Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Imagens de Maputo – Embarcação de Sonhos

[Imagens de Maputo é uma secção deste blogue com o objetivo de divulgar imagens do quotidiano da Capital de Moçambique. Não há um tema. O quotidiano de Maputo é o tema. Serão imagens exclusivamente captadas por mim, e, também, exclusivamente captadas com telemóvel. Não serão fotos tiradas de propósito, com intenção estética, serão fotos tiradas como quem passa, no momento em que passa. Instantes. Sem texto. Só com o título que lhe atribuirmos. Apreciem! — jpv —]



Imagens de Maputo

“Embarcação de Sonhos”


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À Deriva do Atlântico

À Deriva do Atlântico

Estou aqui sentado
Nesta pequena canoa
Vou-me então transformar
Em Fernando Pessoa.

Só tenho dois companheiros
O lápis e o papel
E sou alimentado
Por um pote de mel.

Olho para o mar
O mar extenso e sombrio.
Quando penso na solidão
Até sinto um arrepio.

Sinto saudade de uma Rosa
Ou então de uma tília
No mar vejo o reflexo
De toda a minha família.

Os meus amigos despejados
Por um grande cano
Eu estou neste barco
À deriva do Oceano.

Ao escrever estas palavras
Cheias de fantasia
E ao digitar este poema
Fico cheio de alegria.

Passei muitos dias
No oceano a navegar
Mas a terra está à vista!
E bem irei ficar.

Manuel Pessoa
12 anos
(Texto sem correções nem limadelas nem aperfeiçoamentos. Transcrito ipsis verbis do original)


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As Cores da Capulana – Amanhecer Índico

Amanhecer Índico

É um mar cinzento
Como o céu.
Uma linha definida
E distante.
Uma capulana ao vento
Ondulante,
Enquanto ela passa.
E uma outra com sacos à cabeça,
Sua sorte e sua desgraça.
E são umas pessoas lá longe,
Mar adentro,
Saudando a Deusa,
Banhando-se de sal e água
Como se aspergissem a vida
Aquém da tal linha definida.
São três aves rasando a água
Marinha.
É uma senhora de mala e bem vestida
Que caminha sozinha
Enquanto Deus a espera na igreja.
E é um homem de turbante,
Passo rápido e certo,
Desaparece num instante.
E é uma mulher vestida de desporto
Que passa correndo com sua cadela.
Uma leva música nos ouvidos,
E a outra, no pescoço, a trela.
E é um cão galgando as ondas
De felicidade,
Vai para a água entusiasmado
E volta carregado de verdade,
O amor incondicional,
Por seu dono amado.
E é um madeiro enterrado
Na areia,
Raiz antiga e secular
Onde os namorados
Se vêm sentar.
E há este mar
Sossegado e quente,
Pano de fundo da vida da gente.
E há estas palavras
Com que me debato e luto,
Junto à areia cúmplice
Da baía de Maputo.

jpv


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As Cores da Capulana – O Mar no Olhar das Mulheres

As Cores da Capulana

O Mar no Olhar das Mulheres

Um olhar distante
perdido entre ti
E o horizonte.
Uma súplica,
Um momento e um instante,
Um mar
E uma fonte.
Sofres.
A condição não te favoreceu.
A menina que havia em ti
Conheceu os homens
E morreu.
Uma criança nas costas,
Uma coisa qualquer
A vender.
As capulanas atadas e postas,
Uma pessoa que passa
Sem te ver.
Vendes sonhos,
Vendes ilusões,
Vendes o desespero
De uma vida aos repelões.
Andam meninos
Bailando nos teus olhos
Que brotam o mar
De mansinho,
Fica suspensa a emoção,
Contida a palavra,
Vive no teu coração,
Que bate devagarinho,
Um trator que lavra
A esperança.
Não fossem os homens…

Não fossem os homens…
E seria tangível
A felicidade.
Porque tu, mulher,
Só és mulher,
Quando o teu homem quiser…

São violentas, as palavras,
Sangram quase tanto
Como o silêncio,
Beijam-te a boca que calas,
Mas agitam-te o pensamento.
Tanto que tu querias
Não pensar.
Viver a vida
Como a festa a atirar
Reflexos de excesso
Para a noite.
Como a estrada,
Banhada pelo mar,
Pisada pelo homem,
Tu és, ao passar,
Marginal.
De ti.
Fora da lei
Dos sentimentos,
Expatriada dos direitos,
Punida pelos teus próprios juízos,
Castigada pela tua ímpar e funesta condição.
Amaldiçoada a dar aos homens a redenção…
De si.

Para ti,
Só o pecado do amor,
Para ti,
Só essa doce e inevitável dor.
Para ti,
Faças o que fizeres,
Sobra sempre o mesmo mar
Que desagua no olhar das mulheres.

jpv


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Maputo

(Foto jpvideira – Clique para Aumentar)

As Cores da Capulana
Maputo
É uma praia
Onde as ondas
Se vêm estender.
São milhares de luzes
Bordejando o mar
Ao adormecer.
São vendedeiras de caju e amendoim,
Avenidas longas em constante frenesim.
São meninos de roupas largas
E pé descalço,
Envolvendo num sorriso genuíno
O seu destino falso.
São mulheres exibindo
O colorido justo das capulanas.
É um tchova oferecendo
Ananases, mangas e bananas.
Busca o imenso céu
Um prédio esguio e alto.
Cá em baixo,
Dorme um corpo ébrio
No calor do asfalto.
Fecha-se o firmamento
E escurece.
E num breve momento
Acontece
Violenta trovoada.
Chove chuva copiosa,
Lavando a estrada,
Arrasta consigo
Fugaz vida ceifada.
Com a mesma violência
E o mesmo repente
Ressurge o sol ausente
E renasce, de novo,
O dia.
Esta cidade real
Parece fantasia.
Explodem odores
Exóticos e inusitados,
Pintam-se de mil cores
Os concorridos mercados.
Há nesta cidade
Uma coisa urgente e séria,
Reergue-se a Humanidade
E isso não é miséria.
Vagueia por aqui
Certo saudosismo português,
Teve o seu tempo,
Teve a sua vez.
Pinta-se de branco
E de negro também,
Fala changana,
É palavra de Camões,
Traço de Malangatana.
E desvanece-se.
Chegou outra hora…
É tempo
De o mandar embora.
E sonhar
Com o homem justo,
Com a terra prometida.
É preciso pagar o custo
Da liberdade perdida…
E reconquistada.
Maputo
É hoje
Uma alvorada.
É um polícia
Vestido de branco
E outro de cinzento.
E é um povo
Perdido no tempo.
À procura do caminho.
É um sorriso largo,
Um olhar inaugural,
É um ritmo de marrabenta
Numa cintura sensual.
É o sol sobre o mar
Logo pela manhãzinha,
Um pescador lançando
A esperança numa linha.

E passa um chapa ruidoso
Que quase me atropela,
Atrás dele,
Desenha esses na estrada
Uma frenética chopela.
Passam carros com fulgor,
Estacionam num restaurante,
E, nesse mesmo instante,
Surge, solicito, o arrumador.

Vivem aqui
Sólidos e evitáveis
Desequilíbrios.
Uns pedem,
Outros dão.
E há nesta dança
Uma bruma de esperança.

Maputo é olhar em frente,
É uma terra
Semeada de gente.
É uma nação,
Um pátrio solo,
Um chão!
É a diferença
E a semelhança.
Maputo é mãe
De uma criança
Que ri e chora.
Maputo é todo
O tempo do mundo
E o tempo
É agora.


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Cozinha para Homens – Bifes de Atum Fresco

Cozinha para Homens – Bifes de Atum Fresco

Quem ainda se lembra desta rubrica? Julgavam que eu tinha esquecido? Naaa… aqui nada se perde. Só tinha faltado oportunidade. Para os leitores mais recentes e que possam ter cometido o descalabro de ainda não ter lido os outros capítulos de “Cozinha para Homens”, advertimos que todos os pratos descritos foram confecionados e comidos, advertimos que as práticas aqui descritas não se devem executar sem supervisão de um adulto ou técnico especializado e advertimos também que este espaço é bem humorado, bem disposto e sem qualquer ponta de machismo, mesmo que pareça.

Hoje é dia de tolerância de ponto em Moçambique porque ontem foi o Dia da Mulher Moçambicana. Talvez por isso, muitos homens deixaram as mulheres em paz que é o melhor que se pode fazer por uma mulher: não lhe chatear a cabeça. A segunda melhor é ir às compras com ela e fingir-se interessado. Sim, fingir, ser genuíno nessa matéria não está ao alcance dos homens. Quer dizer, está ao alcance do meu cunhado, mas ele é um tipo esquisito. Não sei como é que ela o atura. Adiante. Eu não fugi à regra e bazei para para o mar alto com mais sete tipos e sessenta minis. Vai daí a minha mulher adorou. Além de não me aturar durante um dia inteirinho, vim carregado de peixinho fresco para casa. Ora vamos lá à receitinha.

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Bifes de Atum Fresco
Ingredientes: 
Um tio porreiro, um amigo com um barco, 7 ou 8 tipos, 60 minis, carne grelhada, sandes, material de pesca, 1 atum, cebolas, pimentos, sal, piri-piri, uma garrafa de vinho, uma garrafa de coca-cola, dois pães, fruta diversificada.

Preparação:
Arranje um tio porreirinho que viva em Moçambique. Siga o conselho do Senhor Primeiro Ministro e emigre também. Uma vez em Moçambique, peça ao tio porreirinho para o ajudar com a instalação e para o ambientar na nova sociedade e o ajudar a adaptar-se ao novo modo de vida. Quando o tio porreirinho, a propósito de um feriado, o convidar para irem pescar no mar alto com um amigo dele que tem um barco, não pense duas vezes, compre uns paques de cerveja, arranje umas sandes vista-se para a ocasião, levante-se às 4 da matina e vá ter com eles. Passe um dia fantástico, usufrua da paisagem e aprenda algumas técnicas de pesca. Lá para o meio da tarde já deverá ser capaz de pescar. Não se esqueça de ir distribuindo as cervejas e ajude-os a comer a carne grelhada deles. No final do dia, vai sentir-se orgulhoso dos dois ou três peixes que apanhou. Se, quando distribuírem o peixe, gentilmente lhe oferecerem um atum de oito quilos, aceite e leve-o para casa. Quando chegar, mostre-o à sua companheira e se ela o elogiar, aceite os elogios e tente tirar partido deles… você sabe! Depois tome um duche e vá dormir. Afinal de contas, você é um macho predador de sucesso que precisa de descanso. No dia seguinte, seja simpático, amanhe o peixe e corte-o às postas. Escamar? O atum não tem escamas, homem! À hora de almoço, sugira-lhe que faça dois bifinhos de atum fresco pescado no dia anterior, de preferência de cebolada, com piri-piri, porque ficam fantásticos. Enquanto ela cozinha, ponha a mesa mais ou menos como a imagem documenta. Pão fresco. Uma garrafa de vinho rosé bem frio, se ela não beber vinho, abra-lhe uma Coca-Cola. Atenção, em Moçambique, a Coca-cola está tabelada e o preço vem na cápsula. Se lhe pedirem mais de 12 meticais (mais ou menos 30 cêntimos de Euro), desconfie. Prepare uma salada de frutas com maçã, manga, papaia, ananás, banana e kiwi e sirva duas tacinhas. Basta descascar e cortar a fruta aos pedacinhos e juntar sumo de laranjas espremidas. Os sacos de laranja de sete quilos compram-se na avenida 24 de julho enquanto se está parado num semáforo e custam 100 meticais (2,5€). Como é que se prepara o atum propriamente dito? Eh pá, eu dava o número da minha mulher, mas ela recusa-se a ter telemóvel! A esse respeito aconselho-o a casar com uma mulher que adore atum e saiba cozinhá-lo tão bem que até faz crescer água na boca. Viu, como é fácil?!

(Clique para Aumentar)

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Nota 1: Agradece-se ao Nunes e ao Cruz a ajuda que deram na preparação desta receita, nomeadamente, convidarem para a pescaria e oferecerem o atum.
Nota 2: Agradece-se à mulher e à mãe dela. À primeira por saber cozinhar tão bem, à segunda por ter feito a primeira.
jpv


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Mar de Medos

Mar de Medos

Na sua ingenuidade,
A criança pergunta:
– Nós somos felizes, mamã?
E ela disse-lhe que sim,
Escondendo-lhe o que sentia.
Havia nessa felicidade
Um excesso,
Uma perfeição que temia.

– Tenho medo de sermos tão felizes!
Confessou na surdina da intimidade
Ao amado e marido,
No momento em que dormiam os petizes,
E o segredo não podia ser ouvido.
Mas foi.
Desfez-se a ilusão onde mais dói,
Nessa tenra e pura idade
Em que se não desconfia
Que, para além da vida,
Há realidade.

E, hoje, aqui defronte do mar,
Azul e intenso, rimbombando seus segredos,
Luto com meus e antigos medos
E quero perguntar como na longínqua manhã:
– Nós somos felizes, mamã?

jpv


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Navegante do Pó

Navegante do Pó

És o navegante
Altivo
Do mar encapelado
Que me tem cativo.

Sou o caminhante

Desta estrada de terra e pó.

És o capitão
Do motim
No mar da minha revolta,
Rota sem horizonte nem fim.

Sou o homem
Que pisa o chão de ida
E perde o norte da volta.

E temos ambos,
Em terra ou no mar,
A força do olhar
Sob a mão erguida.
O sentido do tutano
Da vida.
A ânsia do regresso
Mesmo antes da partida!

jpv
(Ao som da tua playlist,
Nina Simone, Sinnerman)


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Poema Escrito com os Pés dentro de Água

Poema Escrito com os Pés dentro de Água

O mar
Persiste
Em regurgitar
A clara
E límpida ideia.
Essa falua
De sonhos e imaginários
Batendo contra a rocha
E mostrando, exposta,
A luz e seus contrários.
E a escuma rebrilhando
Multiplica os brancos
Na água dançando.
Presa estava a alma
Do poeta,
E agora vive liberta
E voa
Na água ondulante
Prenhe de vida
E sal.
Passa a moça
Em seu biquíni sensual
E o poeta não a vê,
Bronzeada,
Porque nesse exato
Momento
Tem a alma lavada.

E o mar persiste em seu vai-e-vem,
E o poeta vê como ninguém
A clara e límpida ideia:
A vida é uma imensa teia
E não há coisa nenhuma
Que se não lave
Com a ondulante
E branca escuma.

jpv


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Mar e Romance

Quem me conhece, conhece também a minha paixão pelo mar. Não tanto por estar estendido ao sol a “fazer praia”, nada disso. Só mesmo pela contemplação, por dormitar ouvindo o seu rugido próximo, por andar por ali acompanhado pelo embalo das ondas castigando a areia.
Este foi um fim-de-semana sem máquinas nem tecnologias, nem trabalho nem bola…
E, a verdade, verdadinha, é que não só terminei um capítulo de “De Negro Vestida” que estava quase a acabar, o próximo, como escrevi mais dois! Ando cá a pensar o que seria preciso para me mudar definitivamente para junto do mar…
Como sou um tipo de partilhas, deixo aqui cinco imagens, quatro das quais captadas por mim, que tentam dizer o que andaram os meus olhos vendo este fim-de-semana na revolta costa atlântica. Como diz uma amiga minha: “As melhores coisas da vida são de graça!”
Satisfação
Azul e Verde

Em Terra

Nas asas da imaginação

Conversa ao pôr-do-sol