Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Baú das Memórias – ORION Nº3

Dois anos depois do Nº 2, em agosto de 1990, publicava-se o Nº3 da revista ORION.

Este viria a ser o último número da revista e trazia significativas diferenças em relação aos dois primeiros. Toda a conceção tinha o mesmo aspeto artesanal, mas, na verdade, o processo foi mais elaborado.

Na capa, a expressão “Revista de Poesia” foi substituída por “Revista de Criação Literária” por via da profusão de textos em prosa. No interior, surgiam, pela primeira vez, ilustrações junto aos textos. A revista foi impressa nos Serviços Regionais de Coimbra do Instituto da Juventude e, por essa razão, no verso foi impresso o logotipo daquela instituição bem como o preço de capa que os autores estabeleceram: 150 escudos. Não sei se alguma vez se produziu algum dinheiro com a sua venda. Todo o processo era agora gerido por Graça Nunes.

O elenco de autores deste número foi:
João Paulo Videira
Graça Nunes
Paulo Alexandre
Carmen Sofia Gonçalves
José Fernando

Destaco, deste número, um texto meu. Assim escrevia há 22 anos…

jpv
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Há três horas
Uma hora não chega.
Há três horas
Eram quatro.
Há três horas
Mil sonhos sonhei
Mil cantigas cantei…
O meu espectador não veio.

– Algum tempo mais tarde –

Há três vidas
Espero uma.
Há três vidas
E o espectador já morreu.
Há três vidas
Que não cesso
De procurar
O espectador que sou eu!

João Paulo Videira

Orion nº3 – 1990


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Baú das Memórias – ORION Nº2

Um ano depois, em maio de 1988, com um elenco de escritores diferente, publica-se o nº2 da revista de poesia ORION. 

Uma das autoras, Graça Nunes gosta do projeto, agarra nele e dá-lhe nova vida. A publicação foi sujeita, de novo a venda antecipada de exemplares, mesmo antes da sua impressão. Uma vez concluída a edição foram distribuídos os exemplares por quem havia comprado.

Os autores foram:
Graça Nunes
Paulo Alexandre
João Paulo Videira
José Fernando

Este número era menos volumoso e continha textos em prosa. Este facto viria a mudar a designação da revista, mas isso deixo para o próximo Baú de Memórias. Por agora destaco um texto do nº2, da autoria de José Fernando.
jpv

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Tenho saudades de nada
Do que ainda não vivi.
E são tantas as recordações
Que por vezes as esqueço
E me disfarço por dentro a branco
E fujo de volta ao sítio onde estou.


José Fernando
Orion nº2 – 1988


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Baú das Memórias – ORION Nº1

Em 1987, por volta de maio, um punhado de colegas, estudantes universitários, publicou o nº1 de uma revista de poesia intitulada ORION.

Lembro-me que tivemos a ideia no início do ano, escrevemos um texto de apresentação que líamos às pessoas a quem pedíamos que pagassem um número da revista caso reuníssemos toda a verba para a publicação. Se não juntássemos o dinheiro todo devolveríamos a contribuição de cada um.

Felizmente foi possível fazer a publicação e, com inexperiência, com textos muito incipientes, mas cheios de fé nas nossas capacidades, publicámos as nossas poesias pela primeira vez em livro. Foi uma verdadeira aventura.

Os primeiros autores da ORION foram:
António Andrade
Fernando Mina
João Paulo Videira
José Fernando
Quia
São Saúde

Venho saudar os jovens autores de então. Venho saudar o espírito empreendedor. Venho saudar a poesia. E, claro, venho saudar todos os leitores do mundo.

De todos os textos, escolhi um para vos mostrar. Não é meu. É da São Saúde. Achei-o tão bonito e tão bem feito que o decorei para sempre e quando reencontrei a autora, 20 anos depois, recitei-lho!

Um dia destes, falo-vos dos outros números. Houve três!
jpv


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O crime perfeito
Com o perfeito alibi
Foi eu ter nascido
Da alma que despi.
Ninguém o descobriu,
Ninguém desconfiou;
Foi o mar que me engoliu
E depois me vomitou.

São Saúde
Orion Nº1 – 1987