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Via Crucis – Quinta Estação

V- Quinta Estação
Simão Cirineu ajuda Jesus
A dor no horizonte…
Mais a da alma
Que a dos espinhos na fronte
Cravados.
Suportam-se melhor
Que os pecados.
A dúvida nascendo
E a convicção cambaleando,
Emerge uma rocha
No caminho,
Baila um corpo tombando.
O meu.
E estendes-me a tua mão
Aberta, oferecendo ajuda.
Hesito, antes que me iluda
E dê novo trambolhão.
Mas insistes
E penso na pura atitude e certa
Que é aceitar, humilde,
Tão generosa oferta.
E encontro a grandeza
Que nasce nessa humildade,
Um homem cresce
Para além da idade.
E tens, amigo Simão, a mão estendida.
E pequei porque duvidei
Da tua dádiva de vida.
Amparas-me.
E há nesse gesto, a beleza
De ver-te amparado
À minha própria fraqueza.
É mais doce o caminho
Quando não é feito sozinho.
Palpita na tua mão
A força que a amizade conduz
Hoje, ensinaste-me, Simão,
Com um amigo,
É mais fácil carregar a cruz!
jpv – Via Crucis – V
Via Crucis – Quarta Estação

IV- Quarta Estação
Jesus encontra sua Mãe
Porque me olhas, Mãe?
Porque te não escondes na multidão?
Porque me olhas e confortas,
Se meu Pai nos votou à perdição?
Tu, mãe sem marido,
Eu, filho sem pai,
Sabes, só, ter parido
A mentira dos outros,
A tua verdade.
Não temos tempo, Mãe!
O tempo arde
Enquanto assumes a coragem
Que pertence a meu Pai covarde.
Porque te não envergonhas
Das minhas passadas?
Porque me ajudas e confortas?
Estão fechadas para ti
Todas as portas.
Há mistério
No mistério de ser mãe.
Pareces levar a sério
O que mais ninguém
Escuta
Ou acredita.
Minha errante caminhada,
Minha solitária desdita.
Tens o tempo
Esculpido na pele,
Mas permaneces suave
E acolhedora,
E vive em ti a força que me impele
A caminhar para a sepultura.
És o conforto.
És o tempo que não passa.
Avé Maria, minha Mãe,
Sempre cheia de Graça!
Não és menos
Por não seres divina.
Ainda hoje subirás esta colina.
E, faças o que depois fizeres,
Teu lugar é perene
No coração de todas as mulheres.
Deixa-me ir, Maria,
Pode ser que o meu calvário
Neste funesto e rigoroso dia
Ao menos te salve a ti .
Ao menos a ti…
Seja feita a Sua vontade!
Seja ela qual for.
Viva Ele na impunidade,
Morramos nós no Amor.
E essa,
Será nossa vontade realizada.
Hoje, filho de um Deus órfão.
Amanhã, em teu colo aconchegado.
Restará somente uma verdade:
O que n’Ele for violência
Em Ti será Piedade.
jpv – Via Crucis – IV
Via Crucis – Terceira Estação

III – Terceira Estação
Jesus cai pela Primeira vez
Senti o chão fugir
E caí pela primeira vez
Sabendo que voltaria a cair.
É este o meu fado,
É esta a minha sina,
Cair e levantar-me
Até subir a derradeira colina.
Quantas vezes cai um homem?
E quantas se levanta?
Quantas vezes se ilude?
E quantas se desencanta?
Tinha forças para caminhar,
O passo firme e certo.
Com essas forças vim a tombar
E o destino não está perto.
Dá-me coragem, Pai!
De todas as tarefas que me Deste,
De todas as exigências que Fizeste,
Morrer é a mais fácil.
Difícil é levantar-me.
Sou um homem prostrado
E, uma vez levantado,
O meu Destino é cair de novo.
Não sei onde me agarre.
Não conheço quem me ampare.
Sei que preciso erguer-me
E caminhar.
Como te percebo, Lázaro!
Dormias o sono tranquilo
Da eternidade
E ordenaram que te reerguesses
Para esta vida de tombos.
Mas há este sentido,
Esta força indómita
E invisível,
Que torna possível
O esforço maior.
Reergo-me, Pai, e ando.
E aguardo, paciente,
O pior!
jpv – Via Crucis – III
Via Crucis – Segunda Estação

II – Segunda Estação
Jesus carrega a Cruz às costas
Sem direito a opinião,
Sem reconhecimento nem louvor,
Carrego a nossa cruz
Como se Te fizesse um favor.
O que mais me dói,
O que me perturba mais,
É não perceber a razão
Desta dádiva
De violência
Nascida em Ti,
Morta na minha Paixão.
Porque me castigas, Pai?
Carrego a cruz da dor
Em nome do Amor,
E carrego, fustigada e desiludida,
A cruz da minha vida.
Pobre madeiro cruzado!
É leve,
Ainda que pareça pesado.
Não exige mais do que a carne
E o sangue
E o suor.
Já a vida,
Pede coisa maior.
É preciso,
Como pediste,
Entregar-lhe o Amor,
A Esperança e a Fé!
E permanecer,
Na tempestade,
Digno e de pé!
Como não cair, Pai?
Como não ceder à tentação?
Como merecer tudo
E depois morrer pela Paixão?
Feitas estão as coisas…
Determinadas e irreversíveis.
E, de entre as promessas possíveis,
Ofereceste-nos a Vida Eterna.
Se ao menos fosse terna,
Agradável e doce,
Ainda que efémera fosse…
Não prometas, Pai!
Não prometas o palácio
Se só podes oferecer os escombros.
Sabes, Pai,
Somos nós que levamos a cruz aos ombros!
jpv – Via Crucis – II
Por causa dA Dívida – XIV
Boas leituras!
Via Crucis – Primeira Estação

I – Primeira Estação
Jesus é condenado à Morte
Condenado à morte.
Entregue à minha funesta sorte.
Já nascido,
Preparado, já,
Para a caminhada.
O pó nos pés,
Pela frente,
A imensa estrada…
Nasci condenado,
E tenho no horizonte
Uma vida inteira.
Inspiro a luz,
Bebo o azul
E é dessa bebedeira
Libertadora
Que nasce a vontade,
Do espírito, dominadora.
Ir mais além!
Descobrir,
Soltar amarras.
Içar velas
E partir.
Tenho o caminho traçado.
Há nele virtude,
E há nele pecado.
Há nele desejo,
Homens
E mulheres,
E há opções,
A escolha das direções,
As feitas
E as que ficaram
Por fazer.
Umas determinaram o meu ser.
Outras,
O meu ser determinaram.
Ainda agora nasci
E sei que vim para morrer
Por quem nunca
O virá a merecer.
É trágica a fortuna
De poder escolher tudo
E nunca poder
Escolher coisa nenhuma.
Chamastes livre, ao arbítrio,
Mas de livre tinha pouco.
Nasci são,
Entreguei-Vos minh’alma na mão
E morri louco.
É ingrata e dura
Essa sublime paixão
A que Chamastes loucura,
E é a única verdade,
A única genuína liberdade.
A que se realiza
No limite da insanidade,
Nesse paraíso
Onde não há tempo nem idade.
O Senhor esteja convosco,
Dissestes,
Mas não Viestes
Para o meio de nós.
E, assim,
nascemos sozinhos
E morremos sós.
Seguirei Vossas palavras
Desenhando meu caminho.
Evitarei o falso ouro
Que seduz
E,
Para merecer o que me não Dareis,
Carregarei às costas,
A nossa pesada cruz.
jpv – Via Crucis – I
Via Crucis – Apresentação

Caros Amigos e Leitores,
Em breve, iniciarei a publicação de uma história intitulada “Via Crucis” que terá tantos textos/capítulos quantas as estações da Via Sacra.
Não será, forçosamente, uma história de índole religiosa, embora… enfim, como sempre, deixo as interpretações ao vosso critério.
A novidade, verdadeira novidade, desta história, é que ser-vos-á apresentada em Género Lírico! Assim, o índice será colocado ao fundo, junto aos índices dos Livros de Poesia.
Pois, o mais certo é ficar uma confusão pegada, mas… o que é a vida sem um risquinho ou outro?!
Até já!
jpv
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Conceção

Conceção
O verdadeiro milagre
da Conceção
Foi eu ter nascido
Sem lugar nem razão.
Sem culpa concebido,
Nem mácula, nem pecado,
Veio ao mundo, parido,
O infante desejado.
E correu a notícia
Por terras e gentes,
Abriram-se garrafas
Entre amigos e parentes.
E veio ao mundo
Esta luz,
Este raio de desejo
Que me conduz.
E acreditei na consciência,
E vi a missão,
Senti o ritmo e a cadência,
Da vida no meu coração.
E quis.
E fui.
E procurei
O sentido.
E só quando me encontrei,
Percebi que estava perdido.
É ingrata, esta sina.
Esta mente nova e peregrina
Ainda não se deu conta,
Ainda não percebeu
Que a vida em mim
Veio ao mundo
E já morreu.
jpv
Encarnado
Encarnado
Há, nesse vestido encarnado,
A letra vertiginosa
De um fado.
E há, no teu peito sardento,
A luz de um fogo ardendo,
De um desejo queimado.
Tens curvas em convite,
Concebidas para aguçar-me o apetite
De aventuras,
De loucuras,
De paixões,
De palavras abafadas pelas emoções.
E tens volúpia no olhar,
Prato picante e forte,
Condimentado pelo teu decote.
Só te falta sorrir…
Ou talvez não,
Que é bem séria, a pose,
De teu seio
Desenhando-me a mão.
jpv


