Esta semana fui, pela primeira vez, assaltado em Maputo. Quer dizer, eu não fui assaltado. Enfim, não sei bem. Um roubo, acho, é quando a gente não vê porque não está presente, isso também pode ser um furto. Um assalto é quando a gente vê mas, mesmo assim, tem de entregar o bem que vai ser roubado. Eu explico. Eu estava lá e estava a olhar, mas não vi. Ninguém falou comigo. Logo, acho que isto foi um misto de roubo e assalto. A verdade é que um arrumador ofereceu-me um lugar de estacionamento e eu não aceitei porque quis ficar mais perto do restaurante onde ia almoçar. E fiquei. Fiquei tão perto que, da esplanada onde estava, via bem o carro. Ele lá estava a brilhar de lavadinho. E fui sempre olhando, sempre atento sem lhe tirar o olho de cima. Quando cheguei ao carro, para meu espanto, o espelho retrovisor do lado direito, aquele que estava mesmo de frente para mim, tinha… voado! Devia ter aceitado a oferta do arrumador! Perguntei onde poderia arranjar um. Disseram-me para ir ao mercado da Estrela. Ora, aqui, as pessoas têm o hábito de gravar a matrícula dos carros nas diversas peças, espelhos, faróis da frente, luzes traseiras, vidros das portas e tudo o mais que lhes vem à cabeça. No caso daqueles piscas laterais muito pequeninos, como não há muito espaço para gravar a matrícula, colocam umas tiras de metal por cima deles. Como é que agarram as tiras de metal? Simples. Furam a chapa do carro e enfiam-lhe com dois rebites… É lindo de morrer, ver um tipo que acabou de comprar um carro, voluntariamente mandá-lo furar… hahahaha… eu adoro esta cidade. Como precisava de um espelho e queria gravar umas partes do carro, lá fui ao mercado da Estrela. São duas ruas repletas de bancadas com acessórios automóveis, chaves de rodas, macacos, limpa-pára-brisas, triângulos, capôts, jantes, pneus, pára-choques, emblemas, espelhos, vidros, portas, tudo, tudo, rigorosamente tudo, vendido no meio da rua. Além dos acessórios, também há serviços, por exemplo, lavagem, polimento da chapa, dos faróis, enfim, é um não mais acabar de oferta. Assim que cheguei, mesmo antes de parar o carro, começaram a fazer-me sinais e a oferecer-me coisas. Quando parei, o carro foi cercado por mais de dez rapazes a oferecerem todo o tipo de acessórios e serviços. Saí, disse do que andava à procura e em cinco minutos apareceu um espelho do modelo que eu queria e aplicaram-no logo no sítio, perguntei se gravavam, claro que sim, pedi para gravarem a matrícula nos espelhos e nos faróis da frente e para porem umas tiras de metal nos piscas laterais. A primeira coisa que me disseram quando fechámos negócio foi, Abra aí o capôt! Eu estranhei. Por que raio é que eles querem que eu abra o capôt. E perguntei, Olha lá, para que é que queres o capôt aberto? É a bateria! Nem mais nem ontem, além de pagar o serviço, ainda forneci a energia. As máquinas de gravar que eles usam, assim como os berbequins, são elétricas, eles cortam as fichas dessas ferramentas, colocam uns bornes de agarrar nas baterias e o cliente fornece a energia. Mai nada! Quando o tipo acabou de gravar disse, com um sorriso nos lábios, Já se acabou o pão do ladrão! Estive à conversa com eles e ainda que admita que o ambiente, para quem ali chega, possa ser um pouco intimidador, a verdade é que não passam de uns rapazotes simpáticos e bem dispostos à espera de fazer algum negócio e é possível trocar umas gargalhadas com eles, aliás, em Maputo, a gargalhada está barata, toda a gente tem várias para dar! Um colega disse-me, Foste à Estrela? Não é qualquer um! Mas eu gostei, até estou a pensar lá voltar porque preciso de um macaco em condições, isso e umas escovas para o limpa-pára-brisas.
Recentemente, deparei-me com um exemplo da alegria e da boa disposição que caraterizam este povo. Num supermercado, há um sistema interno de “competição” entre as diversas equipas de funcionários. Aqueles que colecionarem mais pedrinhas azuis que o supermercado disponibiliza aos clientes têm prémios de simpatia no atendimento. Então, eles têm a liberdade de solicitar aos clientes que se sentiram simpaticamente atendidos, uma pedrinha para a coleção. Os do bar tinham escrito uma coisa do tipo, “Caro Cliente, se ficar maravilhado pelo atendimento excepcionalmente excelente…” enfim, arrancaram-me logo um sorriso!



