há coisas que se não pensam,
E há coisas que se não dizem,
Porque ditas,
Ou pior, pensadas,
São barreiras levantadas,
Fendas abertas nas estradas,
Cortes que não ardem nem sangram.
Apenas doem e secam.

Tu destruíste-me a vida!
Não há homem, nem mulher,
Capaz de viver
Com o peso desta acusação!
É demasiada a força,
É demasiado o peso,
Da destruição.

jpv