Eu habito um clã. Tem as características de qualquer clã. Para mim só é especial porque é o meu. São as minhas pessoas. E não fujo a esse sentido de posse.
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Este fim-de-semana recebemos uma prima nova. Não, não é dessas primas novas que usam fralda e choram e fazem ó-ó em vez de dormir e chegaram numa chegonha que as trouxe de Paris de França. É mais velha. Sendo nova. Enamorou-se por um simpático e garboso encalhado do clã cujo principal mistério era, até ao momento, o de estar encalhado. E chegou. E é nova para nós. Não sei bem se é prima. Acho que não. Acontece, porém, que em Portugal os primos não são os únicos primos. Há este saudável hábito de chamar primo a pessoas que tenham uma relação familiar difusa, próxima mas distante, e quando não sabemos muito bem como as classificar, e vai disto, é prima. Ou primo. Para perceberem a coisa, esta prima nova, em abono da verdade, é namorada do filho dos pais do marido da irmã da minha mulher. Mais coisa, menos coisa.
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É corajosa. No mesmo fim-de-semana conheceu 10 de nós mais o encalhado que ela já conhecia, mas fora de contexto. Chegou com graciosidade no olhar, simpatia no sorriso, delicadeza no andar, e uma fragilidade feita força que lhe atravessa o timbre feminino da voz. Chegou sabendo que quem chega há-de ocupar espaços e ter lugares e há-de passar a contar e chegou sabendo, também, que a olharíamos, que falaríamos com ela, perguntas, muitas perguntas, e que brincaríamos com ela, pequenas provocações, palavras ousadas a tentear a fibra da prima. E teve-a. A fibra. Aliás, estou a dar-me ao trabalho de escrever umas linhas sobre a prima nova por uma rzão simples. Quando acontecem estes momentos iniciáticos, estas primeiras fusões de afectos, as coisas podem correr melhor ou pior, mas, normalmente, perde-se a naturalidade. Ora, esta prima nova foi sempre singela e natural. Nunca se defendeu. Não quis marcar terrenos porque marcados estavam. E não ensaiou medições inúteis do que não é mensurável: o como estamos uns com os outros.
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Esteve tão natural e tão integrada que nos arrancou a nossa naturalidade e genuinidade sem grande esforço. Quando se depediu de mim disse “Gostei muito de vos conhecer” e foi-lhe respondido “Nós também gostámos muito de te conhecer” mas o interessante é que não era bem isto o que eu estava sentindo. Era algo para além disto. Era algo mais parecido com “Ainda agora te conhecemos e parece que já te conhecemos há muito”. E foi esta harmonia a mais interessante de todas as coisas. Isso e o desencalhar do primo!
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Eu, que percebo pouco de pessoas, arriscaria, acerca desta prima, uma paráfrase de um anúncio velhinho: veio para ficar e ficou mesmo!
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Bem-vinda, prima.
Desenho ilusões com palavras. Sinto com palavras. Expresso com palavras. Escrevo. Sempre. O resto, ou é amor, ou é a vida a consumir-me!
Há tão poucas coisas que valem a pena um momento de vida. Há tão poucas coisas por que morrer. Algumas pessoas. Outras tantas paixões. Umas quantas ilusões. E a escrita. Sempre as palavras...
jpvideira
https://mailsparaaminhairma.wordpress.com
23/06/2010 às 01:37
Olá Susana, beijinho aceite e devidamente retribuído, ou seja, com chilreio e tudo! João Paulo.
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22/06/2010 às 23:16
João Paulo,
Um grande beijinho para todo esse clã, que é tão especial 😉
Susana Aldinhas
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22/06/2010 às 17:56
Com todo o prazer.
Mas porque a minha escrita é longa quando falod eles, peço-lhe que visite
http://pi-lau.blogspot.com/search?updated-min=2007-01-01T00%3A00%3A00Z&updated-max=2008-01-01T00%3A00%3A00Z&max-results=50.
Obrigada.
Voltarei.
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22/06/2010 às 12:21
Olá Laura,
bem-vinda a este cantinho.
Os clãs têm essa particularidade interessante: têm de ser apertados em ordem a preservar a sua coesão mas necessitam abrir-se para se expandirem e renovarem. Isto gera um interessante jogo relacional. este foi de sucesso. Quer falar-nos do seu clã?
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22/06/2010 às 11:31
Fantástico texto. Revi-me. Também eu pertenço a um clã. Apertado. Talvez por isso tenha gostado tanto.
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