Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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"Com Amor," – Documento 27

Meu Homem Rui,

Fiquei com um pormenor a saltitar-me na cabeça. Uma comichão mental. Um dia destes estava a passar os canais de televisão e detive-me num porque alguém desenvolvia uma teoria interessante. Era uma daquelas entrevistas em que o entrevistado está de costas, na penumbra, para não ser identificado e a sua voz surge distorcida. Quando por lá passei, defendia que as mulheres gostam de fazer amor com outras mulheres por razões diversas sendo uma delas a suavidade calorosa da pele. E fez uma comparação. Disse que nos homens havia aspereza. Nas mulheres, suavidade.

E eu pensei em ti. Não é que isto constitua surpresa. Hoje em dia penso em ti a propósito de quase tudo e por quase nada. Pensei em ti porque, efectivamente, meu homem Rui, houve nos homens com que me cruzei até hoje essa aspereza no toque que, em certa altura, confundi com masculinidade, mas que é só mesmo aspereza. E houve também uma avidez devoradora muito centrada neles. Nunca cheguei a perceber se faziam amor comigo, ou se eu era só o instrumento de fazerem amor com eles próprios! Dá para perceber?

Tu foste diferente. Os teus movimentos, as tuas carícias, os teus sons, eram, antes de mais, para nós e nunca me esqueceram. Quase se pode dizer que estavas fazendo amor e sendo atencioso ao mesmo tempo. E o toque, meu homem Rui, não sei como fazes, fizeste, mas não senti essa aspereza de outros companheiros. O vigor e a energia, sim, mas o toque, Rui… foste suave como sedas orientais. Deslizaste sem impor. Dançaste comigo a dança de fazer amor. Um tango perfeito.

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Duvido, Rui. Duvido sempre. Mas quero-te de novo em mim. Quero de novo a seda do teu toque no meu corpo.

Com Amor,
Verónica.


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"Com Amor," – Documento 26

Olá, Minha Menina Verónica,

O amor é uma forma de revolução, de reencontro e de libertação. É uma revolução nos nossos sentimentos comuns e consentidos, é a libertação da verdade e a única verdade é amar.

Sim, mantém-se o desejo e se há momentos em que rememoro as linhas elegantes e sensuais do teu corpo, também os há em que não vejo senão o teu olhar procurando abrigo no meu e nesses instantes prevalece o amor ao desejo. Eu já percebera que eras assertiva, que sabias bem o que querias, mas não imaginava que tudo isso pudesse sentir-se na tua volúpia fogosa, no teu sentir fundo cada respiração. Não me interessa nada se foi sexo ou amor. Interessa-me que ambos quisemos e interessa-me que foi lindo.

Não podia haver pecado, minha menina Verónica, precisamente porque foi em consciência e precisamente porque foi harmonioso. Sabes, às vezes ouso colocar-me no lugar de Deus e pensar como julgaria os actos dos humanos. Neste caso, no nosso caso, nem julgaria. Que fazer perante a realização plena do amor senão assentir e consentir? Era preciso ser um Deus muito deslocado do amor para condenar o que aconteceu entre nós. E sabes que mais? Foi bom… gostoso…gostei em particular daquele momento em que tu… esquece! Tu sabes ao que me refiro. Acho que se notou!

Antes que isto aqueça mais, deixa-me dizer-te, minha querida, que quero mais do que reencontrar-te. Quero reencontrar-nos. O quanto antes!

Teu homem Rui.


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"Com Amor," – Documento 25

Meu Homem Rui,

Escrevo-te em papel, para o trabalho como combinámos, para que me sintas mais próxima de ti, para que toques o papel que eu toquei, para que admires o selo que eu colei, para que sintas o perfume do papel que eu perfumei.

Agora percebo o que dizes sobre tomar decisões em consciência. O que aconteceu entre nós roçou a perfeição, pelo menos, a perfeição de amar. E não houve pecado naquilo que fizemos. Não pode haver pecado numa entrega assim, num amor e numa harmonia tão divinais. Sabes, Rui, os mails são mais rápidos e mais eficazes, mas hoje quis escrever-te em papel para cristalizar e materializar o que aconteceu entre nós e o que aconteceu entre nós foi como a nossa escrita, mas com o requinte do papel que tem um toque particular e um odor próprio.

Andei-me revelando nos teus braços, andei-me entregando e andei recolhendo-te no meu corpo. Conversámos olhos nos olhos, Rui, e esse foi outro milagre. E depois despimos roupas e preconceitos e todo o universo cristalizou à nossa volta. Ninguém viveu, nem morreu, nem correu, nem andou, nem sonhou, nem trabalhou, enquanto nos amámos. O mundo suspendeu-se da sua vida e da sua existência.

Não resisti porque não quis. E não quis porque quis. E tinhas razão, meu homem Rui, nada mais havia naquele momento que valesse a pena ser vivido, nada mais havia que valesse a nossa respiração, o nosso tacto, o nosso olfacto, a nossa visão, nada nos nossos sentidos e nas nossas capacidades, nada nos nossos gestos tinha outra intenção que não as carícias a incendiarem o desejo e o bailado dos corpos na entrega. E vem-me de novo à mente aquela tua teoria do sexo e do amor. Não sei exactamente o que foi, mas nenhum deles ali esteve sozinho.

Neste momento, Rui, não vejo nem sinto mais nada que não seja o desejo de reencontrar-te.

Tua menina Verónica.


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"Com Amor," – Documento 24

Minha Menina Verónica,

A mudança mais importante é a que se faz por dentro. São as decisões que tomamos de nós para connosco. Foi um gesto de coragem, Verónica, foi um gesto de coragem. Sabes, é precisa muita coragem para amar.
Se desse para fingir, não era amor, minha menina Verónica, era outra coisa, uma coisa espúria e secundária. Isto que sentimos e vivemos em comum, ainda que separados, não pode ser fingido porque tema força da evidência e da verdade que lateja no peito. Não nos vejo no futuro, se era sobre o futuro que me interrogavas, mas vejo-nos hoje. E vejo-nos lindos, apaixonados, teimosos, ternurentos e inseguros como os miúdos aos 18 anos. E vejo-nos juntos conversando, brincando, cozinhando, comendo, amando… não me é difícil imaginar-nos, Verónica, porque é como se sempre nos tivéssemos conhecido.

Não há Céu nem Inferno. Há vida e há opções. Em relação a isso discordamos, mas acho que te referias mais a como nos sentimos relativamente a uma decisão que tomamos do que em relação a uma situação de vida. Toma as tuas decisões em consciência e estarás no Céu mesmo que seja um Inferno! Houve algo que gostei na tua formulação: a ideia de não resistires 🙂

Sim, irei até ti. Quero ser recebido pelos teus braços, quero entregar-me neles e quero receber-te nos meus. Quando nos abraçarmos, minha menina Verónica, mais nada existirá no universo que valha a pena ser vivido e isso é inestimável.

Amanhã ligo-te.

Teu homem Rui.


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"Com Amor," – Documento 23

Tenho medo, Rui. Meu homem Rui. Tenho medo e quero. Desejo.

Sim, é amor. É verdadeiro e é nosso. Pronto. Já to disse. E agora, Rui? Assumi. Lutei comigo, contra mim, venci as minhas próprias forças e assumi. E agora, Rui? O que muda? Dizias que as palavras são gestos também… Que gesto foi este? O que mudou com ele?

Há algo que nos aproxima, meu homem Rui, não sabemos fingir, não queremos expurgar o amor que nos invade porque não queremos fingir a vida. Mas há outras pessoas, Rui.

Sim, isto é um tudo, muito mais do que um nada! Mas sabemos nós lidar com este tudo? Como nos vês, Rui? Como nos vês? Não és uma mão cheia de coisa nenhuma, Rui, és uma plenitude. Consigo conversar contigo, perceber-te, perceber-me através de ti, sentir-me compreendida. Mas não me sinto segura, Rui! Nem é este medo por mim. Eu tomo conta de mim. É pelos outros, Rui. Mostras-me o Céu e o Inferno e não lhes resisto, nem a um, nem a outro. Uma mulher é um instrumento do Amor se é de Amor que falamos.

Vem até mim, Rui. Vem até mim e receber-te-ei em mim!

Com Amor,
Verónica.


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"Com Amor," – Documento 22

Minha Querida Verónica,

O sofrimento está em todo o lado, não só junto ao amor. É evidente que o sofrimento é um dos matizes do amor, mas é por isso mesmo que o amor é tão precioso. Se estivesse facilmente ao alcance de qualquer um, sem esforço, sem provação, sem a perspectiva da desilusão, não seria tão extraordinariamente valioso. Não basta amar. Há que superar as exigências que o amor nos faz para conhecermos a sua plenitude e é essa plenitude tem o preço do que é preciso sofrer para alcançá-la.

O que sofrerias tu por mim, Verónica? Pelo nosso amor? Posso admitir que não contes com nada. Que eu seja para ti uma mão cheia de coisa nenhuma, mas há entre nós este inegável tudo, esta força de atracção, este poder magnético que me faz querer tomar-te nos braços e acariciar-te e amar-te e fazer-te sentir o centro do universo do meu amor, desnudar-te o corpo e a alma e possuir-te ambos. E isto, Verónica, seja o que for, não é um nada. Está mais próximo de um tudo absoluto do que de um nada. Se pudesse, minha querida, esvaziava o meu coração e não pensava mais em ti, mas é ao contrário. A mais ténue lembrança de ti, da tua voz, do teu olhar, enche-me de esperança e vida e isto não pode ser nada, Verónica.

Sabes, minha querida, nós podemos expurgar isto de nós, podemos decidir não percorrer este caminho, mas o que não podemos é negá-lo. Não podemos negar esta força e esta corrente. Não podemos fingir que esta atracção, misto de querer o corpo e querer a alma, esta admiração vertida também na química do sexo possível, não existe.

Existe. É verdadeira e é nossa!

Com Amor,
Rui.


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"Com Amor," – Documento 21

Rui, meu homem Rui,

Não sei que te diga. Apetece-me ter a tua coragem e o teu desplante perante a vida. Pela primeira vez desde que nos escrevemos, vi ternura no teu atrevimento. Apetece-me pensar que o amor é um valor em si mesmo e que as outras coordenadas são geríveis separadamente, isoladamente. Mas, Rui, onde há amor, há sofrimento e uma mulher sabe isso. Toda a mulher sabe que, para amar, terá de sofrer. Toda a mulher sabe que, quando ama plenamente, pode contar com tudo, com toda a plenitude e todo o esplendor do amor, mas sabe também que não pode contar com nada. Nenhuma mulher vive segura do que representa para um homem ou do amor que ele lhe tem. São elementos, são sentimentos, são vectores incontroláveis e voláteis.

Não estavas a falar de sexo, Rui, eu sei, e foi isso que mais me assustou.

Verónica


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"Com Amor," – Documento 20

Verónica,

Eu acho que, por vezes, as pessoas em geral e as mulheres em particular, têm medo de usar as palavras. E também acho que, por vezes, têm medo de as ver usadas. A linearidade com que os homens encaram a vida, dá-lhes a vantagem de saberem com mais facilidade o que querem dela e, como tal, de se posicionarem e usarem as palavras com menos cautelas. As mulheres, por sua vez, não sendo mais complicadas, discordo dessa teoria, são mais profundas, mais complexas e isso leva-as a medir com prudência todos os gestos e todas as palavras que são gestos também. Repara, tu escreveste-me e leste-me e nunca tiveste problemas com isso, mas assim que o assunto é o amor e sabes que implica outras pessoas porque tens filhos e sabes que sou casado e tenho filhos, retraíste-te imediatamente e enclausuraste o amor dentro de um jogo de prudências, medições e mediações que o matam completamente. Enfim, quase completamente. Vamos às palavras-chave do teu mail. “Implicações”. São as que são. Tenho plena consciência delas à luz do que te disse e tenho também plena consciência de que só a mim cabe geri-las. Esse não é um problema teu, nem uma responsabilidade tua. As tuas implicações, isto é, as implicações na tua vida, cabe a ti gerir e não interfiro. “Lançar de escada”. Que expressão tão infeliz, Verónica, que expressão tão infeliz. Perante uma afirmação tão profunda e tão séria, perante o colocar das pedras do amor no tabuleiro da vida, tu falas-me em lançar de escada. Expressão marialva e prosaica. Não sei se reparaste, acredito que sim, eu não falei de sexo, nem nada que se pareça. Eu disse que tu precisavas de amar e eu estava no teu caminho. Quantas formas tem o amor? Até o escrito é válido, Verónica. Afinal, não precisei mais do que escrever para ter para ti um significado maior do que o próprio Deus. “Perdida”. Admito que sim, mas isso não invalida estares no meu caminho e esse ser um caminho de amor. O processo é simples. Precisas reencontrar-te, pacificar-te, e poderás, depois, perceber o que fazer com este caminho, mas não há dúvida de que estás nele tal como eu. Caso contrário o que significaria esta troca de mails? Não interessa que nos tenhamos zangado no início, Verónica, se vires bem, o que temos feito desde que nos escrevemos tem um nome: Chama-se NAMORAR!

Rui


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"Com Amor," – Documento 19

Rui, fiquei preocupada com o teu mail anterior. Não quanto a Deus e ao entendimento que temos da Sua presença nas nossas vidas. Esse assunto fica encerrado por agora.

Mas o teu PS. Não sei se escreveste o que escreveste consciente das implicações do que lá está escrito. Não sei se aquilo era um lançar de escada, como se costuma dizer, se era uma forma amistosa de terminar um texto, ou se há, por trás do que lá está escrito, um universo de sentimentos sérios e significativos. As mulheres, Rui, esta mulher, Rui, não brinca com certas palavras ou, pelo menos, não as usa levianamente.

Surpreendeste-me.Há ali um atrevimento que vindo de ti não me espanta. Só não sei o exacto teor dele. Fiquei preocupada, Rui. Preocupada e perdida.

Beijo,
Verónica.

PS: Se estiveres no meu caminho, não sei em que caminho estou.


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"Com Amor," – Documento 18

E quem me pôs no teu caminho para te ouvir?
Eu posso ser o instrumento de Deus na tua resiliência com Ele. Já te disse, não sou nenhum beato puritano, mas não viemos do nada nem estamos sós.

Rui

PS: Tu precisas de amar, Verónica. precisas muito de amar. O teu caminho é o amor e eu estou no teu caminho.