Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


2 comentários

Mandela Depois de Mandela

Mandela Depois de Mandela

Não quero dar para o peditório da expiação do pecado do antigo Primeiro-Ministro, Dr. Aníbal Cavaco Silva, ter votado contra ou a favor ou nim da libertação incondicional de Nelson Mandela. Não me parece que Madiba deva ser misturado com esse tipo de questiúncula e muito menos nesta altura.

As coisas são simples. Antes de Mandela não havia liberdade. Depois de Mandela há. E isso não se troca por nada, nem se confunde com nada, nem se desculpa com nada. Eu vivo perto da RSA e visito o país com alguma regularidade. Se está perfeito? Não. Os próprios sul-africanos sabem, admitem e afirmam isso, mas a verdade é que também ninguém quer dar um passo atrás e a razão é simples. A conquista de Mandela não é só a conquista de um povo ou de uma nação, é a busca constante da Humanidade.

O que sempre reparei nele é que, através dos tempos, foi um homem capaz de sorrir! Mesmo nas circunstâncias mais difíceis. É um traço de caráter que denota grande personalidade e grande sensibilidade. Foi capaz de sofrer, de persistir, soube, como temos visto poucos saberem, ganhar. Teve dignidade e ponderação na hora da vitória. Preferiu ser unificador a fraturante e isso é um traço de quem conquista a liberdade com sofrimento.

Mandela não é sul-africano. É um homem do mundo, para o mundo. Um ícone universal, um símbolo da defesa dos direitos humanos e um símbolo do mais precioso dos bens da Humanidade: a Liberdade!

O resto, o que fica da sua passagem é algo que ainda não vi ninguém referir mas penso que temos de o fazer: é fundamental que a sua herança permaneça, é fundamental preservar o bem da tolerância, da igualdade e da liberdade. É importante que haja Mandela depois de Mandela.

So long Madiba!jpv


5 comentários

Crónicas de África – África Depois de África


Crónicas de África – África Depois de África

Zibreira, 24 de julho de 2013

Como a imagem documenta, fomos recebidos pela família e por amigos com bandeirinhas à porta de casa e a expressão “Bem Vindos” riscada no fundo de uma caixa de mines que bebemos com satisfação. Essa e outras. Rever a família foi fundamental. A mãe, a mana, o filho, os cunhados, os sogros, os primos, os tios, os amigos… Ainda não conseguimos vê-los todos. Tentaremos. Foi bom, foi reconfortante, o reencontro com o nosso país, as nossas gentes, os nossos rituais, a expectabilidade e a previsibilidade dos gestos das pessoas, dos serviços, dos equipamentos sociais. Tudo isso foi fantástico. E, contudo, essa organização e essa formatação, tão necessárias à nossa segurança e ao nosso bem estar, e que eu tanto prezo, foi aquilo que mais estranhei. África vive em mim nas coisas mais simples e impercetíveis do quotidiano. Há uma liberdade geradora, há improviso, há sonho, há esperança e há o acreditar de que ainda posso contribuir, de que ainda posso mudar. 

A Europa, sendo mais confortável, é mais constrangedora dos nossos movimentos.

Sou tão português como sempre fui. Talvez mais. A condição de emigrante força-nos a reperspetivar o nosso país com olhos de benevolência adocicada pela saudade. Mas temo que, definitivamente, já não seja só português. Talvez tenha duas nações e talvez uma delas seja um continente inteiro. Nós podemos partir de África e regressar ao confortável ninho da nossa pátria, mas África não parte de nós. Anicha-se no nosso coração com a virtude da liberdade, dos sorrisos de esperança e com todas as suas vicissitudes e instala-se no nosso ser. África fica.

Às vezes temo ter duas pátrias. Quem sabe se um dia chego a Portugal e me sinto estranho e, estando em África, não estarei completamente em casa porque me falta o chão lusitano. Muitas pessoas vivem a dicotomia da identidade. Podendo ser de duas terras, não sabem bem a qual pertencem. Eu temo pertencer tanto às duas que venha a não pertencer a nenhuma. A Portugal regressa-se. É o “nostos” grego sem tirar nem pôr. De África nunca se parte. Em Portugal dominamos, mas temos a liberdade coarctada. Em África somos dominados, mas temos a liberdade à rédea solta. Em Portugal vive-se a segurança que se conquista ao preço de limitar horizontes. Em África, a insegurança representa um sem número de oportunidades num horizonte longínquo e indefinido de possibilidades de vida.

Nestes dias de manutenção de espaços e afetos, tem-me andado este país a enternecer, tem-me andado aquele continente a chamar. África depois de África, em Portugal.

jpv


Deixe um comentário

Citação da Liberdade Assim como Quem Aguça o Apetite

A liberdade é um conceito. Às vezes também é um facto. Uma realidade. Não acontece sempre. E as mais das vezes nem é porque seja cerceada por terceiros, é porque nós próprios a desconhecemos, ignoramos os seus limites, e navegamos pela vida sem percebermos que liberdade temos, que liberdade podemos ter, que liberdade queremos ter e, não menos importante, que liberdade é a dos outros. Madalena sabe. Não sabe porque tenha pensado nisso, refletido e consciencializado. Sabe, porque sente no seu íntimo o desenho dos limites da sua ação, do seu desejo e do bater do seu coração.

João Paulo Videira
In A Paixão de Madalena, Cap. 6
A publicar brevemente neste blogue.


Deixe um comentário

Citação triste

“Pese embora a liberdade que lhe assiste…”
Autoria não revelada por opção

A liberdade que assiste a cada ser humano não deve, não pode, pesar aos seus pares. Se lhe assiste, não pode ser questionada, se o for, estaremos perante uma lamentável tentativa de coarctação da mesma.