Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."

Consequências de não pregamento e visões que não têm nada a ver com Las Vegas

3 comentários

Torres altas erguem-se em Londres Vitoriana que ardeu por três loucos que não a conseguiam ver a fritar em óleo às mãos do bandido da máscara e dos seus capitães, o doente e o cobarde. Pois se é verdade que as cores ácidas brilharam com a intensidade do meteoro de Jack London também é verdade que o bandido da máscara dançou. Dançou como um verdadeiro Deus dos lobos até o seu mestre, o magrinho rápido dos óculos ficar a bater palmas como um louco digno de conspirações e cantores engordurados e velhos. Ele era doente e sabia-o.

“Vírgulas e tentações” disse o Vaidoso que morreu algemado às mãos das suas indecisões e da sua retórica excelente magnífica soberba mais do que qualquer palhaço ou juiz. Mas o Vaidoso sabia, como o louco magrinho rápido dos óculos sabia, e como eu sei, e como sabia o Bonito e o Sátiro, que as torres tinham de arder, tinham de arder e cair até os Vilões das Montanhas do Quadrado decidirem que um lavatório de mármore é de facto algo por que morrer e matar, mais do que pelas galinhas e do que pela senhora Quicas que lá andava a fazer o melhor que podia ainda que o menino mimado e o operário não entendessem que esta senhora era imortal. Esta senhora viveu entre todos os lavatórios de mármore e todas as torres em chamas, e esta senhora viu os juízes sorrirem e os palhaços cantarem e os músicos ficarem invejosos às mãos do dono do macaco que tocava realejo.

Morte das velhas e pulgas saltitantes e desbotados doentes e magros que lêem nas suas águas furtadas estórias de juízes maus e palhaços bons. Este foi o ponto de interrogação que causou o mundo a ver o mundo às cores e não ter em conta que a velha não morre e não morre e não morre por mais que o bandido da máscara mate a sua filha e os pobres que só querem fritar em óleo porque julgam que os vai fazer mais modernos. Malditas pulgas, filhas da puta das pulgas, filhas da mãe, e eu sou uma delas.

A lição que se pode tirar desta história é que as sarjetas são a equação que rege tentações e assassinos quer estejam em desequilíbrio ou no topo do rochedo que está virado para o Mar dos Astronautas, enquanto todos os soldados do mundo sobem aos céus até os Deuses dizerem ” Não queremos mais, estamos fartos, agora vai-me buscar um copo de leite.” Sofrem invejosos como juízes e virtuosos como o sumo da maçã que ditou o futuro do mundo.

Eu tal como o Deus Dançante também pedi um copo de leite enquanto os nós dos meus dedos reluziam com sangue azul, mas eu aprendi a ver-me como o engordurado que juntava as mãos e dizia que não sabia o que fazer.

Ele via-me como algo muito belo que definha enquanto toda a beleza do mundo se esvai perante os seus olhos e todos os loucos reclamam o que é por direito seu e todos os Vilões das Montanhas do Quadrado se apercebem que são os Bebés do espaço e que todos os rolos em que se espalharão as motas do mundo os terão como protagonistas.

Eles sim são os protagonistas e não as pulgas construtoras dos seus tronos, e por mais que berrem nos seus leitos de azul como num sonho de cacos de vidros e uma casa em ruínas que eu tive, eu sei, assim como o Deus bebedor de leite sabe, e o magrinho rápido dos óculos sabia e o poeta loiro que dormia com a assassina receava e o Vaidoso morreu sem saber, que o novo centro de cidade terá às suas cavalitas os seus corações enquanto todos nós ficamos deitados ao pé da máscara amarela e do vaso de Júlio Verne, e todas essas iguarias que um dia apimentaram o meu prato de mármore.

Mas vós não tendes de deixar de pregar o que vos é devido pois o único dever da Londres Vitoriana que tendes de cumprir é de facto pintar o cabelo de roxo e lavar os dentes de galinhas, e gritar sobre as pontes que a doença do magrinho rápido dos óculos é na verdade a camisola que todos devemos vestir, e que as chamas fazem bem ao colesterol, e que duas pulgas amigas e roxas são mais dignas do que bigodes curtinhos e casacas azuis.

Eu cá gosto de casacas azuis e lavatórios de mármore, só os destruí com o martelo que veio das Montanhas do Quadrado e das pulgas porque estava a bocejar tal como o Vaidoso bocejava. Não me justifica mas também o juiz está com a senhora Quicas logo não sobrou ninguém para me julgar e de qualquer das formas, os cactos crescem sem que ninguém os regue.

Cumpri o vosso dever. Eu não o farei.

Iago Videira
Desconhecida's avatar

Autor: mailsparaaminhairma

Desenho ilusões com palavras. Sinto com palavras. Expresso com palavras. Escrevo. Sempre. O resto, ou é amor, ou é a vida a consumir-me! Há tão poucas coisas que valem a pena um momento de vida. Há tão poucas coisas por que morrer. Algumas pessoas. Outras tantas paixões. Umas quantas ilusões. E a escrita. Sempre as palavras... jpvideira https://mailsparaaminhairma.wordpress.com

3 thoughts on “Consequências de não pregamento e visões que não têm nada a ver com Las Vegas

  1. Desconhecida's avatar

    Caro Iago Videira
    Alguém já aqui disse que “quem sai aos seus…” Estou de acordo.
    Agora hereditariedade é coisa complexa… e hereditariedade específica e hereditariedade individual coexistem conferindo à vida (e neste caso à escrita) a enorme diversidade que a torna tão interessante.
    Quanto ao seu texto, que é o que aqui me traz, é intenso, arrojado, forte e simultaneamente íntimo e inquietante.
    Não deixe de escrever. Aliás, fiquei com curiosidade de ler outros textos seus, neste ou noutros registos…
    Parabéns!

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  2. Desconhecida's avatar

    É denso,um portento de força!
    Tem resistência,tem inquietação, desafio, afirmação!
    Tem personalidade…

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  3. Desconhecida's avatar

    “Quem sai aos seus…”!

    Muitos parabéns, Iago!

    Beijito da Célia Mafalda, colega dos pais

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