Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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O Longe e a Distância

O Longe a Distância

Foste a chegada
E desenhaste a partida.
Deixaste derramada
A semente da vida
Com uma enxada visceral
Numa terra escondida.
E a terra sou eu.

Nada tenho de meu
A não ser o que deixaste.
Herança imensa e pesada,
Estar à altura de teu gesto,
Tua atitude honrada
A poder de sacrifício.
Tinhas onze mandamentos,
Os outros
E o teu.
Dez, andam por aí,
Sendo cuspidos,
E o outro é meu.
Tu és a minha razão,
O meu sopro,
A inspiração na dor
E o sorriso na alegria.
Não vejo o dia de abraçar-te.
E não me importo de morrer para isso,
Por magia, encanto
Ou benigno feitiço.
De suave e doce morte,
Ou de violenta e dolorosa sorte.
Não importa o caminho,
Luminoso ou escuro,
Desde que sejas tu o porto seguro.
O futuro
Onde não há Futuro.

Estou só e preso
Em mim.
Vivo e morto
Sem fim.
E não há caminho,
Nem libertação,
Nem sonho,
Nem promessa, nem arte
Que tenha a força de amar-te.

E continuas aqui.
E és tão pouco
E tanto.
És a letra do canto,
A lágrima do pranto,
A saudade e a superação.
Olha para mim, pai,
E estende-me a mão!

jpv
À memória de meu pai.
1934/1999


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Poema do Amor Incondicional

Poema do Amor Incondicional

Morre na praia da intenção
O amor incondicional
Que te soprava o coração.

Vives a urgência
De uma existência
E não viste ainda
Que já morremos todos.
E resta, destes cadáveres exangues,
Entregues aos cães e aos lobos,
Provar o doce amargo
Da putrefação.

É uma estrada.
E não temos mais do que o lado a lado.
Ficamos, súbito, sem paisagem, só o nada
Como recompensa para cada corpo tombado.

E a alma, dizes-me tu, do alto das tuas barbas brancas,
Da tua inconsciência de menino.
A alma, seja o que for,
Etérea, corpórea, achada ou perdida,
A alma, meu Deus,
Não pode ser a desculpa
De desperdiçar-se a vida!

Fui já.
E já não sou.
No meu lugar jaz outro.
Respira por entre a gente
Uma alma adiada
E um corpo morto.

jpv


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Diálogo

Diálogo

Um fio de vida.
Uma luz,
Breve,
Antes da morte.
Uma alma perdida,
Entregue, só,
À sua funesta sorte.

Uma carta fechada.
Uma surpresa guardada
Nas entrelinhas
De uma palavra em riste.
Duas pessoas sozinhas
Uma da outra.
Uma manhã alegre.
Um fim triste.

Uma distância
A percorrer
Por um caminho
Que já não existe.
Um mar a navegar
Em rota
Sem horizonte.
Um rio.
Duas margens.
E a dolorosa
Ausência de uma ponte!

Assim caminho,
Sem arte
Nem ciência,
Conversando sozinho
Na companhia
Desta pobre e atormentada
Consciência!

Adio.
Mais não posso.
Nem quero.
Não há aqui motivo,
Nem fogo,
Nem ferro,
Nem esperança,
Nem música,
Nem dança,
Nem emoção,
Nem o vislumbre de uma razão
Para algo mais do que aguardar.
Aguardo.

Essa derradeira
E definitiva estocada,
A lâmina ensanguentada
Da minha vida,
O grito da alma perdida,
O silêncio final,
E a morte, enfim,
Redentora
E inaugural!

jpv


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Citação da Porta para a Vida


“Sabes, Mary, antes da morte, mesmo antes da morte, há sempre uma porta para a vida”

Busted John
In Motorcycle Chronicles – “Life and Death”
A publicar brevemente neste blogue.


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Auto-Citação do Absoluto

“Vou fazer amor com a vida até cair nos braços da morte!”
jpv