Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Curtas do Metro – Um Certo Odor

Um Certo Odor

Eu tenho um olfacto apurado. E sou muito sensível aos odores. Não esquisito. Só sensível.

Todos os dias faço o trajecto de Metro entre o Cais do Sodré e Baixa/Chiado ao final da tarde ou ao princípio da noite. Nunca tinha pensado em Lisboa como uma cidade balnear, mas há muito quem pense. São muitos, muitíssimos, os passageiros que entram àquela hora no Metro do Cais do Sodré e que, claramente, vêm da praia. Vai um homem encarcerado no fato e enforcado na gravata e eles passam de chinelos, areia nos pés e nas pernas, calções, toalhas ao ombro, t-shirts… algumas raparigas ainda com o top do biquini e uma saia, sacos de praia, chapéus-de-sol, pranchas, peles encarnadas e peladas do sol e conversas de…mar! É de fazer inveja. É curioso observar o Metro atravessado pelo folclore da praia à mistura com saltos altos, fatos e gravatas, pastas de trabalho penduradas das mãos.
Ainda não tinha decidido escrever sobre isto porque, sendo interessante, não me marcara. Hoje, contudo, senti um odor familiar, adocicado e inconfundível. Pairava, suave, na carruagem onde eu ia e, de repente, foi como se a praia fosse ali comigo, a envolver-me o espírito e o corpo. Quis perceber o que me transportava para a tranquilidade nostálgica das férias, que mar era aquele a entrar-me pelas narinas e a provocar-me os sentidos.

Concentrei-me e rapidamente o identifiquei. Viajávamos envoltos pelo odor espesso e suave de… protector solar!

jpv


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Curtas do Metro – A Chegada dos Veraneantes

A Chegada dos Veraneantes

Final de tarde de um dos primeiros dias de Primavera a sério. O sol brilhou todo o dia e ainda está intenso. Pela primeira vez este ano, os termómetros marcaram mais de 25º. Apesar disso, a temperatura geral ainda não subiu muito. Acontece que vivemos num país mediterrânico e estamos talhados para receber o sol. Assim que desponta, mudam-se atitudes, comportamentos e roupas. É todo um folclore.

Ao chegar à estação de Baixa/Chiado vindo do Cais do Sodré, mudo de plataforma para a direcção Santa Apolónia. Enquanto desço as escadas, sinto alguém atrás de mim pelo meu lado direito. Espreito pelo canto do olho e espanto-me ao ver umas pernas de homem nuas. E pareceram-me uns calções de banho, mas desconfiei. Afinal de contas, estávamos numa estação do Metro. Atrasei um bocadinho o passo. O rapaz passou por mim. Chinelos de enfiar no dedo, amarelos. Calções de banho, tipo bermudas, em azul e rosa bebé. Uma T-shirt cinzenta e, ao ombro, uma toalha de banho. Quando chegou à plataforma depois de descer as escadas, dirigiu-se para o longo banco de pedra, estendeu a toalha nele e deitou-se ao comprido como se estivesse a apanhar banhos de sol. A única diferença é que estava no túnel do metro!

Eu sei que a chegada da Primavera muda comportamentos, mas isto foi mais do que um comportamento a mudar, foi o sol primaveril a fritar cérebros, foi o anúncio oficial da chegada dos veraneantes!

jpv