Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


Deixe um comentário

Colar Cartazes – O Desconto


Posso afiançar que o cartaz acima está num quiosque de uma conhecida estação do Metro de Lisboa. E ocorreram-me de imediato 2 pensamentos:

      a) Menos 100€ do que quê? É que, sem saber o preço, até se pode acrescentar 200 para tirar 100!

         b) E traz as peças todas?!


Deixe um comentário

O Almoço do Predador

Com o devido respeito pela Pastelaria Chafariz, a verdade é que num dia da semana passada almocei o que a imagem documenta. Sabia bem, não obstante ser uma massa mais ou menos informe donde se divisava qualquer coisa cujo aspeto lembrava fiambre. Nham, nham..


A vida pode descer pouco mais quando o predador está reduzido a 120gr de coisa nenhuma… Andou uma mãe uma vida inteira a criar um filho para ele acabar a mastigar uma Milaneza Mista Folhada.

jpv


Deixe um comentário

Via Crucis – Décima Segunda Estação

XII – Décima Segunda Estação

Jesus Morre na Cruz

Só agora Te compreendo, Pai.
Fui teu instrumento
De Amor.
E indignei-me
Como se a minha vida
E a minha vontade
Tivessem outro intento
Que não fosse a redenção.

Só agora percebo, Pai,
Porque entregaste teu filho.
Para reunires o rebanho
E o recolocares no trilho,
Para o abençoares de Amor.
Perdoa-me, Pai,
Porque duvidei,
Mas agora sei
Teu propósito e tua intenção.

Amar.
E pelo Amor, a salvação.

Leva para junto de ti
Este arrependido que me fala.
Os seus erros
Ferem-no como lanças.
Roubou e saqueou,
Mas tem nos olhos crianças
Amedrontadas.
E leva estes que me pregaram na cruz
E essas mulheres que choram,
Aqueles que no templo oram
E os que Te falam em pensamento.
Leva aquele velho, ali,
Que guia o jumento,
Ou é guiado por ele,
E leva o jumento também.
Leva-me a mim, Pai
E leva minha mãe.
E essas pessoas na colina,
Os que vão para baixo, indiferentes,
E os que rumam cá acima.
E leva os vendilhões do templo
E leva os pastores,
Leva os que guerreiam
E os que morrem de amores.
Leva os novos
E leva os velhos,
Leva os sãos
E os enfermos.
Não estabeleças termos
Nem condições,
Pai.
Leva-os todos!
Sem qualquer distinção
na cor da pele,
Na religião
E na Fé.
À margem dos seus ideais
E das suas opções,
Quer sejam virtuosos
Ou corrompidos pelo vício,
Este dia marca o início
Da vida imorredoura.

É o dia em que morre o pecado.
O dia da única redenção.
Deixa-me morrer confortado
Pela sua vida,
Pela sua absolvição.

Perdoa-me, Pai,
Porque duvidei.
Só agora sei,
Só agora Te compreendo.
Hoje é o dia da partida.
Morre a morte com teu filho,
Nasce a vida.

Sacrificaste-me.
Permite que não seja em vão!
Não escolhas, Pai,
Mostra a todos o caminho da salvação!

jpv – Via crucis – XII


Deixe um comentário

Via Crucis – Décima Primeira Estação

XI – Décima Primeira Estação

Jesus é pregado da Cruz

O ferro rombo
E envelhecido
Acorda-me o espírito
Adormecido.
Entra-me na carne aberta
E livra-me dela.
Deixa-me a mente desperta.
Erguem-me,
E o meu corpo elevado
Fica
Preso à sua materialidade.
A alma, outrora contrita,
Exala e voa…
Não há dor que doa
Mais do que a escuridão,
Do que o néscio negrume
Da ignorância.
Chega ao fim o sacrifício
Da errância
E invade-me
O alívio da missão cumprida.
Morre a morte.
Nasce a vida.

Perdoa-lhes, Senhor,
Porque eles sabem o que fazem.

Um temor só,
Um só sobressalto,
Olhando o pecado
Cá do alto,
Não sei se foi útil
Ou em vão…

Sou o Cristo redentor,
Limpo com a minha dor
A vossa dor maior.
E pensais que é o fim
Porque quando me olhais
Só me vedes a mim.

Contemplai os meus gestos!
Ouvi as minhas palavras!
Aprendei e divulgai a lição!

A minha morte é só o princípio
De um novo esplendor.
Vim trazer-vos a vida eterna
Pelo milagre do Amor.

jpv – Via Crucis – XI


Deixe um comentário

Via Crucis – Décima Estação

X – Décima Estação

Jesus é Despojado das suas vestes

Não tenho nada.
Nunca tive nada.
Não temos nada.
Nunca tivemos nada.
A nossa Natureza é nua
E despojada.

Estes pensam que me despem,
Mas é a sua alma que resta nua.
Estas vestes,
Estes trapos,
São a terrena
E imediata ligação
A um mundo de que me despeço.
O tangível.
Ao alcance da mão.

Tiram-me as roupas
Para que lhes entregue a vida.
Condenam-me
E salvo-os.
Pensam que a tenho perdida
E só eu lha posso oferecer.
Pensam que venho morrer,
Mas venho para que possam viver.

É pobre, a carne.
É fraco, o corpo,
E pouco pode.
Ainda hoje me subirão
Por suas mãos
E por suas mãos
Me hão de descer.
Tratarão deste corpo
Sujo e ensanguentado,
Vê-lo-ão fenecer.
E eu estarei ocupado
Garantindo que possam viver
Livres de seu próprio pecado.

Terão dúvidas.
Hesitarão.
Terão pena de mim…
Só eu estou certo
Do meu fim,
E seguro.
Só eu sei
Que hoje começa o futuro!

Não quero mais
A matéria.
Não quero essa vil e material
Miséria
Que é ser escravo do corpo.

Vem buscar-me, Pai!
Está quase terminado
O sacrifício.
Despirei depois minha’alma
Deste corpo que a vestiu.
E descansarei junto a ti,
Já só ideia,
Já só luz,
Que estes perdidos cordeiros
Conduz.

jpv – Via Crucis – X


Deixe um comentário

Via Crucis – Nona estação

IX – Nona Estação

Jesus cai pela Terceira vez

É pesada, a cruz, Pai.
Não me chega teu conforto, Mãe.
Foi preciso cair de novo
Para que tenha mais valor
Aos olhos do Povo
A força de um homem
A reerguer-se.

Senti o chão fugir
E caí pela terceira vez
Sabendo que não voltaria a cair.

Não voltarei a descer ao solo
Senão já morto.
Ver-me-eis pregado na lenha desta cruz.
Contemplar-vos-ei suspenso
De um madeiro de luz!

jpv – Via Crucis – IX


Deixe um comentário

Via Crucis – Oitava Estação

VIII- Oitava Estação

Jesus encontra as Mulheres de Jerusalém

Estas mulheres que me cercam
E rodeiam
Não conhecem as razões
Que me incendeiam.
Cada uma sabe de mim
Só o homem que experimentou.
Nenhuma conhece
O homem inteiro que sou.
Da minha vida e da minha alma,
Não são mais do que breves estilhaços,
Mas são elas que dão sentido
Ao disperso dos meus traços.

E sofrem,
E choram por mim.
As mulheres que me acompanharam na vida
Vêm confortar-me no fim.

E sei-as!
Percorro, com facilidade,
Os caminhos da sua dor.
Reconheço-as na fraqueza
Como as conheci no fulgor.

E sofrem,
E choram em pranto.
Não era preciso tanto.
Não era preciso
Esse choro emprestado.
Aos invés de chorarem por mim,
Deveriam carpir o sangue,
Por seus filhos,
Derramado.

Erguei-vos, mulheres de Jerusalém,
Mulheres do mundo inteiro.
Secai essas lágrimas de dor
E má fortuna
E contemplai o corpo
Do homem completo.
Limpai-o e tratai-o,
Que, amanhã,
Sereis testemunhas
Do Cristo ressurreto!

jpv – Via Crucis – VIII


Deixe um comentário

Via Crucis – Sétima Estação

VII- Sétima Estação

Jesus cai pela Segunda vez

Senti o chão fugir
E caí pela segunda vez
Sabendo que voltaria a cair.

Não interessa a correção,
Nem a melhoria.
Não interessa a insistência,
Nasce sempre o dia
Em que cair se torna reincidência.

Cair e erguer.
Eis o cíclico percurso
Até morrer.
A única forma
De ver a luz pela queda
É aproveitar o tombo
Para aprender.

Caí, já.
E já me levanto.
Fi-lo em pouco tempo.
Não seja para vós motivo de espanto,
Antes sirva de exemplo.

jpv – Via Crucis – VII


3 comentários

A Tristeza que Fica


Não, amigos, não vou cair no elogio fácil.
Um homem como Gabriel Garcia Marquez já tem os elogios todos e o mérito deles.
É uma alma superior, um escritor de eleição.
Os seus livros marcaram o meu crescimento como homem e muitas das suas passagens constituem para mim exemplos de vida e escrita.
Ainda recordo as suas palavras acerca da importância do primeiro parágrafo de um livro na captação da atenção do leitor. Lembro a magia das palavras, o Ser Humano revelado,  a sensibilidade, o amor, a vida, a morte e a transcendência dela.

Hoje é um dia triste. O homem vive. O escritor já não. Pouco há a dizer. O mais relevante é que as suas obras serão Património da Humanidade para sempre. E a tristeza… a tristeza fica nos corações daqueles que se entusiasmaram, que se entusiasmam e que para sempre se entusiasmarão olhando o mundo e a Humanidade através das palavras do mestre.

Obrigado, Gabriel!
jpv


2 comentários

Via Crucis – Sexta Estação

VI- Sexta Estação

Verónica limpa o Rosto de Jesus

Terá o teu nome, esse pano,
E correrá do Mundo
As sete partidas.
Dia após dia,
Ano após ano,
Todas as fronteiras serão vencidas.
E vingará teu gesto
Na sua simplicidade,
Será a bandeira
Da caridade.

Que rosto me limpas, Verónica?
Que manchas vês?
Já não tenho rosto!
Dei-o por meu Pai,
E depois entreguei as mãos,
E agora o fôlego deste corpo que cai.
Não te importuna meu sangue impuro.
Não te aflige meu suor.
Limpas a face deste homem sem futuro
Que morre por um tempo melhor.
Mas não virá!
Terei de morrer
Outras vezes ainda,
Que o pecado dos homens
Não finda.
Tu mesma pecarás, Verónica,
E este teu gesto
Que me limpa
Não te lavará a alma.
Por isso terei de voltar
E morrer de novo.
Também por ti!

Pelo que vi e senti
Neste Mundo infetado,
Tem raízes fortes e fundas
O pecado.
Precisava de uma mão como a tua
Que fosse de porta em porta,
De rua em rua,
Limpar o pecado do mundo
Com pano prenhe e fecundo
De caridade.

E é por isso que reclamo e protesto:
Humanos, pecadores e impuros,
Repeti, de Verónica,
O gesto!

jpv – Via Crucis – VI