Crónicas de Maledicência – O Alucinante Domingo Português
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Crónicas de África – África Depois de África
Como a imagem documenta, fomos recebidos pela família e por amigos com bandeirinhas à porta de casa e a expressão “Bem Vindos” riscada no fundo de uma caixa de mines que bebemos com satisfação. Essa e outras. Rever a família foi fundamental. A mãe, a mana, o filho, os cunhados, os sogros, os primos, os tios, os amigos… Ainda não conseguimos vê-los todos. Tentaremos. Foi bom, foi reconfortante, o reencontro com o nosso país, as nossas gentes, os nossos rituais, a expectabilidade e a previsibilidade dos gestos das pessoas, dos serviços, dos equipamentos sociais. Tudo isso foi fantástico. E, contudo, essa organização e essa formatação, tão necessárias à nossa segurança e ao nosso bem estar, e que eu tanto prezo, foi aquilo que mais estranhei. África vive em mim nas coisas mais simples e impercetíveis do quotidiano. Há uma liberdade geradora, há improviso, há sonho, há esperança e há o acreditar de que ainda posso contribuir, de que ainda posso mudar.
A Europa, sendo mais confortável, é mais constrangedora dos nossos movimentos.
Sou tão português como sempre fui. Talvez mais. A condição de emigrante força-nos a reperspetivar o nosso país com olhos de benevolência adocicada pela saudade. Mas temo que, definitivamente, já não seja só português. Talvez tenha duas nações e talvez uma delas seja um continente inteiro. Nós podemos partir de África e regressar ao confortável ninho da nossa pátria, mas África não parte de nós. Anicha-se no nosso coração com a virtude da liberdade, dos sorrisos de esperança e com todas as suas vicissitudes e instala-se no nosso ser. África fica.
Às vezes temo ter duas pátrias. Quem sabe se um dia chego a Portugal e me sinto estranho e, estando em África, não estarei completamente em casa porque me falta o chão lusitano. Muitas pessoas vivem a dicotomia da identidade. Podendo ser de duas terras, não sabem bem a qual pertencem. Eu temo pertencer tanto às duas que venha a não pertencer a nenhuma. A Portugal regressa-se. É o “nostos” grego sem tirar nem pôr. De África nunca se parte. Em Portugal dominamos, mas temos a liberdade coarctada. Em África somos dominados, mas temos a liberdade à rédea solta. Em Portugal vive-se a segurança que se conquista ao preço de limitar horizontes. Em África, a insegurança representa um sem número de oportunidades num horizonte longínquo e indefinido de possibilidades de vida.
Nestes dias de manutenção de espaços e afetos, tem-me andado este país a enternecer, tem-me andado aquele continente a chamar. África depois de África, em Portugal.
Distância
Distância
Lá longe,
De onde te não vejo,
Lá longe,
Onde nada é igual,
Lá longe,
Cresce o desejo
De beijar-te o chão,
Ó Portugal.
Lá longe,
Em terra de promessas,
Acabas a viagem
Que começas
Em teu extenso e claro areal.
Há essa distância
Que nos separa,
Essa estranha sensação,
E rara,
Que é ter-te sob os pés,
Erguido e inteiro,
E não deixar
De me sentir estrangeiro.
Ser português
É ser de todo o mundo,
Pisar a terra estranha,
Cruzar o céu azul,
Atravessar o mar profundo
À procura de não sei quê.
É encontrá-lo,
Voltar para junto de seu povo,
Dar dois sopros,
Embalar o olhar na esperança
E procurá-lo de novo.
Ser português
É perder-se
Numa ideia,
É reencontrar a coisa perdida
Semi-coberta pela areia
Duma praia salgada.
É reinventar tudo
Com as mãos cheias
De nada.
Ser português
É partir
E é regressar.
É sentir
No peito a saudade
Da Pátria distante e,
Voltando,
Nunca mais cá estar.
jpv
Ansiedade
Ansiedade
Ansiedade de pisar-te,
Ó terra.
Ansiedade da tua luz.
Ansiedade de alijar
Este fardo,
Afrouxar esta cruz.
Ansiedade das tuas ondas
Limando a costa.
O odor marinho,
O sol doirado,
A mesa posta.
Ansiedade de encurtar o tempo,
De fintar a distância.
Trabalha-me no peito
Esta ânsia…
De ti.
Ansiedade das pessoas
Nos cafés,
Dos jornais desportivos,
Das noites melancólicas
E dos dias festivos.
Ansiedade dos afetos
E da família,
Ansiedade de mim.
Esta errância há de acabar,
Ó terra,
Quando cobrires o corpo
Deste teu filho que erra.
jpv
Crónicas de Maledicência – A Credibilidade da Troika
Crónicas de Maledicência – A Credibilidade da Troika
Portugal
Texto publicado pela
Mia Couto – Especial a Todos os Títulos
Crónicas de Maledicência – A Síndrome Juncker
A Síndrome Juncker
Quem é Jean-Paul Juncker?
É o Primeiro-Ministro do Luxemburgo!
Então qual é a autoridade que lhe assiste para afirmar que “Portugal não pode ter uma crise política”?
Nenhuma.
Mas fá-lo…
Claro! Governar Portugal a partir de fora tornou-se numa moda, pior, numa verdadeira síndrome!










