Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 24

18/8/2010 – 22:01h. – A bordo do Lato

Já estamos a bordo do Lato no percurso de 8 horas de Creta para Atenas. Curiosamente, o mesmo navio que nos trouxe, vai levar-nos de volta.

O dia foi muito agradável. Pequeno-almoço memorável. Depois fizemos as malas e deixámo-las guardadas com a D. Antonia e passámos todo o dia na praia “quente e frio”. A água que chega das montanhas é mesmo gelada. Tão gelada quanto revigorante. Alugámos um chapéu e umas cadeiras de recostar mas não foram muito usados. Andámos todo o dia no mar. Escrevi imenso. Gosto de escrever de frente para o mar. Bem vistas as coisas, de frente para o mar tudo é melhor.

Como tínhamos comprado bilhetes com quarto, deixaram-nos entrar duas horas antes da partida, ou seja, às 19h. Foi óptimo porque pudemos tomar um banho retemperador, vestir roupas lavadas e ir lá acima ao exterior comprar jantar e ficar a comer numa mesinha de frente para o mar.

Agora só penso em descansar porque amanhã é dia de revisitar a Acrópole o que é sempre tão interessante quanto cansativo e, como tal, não me apetece ainda fazer balanços que deixarei para o fim. Mas, à medida que a ilha fica para trás, não posso deixar de reparar que um pouco de mim fica com ela. Não posso deixar de lembrar dois aspectos que emergem de todos os outros, que só por si teriam valido a pena: a extraordinária beleza Natural de Creta e as fabulosas pessoas que nela habitam. Penso voltar um dia, se conseguir. É quase como se fosse um tributo.
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Pormenor de atendimento: fomos ao restaurante dos grelhados no barco e pedimos três gyros. Aconteceu um diálogo tão hilariante quanto curioso:

– Desejamos três gyros, por favor.
– No pão ou no prato?
– No pão.
– No pão não temos, só no prato!


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 23

18/8/2010 – 8:03h. – Georgioupoli

O sol já resplandece em toda a ilha desde a montanha ao mar. Faz um calor envolvente mas não agressivo que vem das serras e é cortado a espaços por uma brisa fresca que vem do mar. Estamos a tomar o pequeno-almoço no nosso local favorito. Iogurte com mel e nozes, sumo de laranja, café, pão fresco, ovos cozidos, estrelados, bacon, doces e biscoitos. Coisa ligeira, portanto!
Não tenho escrito porque os últimos dias foram exclusivamente dedicados a descansar. Da cama para a mesa, da mesa para o mar, do mar para a mesa, da mesa para a cama, da cama para o mar, do mar para a mesa, da mesa para a cama. Tem sido este o círculo dos dias. Meu Deus, como precisava descansar! Tenho escrito imenso. “De Negro Vestida” avança a olhos vistos, em bom ritmo.

Ontem à noite jantámos de novo no restaurante Nostos. Foi o local onde fizemos mais refeições, quase diariamente. Tem uma qualidade soberba, pessoas de uma simpatia extrema e não é nada caro para aquilo que oferece. Ontem jantámos tzatziki com pão tostado, soutzoukakia, bolognesa cretense, gemistá (muito melhor do que a de Xaniá), duas coca-colas, uma água e uma garrafa de vinho retzina, No fim pediram-nos 28€. Quando acabei de pagar, trouxeram-nos um quarto de melancia partida aos bocadinhos, um prato com figos e três cálices de raki, um para mim, outro para o Iago e outro para o dono da casa! Ele bebe com todos os clientes. Não sei como aguenta! No fim vieram desejar-nos boa viagem para hoje com abraços e beijos e ofereceram-nos uma garrafa de água de litro e meio cheia de raki caseiro. O dono do restaurante e pai da família disse que o raki faz bem aos homens e fez um gesto com o braço bem conhecido de todos a indicar uma erecção. Fiquei a saber que além de uma aguardente que não arde, o raki também é um produto com efeitos terapêuticos! Ele que é careca e muito gorducho está sempre a dizer “O meu nome é Adonis, o deus da beleza” e faz um gesto para si mesmo como que para comprovarmos a dita beleza! Depois desata numa gargalhada e bebe mais um raki. Quando trouxe os figos perguntou-me se gostava. Eu disse que nem por isso mas que a minha mulher e o meu filho adoravam. Ele disse que aqueles figos eram das árvores deles e vai daí descascou um com as suas próprias mãos e foi com elas que mo enfiou pela boca abaixo. Eu comi e depois bebi mais um raki!
Hoje é dia de fazer as malas, usufruir da praia uma vez mais e apanhar o barco para Atenas ao princípio da noite.
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Nota hospitaleira: Nesta ilha fomos tratados um bocadinho além de turistas. Fomos verdadeiramente acolhidos e acarinhados. O Nostos é um exemplo disso. É um restaurante familiar onde trabalha o pai, Adonis, a mãe, Atena, a filha, Maria e o filho, Giorgis. Merecem ser visitados por quem venha a Creta. Também alugam quartos e têm um site que mora em http://www.river-side.gr

A Maria faz 18 anos em Outubro e vai para a universidade em Atenas estudar Fashion Design. Passa os verões no Nostos a servir à mesa com humildade e simpatia não obstante os seus sonhos. Tentou ensinar-nos mais algum grego… não sei se conseguimos aprender, ainda assim, cá vai: kalitichi, Maria! (felicidades, Maria!).

Nota Luís Lobo: tenho tentado não me lembrar do trabalho nem de nada, nem de ninguém relacionado com ele, mas não me esqueci de ir pedindo um pacote de açúcar a mais sempre que bebia café. São para a tua colecção. Só já falta a viagem de regresso e o avião não cair, hihihi!


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 22

14/8/2010 – 00:25h. Georgioupoli
Chegámos agora ao apartamento.
Por muitos anos que viva , as coisas que hoje vi, dificilmente se desprenderão da minha memória.
Já é sábado, 14 de Agosto, mas tudo começou bem cedo pela manhã desta sexta-feira, 13 de Agosto. Não foi dia aziago, pelo contrário.
As pessoas daqui tinham-nos dito maravilhas de duas praias, coisas do tipo “Não podem perdê-las!” e por isso resolvemos visitá-las. Passámos a manhã na praia de Balos/Gramvousa e a tarde em Elafonissi.
Balos é um milagre da Natureza. Daquelas coisas que costumamos ver nos postais ilustrados e achamos que não existem. O acesso é feito por 7km de uma estrada pedregosa a exigir cautelas na condução. Uma vez lá chegados, há um parque de estacionamento onde as cabras selvagens dormem à sombra dos carros ou… em cima deles! Depois, uma descida de 30 minutos por um carreiro. Também se pode evitar este acesso e ir de barco mas a grande vantagem de ir de carro é poder chegar cedo à praia e vê-la antes de estar repleta de turistas.
Balos e Gramvousa são duas baías que ficam entre o continente e uma pequena ilha à qual se ligam por uma língua de areia. Dependendo dos locais, a água do mar pode dar-nos desde o tornozelo até à cintura durante centenas de metros. É quente. Há mesmo locais onde, por volta da uma hora da tarde, é difícil estar dentro de água porque queima. Os azuis são tantos que não consigo descrevê-los. É assim como se fosse um arco-íris de tons de azul espelhado no mar. E a areia é cor-de-rosa! Ou, pelo menos, rosada. Há aqui um fenómeno que faz com que a areia seja branca e fina como há em Portugal mas na zona em que o mar toca a terra há uma linha de areia rosada. Tentei segurar um pouco para ver o que era. Desconfiava que fossem conchas ou búzios mas não, pareceu-me mesmo só areia com pigmento rosado. É proibido trazer nem que seja um punhado. A areia está protegida por lei!
Ficámos entretidos e divididos entre tomar banho ou ficar simplesmente a contemplar o intenso azul cristalino do mar. Atrai o olhar e a atenção aquela cor. É um local paradisíaco.
Elafonissi é como Balos mas tem um acesso melhor. Também há areia rosada e há locais onde a areia são milhões de conchas e búzios minúsculos. Também esta praia é uma extensão de areia a ligar o continente, quer dizer, Creta, a uma pequena ilha.
Almocei voureki que é um empadão feito de camadas de batatas às rodelas, courgetes, alho francês, beringelas e cebola.
À noite fomos a Rethimno ver um espectáculo de folclore grego, o bracoforio, dentro da fortaleza da cidade. Era aberto ao público. Como disse o Iago, aquilo é qualquer coisa entre o folclore português e as danças russas. Tem uma musicalidade e um ritmo orientais e os protagonistas são, sobretudo, homens. Foi interessante mas é exasperante ouvir as pessoas falar e não perceber. O apresentador fazia longos discursos que deviam conter anedotas ou piadas porque toda a gente se ria e nós sem perceber nada! Ficou o interesse de ver a alegria com que eles participam. Durante o espectáculo o público não estava em silêncio. Conversavam, gritavam, falavam para o palco. Era uma algazarra a fazer lembrar o que estudámos sobre os gregos e os romanos quando iam assitir a comédias.
Foi o último dia com o carro alugado. Amanhã começa um período em que nos vamos dedicar, sobretudo, a descansar.
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Nota triste: a nossa máquina fotográfica avariou-se hoje ao fim do dia.

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa

Balos/Gramvousa


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 21

12/8/2010 – 17:30h. – Paxia Ammos

Ao meu lado o mesmo azul turquesa de sempre que se estende pelo horizonte num manto azul intenso e forte. Estamos em Paxia Ammos, uma localidade junto ao mar e é o ponto mais oriental da ilha em que estivemos até ao momento. Fica na costa Norte.

Hoje visitámos o Planalto de Lassithi. Depois de passarmos brevemente pela cidade de Hersonisos, subimos a montanha até aos 2000m de altitude. No topo da montanha, onde menos se esperava um palmo de terra plana, abre-se uma imensa planície a perder de vista. Tem milhares de moinhos cuja função foi, até há uns anos, extrair água. Hoje em dia a maioria está desactivada ou mesmo danificada. Em tempos foi impressionante ver o branco de tantas velas a rodar no planalto. Hoje impressiona mais a imensa extensão de terra plana no cimo da serra.

Passámos por Psicro e visitámos a gruta Dicteon Andron onde, segundo a mitologia, terá nascido Zeus. A descida e subida da gruta abriu o apetite para uma das melhores refeições até ao momento. Comida caseira, porco assado no forno. E deram-nos vinho do produtor. Aquilo não era bem um restaurante. Era uma casa de uma senhora que faz comida para os amigos e aproveita alguns turistas que passam e querem arriscar comida não formatada para… turista. Passeámos pelo planalto e depois viemos fazer a travessia da parte mais estreita da ilha. É um vale com 15km de comprido que liga Ierapetra, uma terra grande no lado Sul da ilha, a Paxia Ammos no lado Norte, onde estamos agora.

Está calor mas corre uma brisa fresca e bebemos um sumo de laranja à beira-mar. Que mais pedir?

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Nota American Express: o livro da American Express sobre Creta diz que há um Hard Rock Caffe em Hersonisos. Fomos lá porque o Iago gosta de comprar uma T-Shirt do Hard Rock sempre que visita uma terra onde há um. Acontece que o livro está errado porque o Hard Rock de Hersonisos já fechou há quatro anos.

Nota atrasada (23:14h.): Só chegámos agora a Georgioupoli. Resolvemos parar em Agios Nikolaus e passar aí o resto da tarde. Fizemos bem. A cidade é muito bonita. Para além do porto, há um lago enorme no meio da cidade. É de água salgada. Há um braço de mar que entra pela cidade e faz o lago. O efeito é interessante, vamos numa rua e, de repente, ela desemboca num lago!


A viagem de regresso correu bem. Ainda não vimos um único acidente em Creta.

Paxia Ammos

Paxia Ammos

Planalto de Lassithi

Planalto Lassithi

Planalto de Lassithi

Gruta Dicteon Andron

Agios Nikolaus
Agios Nikolaus


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 20

11/8/2010 – 21:45h. – Georgioupoli

Em 1866, a invasão da Grécia pelos turcos vivia momentos de grande confrontação em terras de Creta. A violência era desmedida, as baixas múltiplas de ambos os lados. Num mosteiro denominado Moni Arkadi, os monges resistiram dentro dos muros do mosteiro com a ajuda de populares. A ofensiva turca foi de tal forma violenta que conseguiram penetrar no mosteiro. As várias dezenas de pessoas que aí se encontravam refugiaram-se na adega onde guardavam a pólvora e, para não serem torturados nem morrerem às mãos do invasor, detonaram a pólvora. A abóboda da adega ficou completamente desfeita. Não houve sobreviventes. Também morreram muitos turcos na explosão. Hoje, estive nessa adega. O mosteiro é austero mas muito aprazível. A adega nunca foi reconstruída e continua sem abóboda como forma de lembrar os que se sacrificaram por Creta.

Depois visitámos Anogeia, uma terrinha junto ao Monte Idi que é o centro da produção artesanal de bordados. Foi aqui fundada a 1ª cooperativa de mulheres de Creta e quase toda a população trabalha em bordados.

Depois de almoço, dedicámos a tarde a visitar o Vale de Amari e as suas aldeias “entaladas” na serra. Começámos por Marguerites, uma aldeia onde toda a população se dedica à produção de objectos de cerâmica pintados em cores muito garridas. Depois fomos a Gerakari onde produz artesanalmente doce e licor de cereja e raki (aguardente típica). Entrei com o Iago numa taverna dessa aldeia serrana e pedimos dois rakis. A senhora trouxe dois cálices de raki, um pepino descascado e cortado aos bocadinhos e um prato com ameixas. Quando lhe pedi a conta, ela disse, com um sorriso nos lábios: “1 euro”. Eu bem digo que estes tipos não existem. Ela só cobrou o que eu pedi. O resto foi uma simpatia dela. Paguei-lhe 1€ e esqueci-me de uma moeda de 2 em cima da mesa.

Todo o vale de Amari é lindíssimo, nele visitámos duas capelas do Séc. XIII, Agia Ana e Agios Ioannis. A primeira ainda tem frescos. São os mais antigos frescos cristãos na ilha. A segunda está em ruínas mas, mesmo assim, colocaram lá um altar pequenino, improvisado em madeira e mantêm o culto vivo.

De todo o vale, gostei especialmente de Anogeia e Gerakari. O vale não é sobre comprido como estamos habituados a ver. Tem uma forma ovalada e é rodeado pela montanha em toda a volta.
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Nota rodoviária e não só: Eu, que sou professor, não consigo deixar de me interrogar como é que as crianças daqui vão para a escola. Seja porque as aldeias são em locais inóspitos, seja porque as estradas são terríveis. Muito íngremes, muitas curvas e muito estreitas. Uma distância de 10km pode levar entre 30 a 40 minutos a fazer.

Nota cultural nº1: desde que estou em Creta, tenho reparado em algo que não sabia se devia escrever e como escreveria se o fizesse. Penso que o melhor é ser claro. Os cretenses nutrem e não escondem uma clara insatisfação ou, se quisermos, uma clara repulsa pela Alemanha da senhora Merkl. Não é nada com os alemães em geral, é mesmo circunscrito ao corpo político. Lembrei-me de escrever isto porque eu ando a dizer, meio a brincar, meio a sério, que precisamos de outra revolução em Portugal e, um dia destes, um cretense disse a frase “Precisamos de uma revolução”. O contexto era o de uma reacção enérgica à pressão política colocada pelo governo de Merkl.

Nota rodoviária: não escrevi isto logo no primeiro dia em que conduzi na ilha porque nnão sabia se era uma coincidência ou um hábito. Escrevo agora porque já percebi que é um hábito. Os cretenses, nas estradas onde há bermas, inventam uma terceira faixa de rodagem. Os condutores mais lentos andam com metade do carro na berma e os outros circulam no centro da estrada. Numa estrada com duas faixas de rodagem, estão frequentemente 3 carros lado a lado e chegam a estar 4. Por isso é que escrevi há dois dias que eles conduziam de frente para mim, é que toda a gente pressupõe que quem vai devagar (menos de 100km/h.) segue pela berma. Ou seja, eles vinham de frente para mim porque eu, na minha mão, estava errado!

Moni Arkadi

Moni Arkadi

Moni Arkadi
Anogeia
Agia Ana
Agios Ioannis


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 19

10/8/2010 – 17:44h. – Agia Gallini

Em Creta, as coisas pordem acontecer assim. Um dia dedicado à cultura tem fim numa esplanada de praia. Estamos na esplanada da Taverna Stochos na praia de Agia Gallini, na costa sul da ilha. Acabámos de comer um tzatziki e uns calamares e agora vamos ao banho no mar para refrescar antes de fazer a viagem de regresso a Georgioupoli. O mar é, como em toda a ilha, intensamente azul e morno na temperatura.

Saímos de manhã e visitámos as ruínas de Cnossos que ascendem à cultura minoica. Qualquer coisa como 70 séculos antes de Cristo. As ruínas, ou seja, as suas edificações e frescos, foram “completados”, isto é, reconstruídos por John Evans com uma técnica de restauro que tem sido polémica. O “completamento” é coerente e feito por analogia com o que ele encontrou, mas na verdade depende da interpretação que ele deu ao que encontrou. Um turista comum nem nota e gosta de ver as coisas “acabadas”. Um visitante mais atento não deixa de reparar que há coisas que não são originais. Em todo o caso, a visita vale a pena. É uma cidade imponente para a época a que reporta.

Depois fomos às ruínas de Gortina que são excepcionais, não só porque têm um salão de música romano e uma extensa parede onde estavam gravadas publicamente as leis da terra para que ninguém pudesse invocar desconhecimeto, como têm também algo que me maravilhou: uma basílica cristã, construída nos finais do império romano, em solo grego! É do Séc. V D.C. Talvez seja a basílica cristã mais antiga que visitei até hoje porque não se trata da adaptação de um templo romano mas de uma basílica construída de raiz.
Visitámos, depois, uma pequena igreja ortodoxa onde estão os túmulos de dez cristão sacrificados pelos romanos em 250 D.C. O templo chama-se Agioi Deka. Ainda fomos às ruínas de Festos mas demorámo-nos pouco. Foi muita e interessante, a informação mas agora o que apetece mesmo é o mergulho. Estão 30ºC e, pelo que conheço da ilha, a temperatura vai ficar assim até lá para as duas da manhã.
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Nota humorada: hoje presenciei, logo NÃO participei, o seguinte diálogo:
– Passas-me o American Express [livro]?
– Agora não posso, tenho as mamas ao léu!
Nota atrasada 1 (22:15h): No regresso a casa, presenciámos algo pouco comum. Ao entrarmos numa pequena localidade chamada Spili, havia sinais de trânsito a sugerir que fizéssemos um desvio. Se quiséssemos ir pela vila, teríamos de ir a 20km/h e dar sempre prioridade aos peões. Resolvemos ir pela vila. É uma terrinha simpática e pequenina e a principal rua é a estrada nacional que a atravessa ao meio. Os responsáveis locais, espécie de Junta de Freguesia, não estiveram com meias medidas, pavimentaram a estrada nacional como se fosse um passeio e quem tem prioridade são os peões! Há imenso comércio, sobretudo as típicas tavernas, os restaurantes, e casas de rendas e bordados. A vila está na base de uma montanha e por isso tem imensa água, é conhecida pela sua fonte que são 25 bicas de água em forma de cabeça de leão que jorram continuamente com abundância.
Nota atrasada com palavrões: quando chegámos, eu fui com o Iago ao Eleanas Deli Bar e estivemos à conversa com o nosso amigo Andreas. Como a Paula não quis ir, aproveitámos para perguntar como se dizem palavrões em grego. Claro que ele nos ajudou a colmatar essa lamentável falha no nosso vocabulário grego. Eu não vou aqui escrevê-los por duas razões. Primeiro, porque não me atreveria a colocar aqui as traduções e o grego só pelo grego não tem piada. Depois, porque não queremos comprometer o simpático Andreas. E, por fim, porque este é um espaço decente e bem frequentado. Afinal eram três razões!

Agia Gallini
Agia Gallini
Cnossos
Cnossos
Cnossos
Cnossos
Cnossos
Agioi Deka
Agioi Deka
Gortina
Gortina
Gortina
Gortina
Spili


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 18

9/8/2010 – 23:41h. – Georgioupoli
Chegámos a Georgioupoli às 22h. Exaustos. O dia foi preenchido e cansativo. Depois da praia de Preveli, ainda visitámos o mosteiro com o mesmo nome, uma localidade chamada FrangoKasteli que tem um castelo com uma história impressionante de resistência e sangue, e visitámos, de passagem, a praia de Plakias.
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Nota sobre costume cretense muito bizarro 1: hoje, pela primeira vez, fotografei as famosas placas de sinalização de trânsito em Creta. Muitos cretenses, sobretudo das zonas mais interiores e montanhosas, como é o caso das que visitámos hoje, guardam ainda armas da segunda guerra mundial, sobretudo pistolas. Como não têm grande uso para dar-lhes, usam-nas fazendo tiro ao alvo aos sinais de trânsito. O Governo não os substitui. Coloca novos sinais ao lado dos “baleados” a ver se uns servem para o tiro ao alvo e os outros como sinais de trânsito, mas já encontrámos das novas bem perfuradas.
Nota sobre costume cretense muito bizarro 2: os cretenses, quando não concordam com a quilometragem assinalada nas placas de trânsito, apagam-na com um produto escuro e escrevem a quilometragem certa ao lado. Pensávamos que isto era vandalismo, mas não é. Hoje, em pleno em dia, vimos um homem em cima de um tractor a corrigir os quilómetros assinalados numa placa. Ele achava que faltavam 8 e não 11 para certa localidade!
Nota rodoviária: A viagem de regresso a casa correu bem pela estrada no cimo da serra que é à beira-mar. Vistas muito bonitas, claro. As curvas e o traçado fazem lembrar a Ilha da Madeira mas ainda mais íngreme. Deparei-me com vários cretenses aventureiros em ultrapassagens de frente para mim, na minha pista. Eles são perigosos na condução. Estão sempre em rali. Às 21:30h. deparei-me com um rebanho de cabras selvagens a dormir no meio do asfalto. Tive de ir pela faixa da esquerda porque elas não se levantaram.
Placa de trânsito “baleada”
Placas de trânsito muiiito “baleadas”
São colocadas placas novas junto às velhas na esperança do “baleanço” não as atingir, mas, como se vê pela foto, nem essas escapam.


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 17

9/8/2010 – 18:22h. – Preveli

Preveli é uma praia a que se acede descendo um enorme rochedo de 300m de altura. Mas não é isso o que a torna especial. O que a torna especial é o facto de ser ao mesmo tempo uma praia de mar e uma praia fluvial. Há um rio que desce por entre os rochedos da montanha evem desaguar numa praia de areia que, do outro lado tem o mar de azul intenso. Há pessoas na praia viradas para o rio e há pessoas viradas para o mar. Já há muito anos foi aqui plantada uma floresta de palmeiras que embeleza e dá sombra às margens do rio. A única desvantagem deste local paradisíaco é o regresso ao carro porque a subida vai ser dura!

Hoje passámos em dois estreitos que se podem visitar de carro e fomos a Kourtalioko. É um desfiladeiro a que podemos aceder descendo por caminho íngreme de escadas. Quando se chega à parte mais estreita entre as montanhas, há uma capelinha de São Nicolau e mais abaixo esplêndidas cascatas de água com cerca de 10m de altura que fazem depois pequenas represas. Claro que fomos ao banho.
Agora estamos à beira-mat, a ganhar coragem para subir até ao carro. Há pouco estivemos a comentar que a Natureza aqui em Creta é tão espectacular e tão diversa que hoje já fomos ao banho três vezes só pelo entusiasmo.
Agora vamos fazer o caminho entre Preveli e Xôra Sfakia que é uma estrada no cimo da serra à beira-mar!

Preveli

Preveli

Preveli

Preveli

Preveli

Preveli

Preveli
Kourtaliotiko

Kourtaliotiko

Kourtaliotiko

Kourtaliotiko

Kourtaliotiko


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 16

9/8/2010 – 11:45h. – Argiropoli

Estamos a tomar o pequeno-almoço. Não, não é tarde. Em Creta o pequeno-almoço pode ser entre as 11h. e as 13h. e o almoço pode ser até lá para as 15h. A hora do calor mais forte aqui é por volta das 16h. Ao meio-dia o tempo ainda é fresco. Estamos na sala de jantar de um restaurante sem paredes nem tecto, nem ar condicionado. À nossa esquerda e à nossa direita correm duas cascatas abundantes de água límpida por entre árvores frondosas. O fresco é natural. É um momento diferente e tranquilo. Bebemos café e comemos pão recheado com queijo e regado com mel.

Argiropoli é uma terrinha onde irrompe água por todo o lado. Há cascatas e água correndo nas ruas, na estrada, ao lado das casas e dentro delas(!).

Às 9h. da manhã fomos ao magnífico lago Kournas. É um lago enorme no meio da serra. Tem duas cores. Azul muito escuro no centro e azul turquesa na orla. O lago é fechado a toda a volta. A água vem da serra e segue para o mar porque o lago, ao centro e no fundo, tem uma abertura natural por onde a água se escapa. Fomos ao banho no lago e em vez da água fria que esperávamos, encontrámos uma água límpida e morna. Foi espectacular.

Esta semana temos carro. Para visitar lugares mais inóspitos resolvemos alugar. A greve dos combustíveis já acabou.

Argiropoli

Lago Kournas
Lago Kournas
Lago Kournas

Lago Kournas


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 15

7/8/2010 – 15:40h. – Agia Roumeli
O barco parte daqui a 5 minutos. Estou só. Completamente só pela primeira vez desde que chegámos à ilha. A informação é tanta que nem sei por onde começar. Se pelas dores insuportáveis, se pela paisagem assombrosa que me acompanhou ao longo do dia, se pela maravilha que observo agora.

Comecemos por aqui. O mar é de um azul indescritível, denso e homogéneo. Acho que parece uma imensa pedra preciosa de tão intenso. À medida que trazemos o olhar para mais perto, vai ficando turquesa e aqui debaixo do barco junto à praia de Agia Roumeli é cristalino e transparente. Esta terra tem meia dúzia de casas, outros tantos carros, dois cafés, uma pensão, um porto e uma praia maravilhosa em forma de baía. É a primeira vez que vejo ao vivo um azul assim. Aqui só se pode vir de barco. Os poucos carros que cá há foram trazidos por este barco e como só aqui há três ruas os carros não são usados para andar aqui mas para levar e trazer produtos para as outras terras. Carregam-nos, levam-nos de barco e depois transportam-se com eles no resto da ilha.

A outra forma de cá chegar é vindo a pé. Claro que, para isso, é preciso caminhar ao longo de 18km pelo meio da Serra Branca (Lefka Ôra) atravessando o desfiladeiro de Samaria. Foi o que fiz. Com o Iago. Claro que me esqueci que ele tem 19 anos e eu 42 e uma velha lesão de 26 anos no joelho esquerdo resolveu acordar da sua letargia e fiz 12 dos 18 km com dores horríveis. Não valia a pena queixar-me. Não havia como irem buscar-me! Por outro lado, a paisagem é de tal forma bela e imponente que nunca me ocorreu desistir. De resto, não me serviria de nada! Tomar comprimidos sim, mas não os tinha trazido. O barco partiu agora. O mar é tão azul que até a espuma provocada pelos motores é azulada.

Agora vejo Agia Roumeli ao longe. É uma localidadezinha branca, entalada entre uma escarpa com cerca de 500m de altura e o azul intenso do mar.
Vamos ao dia. Quando o Iago soube que o desfiladeiro de Samaria era transitável, quis vir. Eu ofereci-me para vir com ele pois era uma prova exigente. Ele aceitou mas foi logo informando que ia dormir uma noite em Agia Roumeli para conhecer as pessoas e para voltar no dia seguinte a pé para onde eu vou agora de barco: Xôra Sfakia passando por Lutró. Xôra Sfakia é a localidade mais próxima onde há autocarros. Lutró, tal como Agia Roumeli, não tem acesso rodoviário. É por isso que estou só. Um não veio, decisão prudente e sábia (!), e o outro continua a loucura amanhã com uma caminhada de 24km pela escarpa sobre o mar. Espero que corra bem. Há coisas que temos de fazer na juventude. Esta, ele queria fazê-la. Falar-lhe dos perigos e tentar impedi-lo era inútil.

Saímos de casa às 5:30h. Autocarro às 6:30h. e duas horas pela serra acima durante 40km(!) de um caminho estreito e tortuoso onde até um carro passa apertado quanto mais o monstro do autocarro. O motorista parou diversas vezes para se cruzar com outros veículos e para acordar cabras selvagens, chamadas Kri-kri, que vêm dormir para o asfalto e se negam a levantar-se. Aos 2000m de altitude parámos. Não há mais estrada. Depois são 18km a descer até ao mar.
Tinham-nos avisado do calor, mas como o caminho é muito estreito, entre montanhas e arborizado, o calor não foi um problema. O problema mais sério é o desprendimento de pedras. Estão sempre a cair montanha abaixo. Os tipos, em vez de colocarem protecções, puseram uns sinais a dizer “Grande perigo. Ande depressa.” Nós rimo-nos. Se um tipo tiver de levar com um calhau na tola, tanto faz ir depressa como devagar! Ao fim de 1:30h tínhamos feito 6km e essa rapidez inicial foi o meu único erro. Na altura foi com medo de perder o barco mas agora trocava as dores por tê-lo perdido. O chão é muito irregular, feito de rocha solta. Partes do percurso são em leitos de rios que secam no Verão, e o meu joelho esquerdo ressentiu-se. O sétimo quilómetro foi uma tortura. Nesses primeiros 7km houve um rio que se cruzou connosco algumas vezes. Claro que fomos ao banho. A paisagem é verdejante e somos sempre acompanhados pela montanha ao nosso lado e, em muito locais, por cima de nós! É assustadora a forma como a montanha se “dobra” por cima de nós mas muito bonito. Nunca tinha visto nada assim. Entre o quilómetro 7 e o quilómetro 11,5 é a parte mais interessante do percurso, o desfiladeiro propriamente dito, e foi nessa fase que tive mais dores. Mas nem me queixei. Nesses 4,5km vimos a aldeia abandonada de Samaria que dá o nome ao desfiladeiro, andámos pelo rio dentro, tomámos vários banhos gelados, e passámos nos “Portões de Ferro”. Não são portões nenhuns, é o nome que deram à parte mais estreita do desfiladeiro. Tem só 3m de largo e cada parede tem mais de 300m de altura. É impressionante. Os últimos 6,5km foram são mais fáceis porque são a direito e o piso é melhor.
Chegámos a Agia Roumeli ao cabo de 6:15h porque fizemos um intervalo de 15m em Samaria. Não sei se voltarei a fazer este percurso na minha vida, mas gostava. A única coisa que faria diferente, era demorar 8h em vez de 6 e fazer a parte inicial mais devagar. Às vezes pergunto-me porque fazemos estas coisas e acho que é só para testarmos os nossos limites e procurar o desconhecido. Outras vezes, acho que não há razão nenhuma. Temos de o fazer e pronto.

Valeu a pena pelo percurso e por ter conhecido Agia Roumeli. Não há ali uma única caixa multibanco e não sei para que é que querem os seis ou sete carros que lá há porque aquilo tem três ruas e o porto. Só se for mesmo para transportarem coisas no barco e levarem para outras zonas da ilha. Mas o mar, meu Deus, o mar é maravilhoso. Deixei a câmara com o Iago, espero que ele faça fotos. Só não sei quanto tempo vou levar a recuperar do joelho mas tenciono colocar gelo logo à noite. Amanhã é dia de dormir muito, ir à praia e atacar novas surpresas gastronómicas. Já chega de esforços físicos. Hahahaha.
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Nota que não tem nada a ver com nada 1: houve um momento em que chegámos a uma zona a que as pessoas chamam “Santuário de Pedra”. Cada pessoa que ali passa faz um pequeno montinho com pedras. Como as pessoas são muitas, toda a encosta está coberta de montinhos de pedra feitos pelos caminhantes. Claro que fizemos um cada um.

Nota que não tem nada a ver com nada 2: Houve um momento em que estava sozinho, a ouvir os pássaros e as cigarras e passou uma doninha e depois uma cabra selvagem. De repente, apeteceu-me perguntar a Deus “Não queres mandar mais nada?”
Nota turística: o barco atracou em Xôra Sfakia. Agora tenho um percurso de 50km serra acima, serra abaixo em dois autocarros e cerca de duas horas.

Desfiladeiro de Samaria
Desfiladeiro de Samaria

Desfiladeiro de Samaria

Desfiladeiro de Samaria

Desfiladeiro de Samaria

Santuário de Pedra – Desfiladeiro de Samaria

Santuário de Pedra – Desfiladeiro de Samaraia

Lutró

Agia Roumeli

Agia Roumeli

Agia Roumeli