Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Os Teus Olhos

Os Teus Olhos

Os teus olhos
Contam histórias incontáveis.
Bailam neles
Mistérios improváveis,
Traços de sã loucura,
Luas de ternura
E sóis de paixão.
Cabe nos teus olhos
Toda a emoção
De uma surpresa.
A intensa
Chama acesa
De uma palavra
Que se adivinha
Mas se não diz.
O ar reguila e traquina
De um petiz
Que sorri
Depois de roubada
A maçã e dobrada a esquina…
Sem pecado.
Os teus olhos
Contam histórias incontáveis
Sem ninguém
As ter narrado.

jpv


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Mãe

Mãe

Tens na voz
Um tom suave
De ternura
Que me diz
Viver em nós
Um sentimento sem fratura.
Aceitas para mim
A minha vida
Como se fosse tua.
Entregas perdida
Na minha decisão
A tua alma nua.
E sofres baixinho
Para não me incomodar,
Como se o teu carinho
Pudesse estorvar.
Tens gestos
E cuidados mil,
E tens, como ninguém,
A bater-te no peito
Um coração de Mãe.

Sossega…
Não há tormenta
Nem tempestade
Que nos ameace.
Passe o que passar,
Não há humano evento
Capaz de desatar
Este enlace
De Amor.
Nasci de ti,
Em dias de felicidade
Desmedida.
Vives em mim
Os dias todos
Da mesma vida.

Sossega, Mãe…
Não deixes que a tua voz
Perca o cristalino e a alegria
Com que me disseste um dia
Que tudo correria bem.
E eram lei as tuas palavras.
Lei sagrada,
Gravada em certezas de Mãe.

jpv


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Surpresa

Surpresa

Não pensei que magoasse
Mas magoou.
Não pensei que doesse
Mas doeu.
Não chegou a começar
E terminou.
Não chegou a nascer
E morreu.

jpv


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Divulgar: "Ser ou não ter…"


Ser ou não ter…
Na luz difusa e dourada
do calmo entardecer
no leito sentada,
busco o silêncio
da hora sagrada,
do reencontro
com o ser.
À janela entreaberta,
olho o poente
de cores
ruborescente,
fito as mãos
da figueira erguidas
como um canto
e sinto, levemente,
a diáfana frescura do ar.
Aves de todos os ninhos
ainda cantam devagar…
Respondem-se em eco
Comunicando risos,
Escrevendo frases musicais,
e palavras soltas de pasmar!
Há toda a suavidade
do fim da dia a levitar
na atmosfera transparente…
Está lá fora,
no espaço aberto
e está aqui,
na paz secreta
do meu lar.
A luz ténue
e misteriosa
derrama-se,
paulatinamente,
em tudo o que vejo e aspiro,
como uma comida
saborosa e quente
depois da rudeza do frio.
No entardecer de seda,
Vai, a estrela-Sol, a deslizar
horizontalmente,
em direção ao mar.
Com o pensamento,
eu consigo alcançar
a vastidão do oceano
que a minha nação
veio a trespassar!
E, feita ponte,
juntou a Terra,
que se julgava então,
de nós, separada.
É essa sintonia da união,
que o meu país deu ao Mundo,
que eu  sinto aqui, agora,
como tesouro e glória,
no meu coração, a palpitar.
O ar está morno já,
quase mais quente
e o silêncio,
cruzado de chilreios
invade, ardente,
a minha alma cansada.
O repouso absoluto,
compasso do tempo
reencontrado,
tenho-o buscado
incessantemente.
Dentro de mim… eu sei,
está o princípio do Ser.
Só tenho que descobrir,
de vez, a fluida nascente
para o resgatar e defender.
Cada ínfimo movimento
da ramagem
me traz de volta
ao movimento puro
e primordial,
ao gesto infinitesimal,
ao mapa do essencial.
E quero reaprender
a procurar, a olhar
o pequeno e o simples
para voltar
a saber ser,
além das aparências
e dos vãos sinais.
Ser ou não ter…
Eis quem eu Sou!
MV


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CHEAT

CHEAT

Where is this room? And this Hotel?
I can’t remember how I arrived
How many times? I couldn’t tell,
So often in this reality I dived!

Lying on this unknown bed,
Two handsome men next to me.
They sleep as if they have had
The most exhausting night there could be!

They know me, trust me : very well!
But yesterday we met for the first time.
Amazed they were, uncovering the veil
I was wearing to hide who I am.

Recognition from the posters spread over town
They have the feeling they know who I am
But they only know the face I own
And certainly not my soul and its harm!

Being here, listening to their breaths
Makes me forget that I have another life
Full of duties, where time too fast leaves :
I am a mother, I am a wife!

Why shouldn’t I be allowed as well
To cheat, to betray, to enjoy
Feeling only pleasure, hearing the bells
When I am, if requested treated as a toy.

I pay for it, and get what I want
Never disappointed, for they want to satisfy
Realize my fantasy without them I can’t
They never complain, never ask : why?

Too soon I’ll be back to my loved ones
I’ll feel better, at least for a while
No more pain in my soul, only in my bones
My soul darkened, never again white.

I’m unfaithful, and I pay for it
Judgment would fall on me if discovered
Surely worried about it, but just a bit
After all, only one should be bothered!

I can already hear my son, tomorrow
When I will arrive, tired but happy
His voice will awake the sorrow
And after that I will fell sleepy.

Going back to that public living
Smiling, faking, playing a part
Hoping that very soon again, I’ll be leaving
For another night of sexy art.

I love my family, more then you think
Otherwise I would just leave them
And wouldn’t spare so much ink
To explain what a cheat I am.


Rose Harris


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Dreamer

Dreamer


Tears running over my chin
No voice left in my throat:
For you have guessed how I have been
And hit the spot of my thought!

You have guessed : I am a dreamer!
One of those not really living
Often caught and made thinner
By the odds of her own being

Not really here, not really gone
I leave in my dreams, and so what?
Be sure, I know, I’m the only one
But I sometimes let you see that!

Thoughts and dreams live in me
As ambition or sorrow live in others
I’m proud of it, why shouldn’t I be?
Why hide it, who really bothers?

Rose Harris


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Personagens

Personagens

Não há medida
Para a dimensão da alegria
De andar um homem vagueando
Pela noite escura
E fria.
Andou à tua procura
E queria
Só amar-te.
E estavas sentada,
Recostada na espera e no conforto,
E sorriste à chegada
De seu corpo de desejo,
De seu coração absorto.
E disseste Vem
E o homem na noite
Fez-se teu.
Renasceu.
E houve vida e luz
E músicas no ar
E orações a Jesus
E fez-se uma sinfonia de amar.
E correram
Encarnados sensuais pelo quarto.
E pediste tudo.
E o homem quis dar-to.
Paira um sussurro suspirado,
Um adeus furtivo,
Um beijo atirado.
Ainda agora estava em ti, o homem,
Já agora se anuncia a distância.
Um último olhar,
Um último adeus,
Um último desejar
Morrer nos braços teus.
É isto tão intenso
O que o teu amor produz,
Fica o amor suspenso,
E o homem mergulha na noite sem luz.

jpv