Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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SunFlower

SunFlower

One single minute
In within an all hour
That’s all it took
To see the blooming
Of the sunflower.

A generous curve,
A simple gesture
That you made.
The ground failed me
And all the world
Started to fade.

The sea in your eyes.
The smile of a lifetime.
The old man in me dies
For I want to make you mine.

jpv


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O Erro do Criador

O Erro do Criador

Vou deixar de sonhar.
São bons, os sonhos.
As pessoas é que não.
Fica sujo e imundo
Tudo o que é tocado
Por humana mão.

Vou deixar de sonhar.
É boa, a ilusão.
As pessoas é que não.
Fica pesada e vazia
Quando é varrida
Pela humana hipocrisia.

Vou deixar de sonhar.
São bons, os projetos.
As pessoas é que não.
Fica confuso e complexo
Tudo o que bebe
A coerência e o nexo
Que antes não existia.

Errou o Criador
Na Criação
E na Vontade.
Uma vez criado
O Universo e o Sonho
Para quê a Humanidade?

jpv


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Diálogo

Diálogo

Um fio de vida.
Uma luz,
Breve,
Antes da morte.
Uma alma perdida,
Entregue, só,
À sua funesta sorte.

Uma carta fechada.
Uma surpresa guardada
Nas entrelinhas
De uma palavra em riste.
Duas pessoas sozinhas
Uma da outra.
Uma manhã alegre.
Um fim triste.

Uma distância
A percorrer
Por um caminho
Que já não existe.
Um mar a navegar
Em rota
Sem horizonte.
Um rio.
Duas margens.
E a dolorosa
Ausência de uma ponte!

Assim caminho,
Sem arte
Nem ciência,
Conversando sozinho
Na companhia
Desta pobre e atormentada
Consciência!

Adio.
Mais não posso.
Nem quero.
Não há aqui motivo,
Nem fogo,
Nem ferro,
Nem esperança,
Nem música,
Nem dança,
Nem emoção,
Nem o vislumbre de uma razão
Para algo mais do que aguardar.
Aguardo.

Essa derradeira
E definitiva estocada,
A lâmina ensanguentada
Da minha vida,
O grito da alma perdida,
O silêncio final,
E a morte, enfim,
Redentora
E inaugural!

jpv


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Aguarela da Baía de Maputo

Aguarela da Baía de Maputo

Parecem barquinhos
De brincar,
Pousados
Sobre as ondas do mar.

Têm a forma perfeita
De um batel,
Desenhado
Nas dobras do papel.

São verde esperança,
Vermelho festa,
Azul eterno,
E negro luto,
Os barquinhos
Na baía de Maputo.

jpv


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Entre o Sono e o Sonho – Antologia Poética

Caros Amigos e Leitores,

É já no próximo sábado, 16 de março, o lançamento da Antologia Poética “Entre o Sono e o Sonho” coordenada por Gonçalo Martins e com a Chancela da Chiado Editora.

Será no Salão Preto e Prata do Casino Estoril pelas 15h.

Quem estiver por ali pode dar um saltinho e quem gostar de livros e poesia pode deslocar-se…

O Gonçalo teve a gentileza de convidar-me a integrar a antologia, o que aceitei com a maior honra, e só tenho pena de não poder estar presente, mas Maputo fica um bocadinho fora de mão…

Bem hajam!

jpv


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M de…

M de…

M de Solidária,
M de Persistente,
M de Amante
E Mãe da gente.

M de Perspicaz,
M de Sofrida,
M de Ipunemente
Agredida.

M de Dádiva,
M de Entrega total,
M de Proteção
À escala global.

M de Graciosidade,
M de Ternura,
M de Amor
Que perdura.

M de Elegância,
M de Sedução,
M de Querer
A tua roupa no meu chão.

M de Educar,
M de Resiliência,
M de Suportar
A vida
Com infinita paciência.

M de Solteira,
M de Casada,
M de ser a única
Que tem um M de Divorciada.

M de Trabalho,
M de Corpo,
M de Seio,
E M de Espera…
E o homem não veio.

M de Presença,
M de Paixão,
M de Crer,
M de tentar até morrer.

M de Inteira,
M de Companheira
Da companheira M.

M de Mulher
Para o homem que souber.

M sem mais nada,
Nua e despida,
M na morte toda,
Porque M toda a vida.

jpv


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Invocação

Invocação

Os cavalos do tempo
Percorrendo a praia,
A emoção ardendo
Na orla a tua saia.
O som compassado
E trepidante
Das bestas
E o tilintar rebrilhante
Das históricas armaduras.
Um exército de homens
Derrotando o medo,
Muitas e diversas sombras
Projetadas de suas figuras.
E o mar.
O sal da água
Salpicando os cavaleiros.
O sentido
De serem, do mundo,
Os primeiros.
E o peso.
Braço em riste
Num tudo ou nada
Jurado a Cristo
Na ponta da espada.
E tu,
Senhora de minhas mãos
Sem anéis,
Só tu conheces
Tantos e tão fiéis guerreiros,
Desses que morrem erguidos
E inteiros,
Por ti.
Jazem, abandonados,
Pelo chão,
Sem memória nem sentido,
Os cavaleiros da Nação.

jpv


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N’amurada

N’amurada

Um calor que sobe,
E a percorrer o corpo,
Um arrepio.
Um mar que fustiga.
Uma donzela
N’amurada do navio.
Um sol que nasce,
Uma lua prenhe e redonda,
Um mar encapelado,
Um homem a desafiar a onda.
Uma pintura inacabada,
Um pincel abandonado,
Um risco encarnado na tela,
Um caminhar desolado…
E feliz!

Um só pensar nela,
Um longe que é perto,
Uma ânsia de saber
Que o errado está certo.
Um coração encarnado a bater.
Mais forte!
Um azar que deu em sorte.
E vieste.
E chegaste
Donde te não esperava
Desarranjar este mundo
Que antes não prestava!

Um grito,
Um ato de fé,
Um autocolante pintado
Com “Amor é…”
Um linha de cintura
E um sensual movimento.
E, de repente, a terra dura
A perder-se no tempo.
Uma mulher
Que um homem quer
E deseja,
Uma ousadia,
E agora já a tem.
Um bem querer
E um querer bem.

Uma luz trémula
A enfeitar dois corpos despidos,
E num átomo de tempo,
Dois amantes vencidos.
Um poema
E uma poesia,
Uma coruja piando na noite,
Um rouxinol alegrando o dia.
O tempo a passar
E a neve da vida,
Branca e paciente,
Veio nos pintar.
Mas a donzela, lá está,
N’amurada do navio
Para eu adorar.

Ah! Amor, que és uma religião.
Um tempo que me falta,
Um tempo que me sobra,
Uma suave emoção.
E o arrebatdor desejo de não morrer,
Quanto mais não fosse,
Para te ver,
Cada dia,
N’amurada do navio
A preencher
O meu horizonte…
Outrora vazio.

jpv


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Poema da Mala Vazia na Beira da Estrada

Poema da Mala Vazia na Beira da Estrada

Revoltaram-se,
os teus olhos,
contra mim!
Olharam
A vida vazia
E pensaram que era o fim.
São curiosos,
Os olhos,
Veem e pensam.
Encontram na beira da estrada,
Sem sonho,
Nem noite,
Nem alvorada,
A mala onde
Outrora
Esteve a fantasia.
A mala,
Como a vida,
Vazia!

E essa luz
Triste
E húmida,
Esse despertar
Da mente
A que chamas olhar,
Pediu-me.
Só o aconchego,
Só o afago,
O meu peito
Ao teu encostado.
E abri a mala
Donde saiu a cama
Que estava no quarto
Que fica na casa
Que está na fantasia
Da mala
Na beira da estrada
Que teus olhos contemplam
Antes de se zangarem comigo.

Não há jogo
Nem perigo
Como este de ter uma vida
Para viver uma vida,
Quando há tantas
Na mala da fantasia.
Na palavra incendiada,
Pujante epopeia,
Triste elegia
De uma mala
perdida na estrada vazia.

jpv


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Irreverência

Irreverência

Quando olhares o horizonte
E vires a cinza,
Rasga a paisagem
Por dentro
E desenha outro espaço.
Vira a página,
Muda o traço,
E atira sementes de esperança
À luz do dia,
À terra fértil do desejo.

jpv