Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Poema da Menina que Vendia Maracujás na Beira da Estrada

Poema da Menina que Vendia Maracujás na Beira da Estrada

Era uma menina,
Chamava-se Inês,
E vendia maracujás
Na beira da estrada.
De seu, não tinha mais nada.

Pé descalço
Salpicando a água da chuva,
Saia verde,
Blusa desabotoada.
De seu, não tinha mais nada.

Um pano no chão,
O tempo todo para esperar,
A fruta amontoada.
De seu, não tinha mais nada.

A um canto do pano, um nó.
Lá dentro, uma nota velha e dobrada.
De seu, não tinha mais nada.

As mãos estendidas para a vida,
A esperança no sorriso da face encantada.
De seu, não tinha mais nada.

Uma troca rápida,
Uma palavra breve,
O olhar de novo na estrada.
De seu, não tinha mais nada,
Inês,
A menina que vendia maracujás
Na beira da estrada.

Chongoene
08/02/2014
jpv


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Poema da Mudança de AC

Poema da Mudança de AC

Estás na idade
Em que se define
A tua figura fina.
Anuncia-se a mulher,
Despede-se a menina.
Ondulados, os cabelos,
Como numa estátua helénica,
O sorriso cândido,
O olhar melancólico
E a pose fotogénica.
Finda o tempo
Da menina que anda,
Começam os dias
Da mulher que caminha
E se insinua
Só com o passar.
Estás na fase de ser senhorinha…
Para nós, sabes como é,
Mude o que mudar,
Veremos sempre a bebé.

Mas vive, já,
Nos teus gestos
E na tua presença,
O porte que dita
A sentença
Da perseguição.
Olham-te com volúpia
Os mancebos e os homens,
Teu pai senta-se à porta de casa
Com a caçadeira na mão!

E tudo isto
Me conta uma história,
Ainda que guarde na memória
Quem foste,
Eu já não o sou.
Passou por mim o tempo
Que te esculpiu
E me desgastou.
O mesmo espelho
Que te reflete mulher
Mostra-me velho.
E a única glória
É ver na minha morte
A tua vitória.

Nenhum homem
Comanda o tempo.
Nenhum homem,
Faça o que fizer,
Fica isento
À mudança de uma menina
Para mulher.

jpv