Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 56

Meu Amor,

Recebi a tua carta em papel perfumado que fiquei beijando infinitamente. Agora mesmo, enquanto alinhavo estas palavras no teclado, tenho-a aqui comigo.

Até ao falecimento da minha esposa, vivi um matrimónio feliz, mas nunca, efectivamente, com a ilusão e a fantasia que há em ti, em nós.

Quero que sejas a minha princesa, quero ajudar-te nos momentos de dificuldade e dor e quero partilhar contigo os sucessos e as conquistas. Sim, acho que ainda temos muito tempo para conquistar coisas à vida.

Senti-te sempre tão feliz, tão natural e relaxada… É assim que quero a vida contigo, um fruir sereno da companhia e da vida.

O trabalho toma-me muito tempo, mas preciso roubar esse tempo às obrigações para estar contigo.

Enamorado, serodiamente enamorado e feliz

Eduardo Luís.

PS: Precisamos combinar como conhecerei os teus filhos. Se não te incomodar a ideia, gostava de conhecê-los.


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"Com Amor," – Documento 55

Meu Amor,

Escolho o papel para que o meu toque e o meu perfume possam viajar até ti. E, sobretudo, para que permaneça o testemunho.

Os dias que passámos juntos foram perfeitos. Não foram só a magia e o exotismo de Barcelona que me encantaram. Isso também. O cenário perfeito. Foste, sobretudo, tu. O teu olhar terno procurando o amor nos meus olhos, as tuas mãos desvelando-se em carícias pelo meu corpo, a tua voz serena acariciando as palavras de ternura que sempre escolhias para me dizer, a tua gentileza, o teu cuidado.

Nunca sabemos, meu amor, quais são os caminhos da vida, que percursos nos reserva, mas sabemos sempre que podemos escolher as nossas pequenas passadas, os nossos próprios caminhos.

Não sei o que a vida me reserva, mas sei que quero caminhar em direcção a ti e caminhar a vida contigo.

Com Amor,

Verónica


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"Com Amor," – Documento 54

Laura,

Sendo franco e directo: não completamente ao lado porque, noutras circunstâncias, vejo-me a escrever-lhe aquilo, ou, se quiser, é para mim plausível que um dia pudesse nutrir por si aqueles sentimentos. Claro que entre “onde estamos” e “aquela situação” há um mundo de barreiras.

Depois da resposta obrigatória, uma pergunta inquietante. Revê-se inteiramente na minha teoria porque a teoria é boa ou porque vive, neste momento, aquela situação?

Rui


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"Com Amor," – Documento 53

Porque não completamente ao lado? (resposta obrigatória!).

As mulheres, Rui, salvo excepções, erram menos nesse departamento. Acho que os homens são mais dispersos e predadores. As mulheres têm um maior sentido de família. Só por isso vos aturam as sacanices e as criancices todas. O sentido de lealdade é mais apurado nas mulheres. Talvez seja genético. Não estou a pôr em causa as suas motivações nem a bondade delas, mas se há esse amor tão forte e pungente porque não se decide por ele?

Em todo o caso, há uma justiça que quero fazer-lhe. De facto, nunca havia visto, ouvido, lido, uma explicação tão certeira para o fenecer de um relacionamento. Nós, mulheres, talvez por estarmos mais ligadas à zona afectiva das relações, tentamos encontrar explicações para o sucesso e insucesso delas numa axiologia do “haver amor” vs “não haver amor”. A sua explicação é interessante porque preserva, em hipótese, o “haver amor”, preserva até a intenção de cada elemento do casal manter-se nele, mas trata o casal como um organismo autónomo, com vida própria, logo, morte própria, também. O casal pode estar em falência independentemente das vontades individuais… Engenhoso. Muito provavelmente correcto. Pelo menos para mim, que me revi inteiramente na sua teoria.

Não se esqueça da resposta obrigatória.

Laura


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"Com Amor," – Documento 52

Laura,

Posso reconhecer-lhe algum espírito e até algum atrevimento, ainda assim, garanto-lhe que se tratou de um lapso, mais nada. Desolé!

Não foi longe. Foi ao lado. Talvez não completamente ao lado, mas, em todo o caso, ai lado.

Grato por haver destruído a mensagem.

Por fim, a farpinha, o espinho que quis deixar a incomodar-me o espírito; “Ai, ai, os homens…”
Os homens, Laura, tal como as mulheres, também podem cansar-se de uma companheira, de uma relação e de uma forma de vida.
Eu estou casado com a Patrícia há quase vinte anos e se vejo em mim um homem de muitos defeitos e algumas virtudes, garanto-lhe que a Patrícia tem muitas mais virtudes do que eu e a maioria das pessoas que conheço. Como tal, não é ela, a mãe, a esposa, a companheira que está em causa. Nem o amor que me tem ou lhe tenho. É o casal que foi vítima dos anos que passaram, dos desgastes, das crises e das rotinas e acabou crescendo em direcções opostas e acabou deixando de funcionar como um casal. Neste momento, o meu casamento resume-se a duas pessoas que vivem juntas, cumprem a sua parte de um contrato e têm filhos em comum. Não é pouco, mas não chega.
Não estou a justificar-me. Os meus actos são os meus actos e assumo-os. Estou só a dizer-lhe que os homens também sentem e também têm motivações nobres para os seus actos menos nobres. Os homens não são todos uns sacanas, Laura. Há homens que amam e há-os também que erram por amor.

Não sei porque lhe escrevo isto. Desculpe.
Maldito engano.

Rui


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Com Amor, – Documento 51

Errado, Rui, errado.

Nada nasce do acaso. Em última análise, foi mesmo e só um engano, mas e se não fosse? Que razões estariam por trás de um lapso desse tipo? Sendo a mensagem privada e importante, seria de presumir que tivesse todo o cuidado no envio, a menos que possa inferir-se que, na sua cabeça, ou no seu coração, ou num recôndito qualquer das suas intenções, quereria, gostaria, de enviar-me uma mensagem com aquele teor.

Ok. Fui demasiado longe! Peço desculpa. Só escrevi para dizer que já apaguei o e-mail e que já nem me lembro dele.

Volte tranquilo à sua vida.
Ai, ai, os homens…

Laura.


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Com Amor, – Documento 50

Laura,

Retomo, sem querer voltar a ele, o assunto do meu engano porque me esqueci de comentar uma frase sua que me pareceu deveras intrigante: “Não sei porque se enganou…”

Um engano é um engano. Não há outra razão para que exista. Certo?

Rui.


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Com Amor, – Documento 49

Verónica,

A tua vida já corre desenfreada e está tomando conta de ti, da tua existência. Isso quer dizer que estás no caminho certo.

Voa, minha amiga, voa…

Desejo-te tudo de bom. Todas as realizações.

Rui


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Com Amor, – Documento 48

Meu homem Rui,
Agora sim, apaixonada.
Tranquila e serenamente apaixonada.

A vida é tão bela com serenidade, Rui. Sem sobressaltos. O Eduardo passeou comigo de mão dada pelas Ramblas, visitámos o Parque Guel, a Sagrada Família, comemos paella numa ruela estreita nos arredores da Catedral de Barcelona. À noite fomos assistir a um espectáculo musical e o amor… Rui… o amor… as pessoas encontram outras formas e outros caminhos e outros ritmos para as carícias e são sempre formas íntimas de entrega.

Ele quer conhecer os meus filhos, Rui. Parece um jovem entusiasmado com a perspectiva de uma nova família. Quis partilhar contigo porque… porque tu és tu!

Com carinho,
Verónica.


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"Com Amor," – Documento 47

Caro Colega,

Não sei como lhe diga isto. Pensei mesmo se deveria dizer-lho. Decidi fazê-lo e da forma mais simples e directa possível. O mail que escreveu e segue abaixo não me era dirigido. Enganou-se, por certo.

Não sei porque se enganou mas isso não interessa nada. Não vou fingir que não li. O mail vinha endereçado a mim. Quando me apercebi do engano, o primeiro impulso foi ignorar que o tinha recebido, mas depois assaltou-me a ideia de não saber de o Rui ia reparar e, consequentemente, se a verdadeira destinatária receberia alguma vez a mensagem.

Por isso resolvi devolver-lha com esta nota. Faça de conta que nunca a li.

Laura Duarte.

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From: ruidaniel.sousa82@gmail.com
To: lauraduarte1960@gmail.com

Querida Verónica,

Como foi esse fim-de-semana? Conta-me, conta-me, conta-me…

Sou um homem de paradoxos. Queria que esse fim-de-semana fosse comigo e, ao mesmo tempo, queria que fosse tão maravilhoso quanto desejaste com esse teu tranquilo e sereno companheiro.

Como te amo, Verónica! Tanto que sou capaz de abdicar de ti pela tua felicidade. Há algo de perverso nisto, eu sei.. mas… é assim.

Com Amor,
Rui