Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Poema da Menina que Vendia Maracujás na Beira da Estrada

Poema da Menina que Vendia Maracujás na Beira da Estrada

Era uma menina,
Chamava-se Inês,
E vendia maracujás
Na beira da estrada.
De seu, não tinha mais nada.

Pé descalço
Salpicando a água da chuva,
Saia verde,
Blusa desabotoada.
De seu, não tinha mais nada.

Um pano no chão,
O tempo todo para esperar,
A fruta amontoada.
De seu, não tinha mais nada.

A um canto do pano, um nó.
Lá dentro, uma nota velha e dobrada.
De seu, não tinha mais nada.

As mãos estendidas para a vida,
A esperança no sorriso da face encantada.
De seu, não tinha mais nada.

Uma troca rápida,
Uma palavra breve,
O olhar de novo na estrada.
De seu, não tinha mais nada,
Inês,
A menina que vendia maracujás
Na beira da estrada.

Chongoene
08/02/2014
jpv


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Poema do Amor Incondicional

Poema do Amor Incondicional

Morre na praia da intenção
O amor incondicional
Que te soprava o coração.

Vives a urgência
De uma existência
E não viste ainda
Que já morremos todos.
E resta, destes cadáveres exangues,
Entregues aos cães e aos lobos,
Provar o doce amargo
Da putrefação.

É uma estrada.
E não temos mais do que o lado a lado.
Ficamos, súbito, sem paisagem, só o nada
Como recompensa para cada corpo tombado.

E a alma, dizes-me tu, do alto das tuas barbas brancas,
Da tua inconsciência de menino.
A alma, seja o que for,
Etérea, corpórea, achada ou perdida,
A alma, meu Deus,
Não pode ser a desculpa
De desperdiçar-se a vida!

Fui já.
E já não sou.
No meu lugar jaz outro.
Respira por entre a gente
Uma alma adiada
E um corpo morto.

jpv


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Crónicas de África em Imagens – Na Beira da Estrada

Crónicas de África em Imagens – Na Beira da Estrada

Maputo, 30 de abril de 2013

Caros Amigos e Leitores,

As imagens que agora vos oferecemos não estão subordinadas a nenhuma temática em particular, nem servem para mostrar uma cidade ou a beleza paisagística de uma região.

O que estas imagens têm em comum é a estrada. Foram todas tiradas do carro, muitas delas em movimento, e mostram pormenores da vida africana na beira da estrada. Sinais de trânsito pouco comuns ou inexistentes noutras paragens, meios de transporte, formas de vida.

África, e Moçambique é um exemplo vivo disso, ainda não foi esterilizada pelas autoestradas. A estrada fervilha de gente e de vida. Mesmo num local inóspito, há sempre gente à beira da estrada e quando não há, se paramos, passados alguns minutos, aparecem pessoas à nossa volta. A estrada é viva.

Estas fotos foram tiradas em estradas de Moçambique e da África do Sul nos meses de dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Divirtam-se!

Meio de transporte semi-coletivo. É pago.
Todas as pessoas à volta da carrinha subiram e viajaram nela.

O mesmo que o anterior, mas coberto.
Este tipo de transporte serve para cobrir grandes distâncias.
Os atrelados são quase tão comuns como os carros.
Há autocarros de passageiros com atrelado!
Todas as vilas e povoações de Moçambique 
fervilham de gente e vida.

Porta aberta? Qual porta?
Não se está mesmo a ver que é um suporte?

Doces, aromáticos e baratos! 
É comum encontrar prédios completamente pintados com 
publicidade à Vodacom, à Mcel ou à Coca-Cola.

Hotel em Maxixe, Inhambane.
Esta alegria e esta simpatia são comuns e 
contagiantes em Moçambique

Iupiii, estivemos lá!
Travessia de quê?
Mas há aqui algum zoo ou quê?

Eh, isto nunca acontece!
Mas este tipo não gosta mais de aguinha e laminha?!
Assim sendo, vendem-se lá sorvetas!
Assim… aqui… de repente… em 50 metros…
não estou a ver… e logo agora que tinha urgência numas fotos!
Vai cansadinho da viagem?
Ó aqui tão confortáveis.

Camineta roubada,

Cordas às portas!

Comum.
De pequenino…

Comum.
E quando passam por nós numa descida a 130 à hora?!
– Quanto vale, mamã?
– 50, papá.
– Cada uma?
– Cada balde, papá!
(50meticais = 1,25€)
O STOP é para o trânsito, não é para o casório!
Felicidades!

Pelas minhas contas, vão três lugares vazios.
A tampa do motor aberta?
Naaa… é o sistema de arrefecimento.

Piri-piri da Tia Rachida… pica que farta!
Olaria tradicional.
Ai andas, andas!
À espera do chapa.
Olha a lenha fresquinha!
Carvão. 
Mercado antigo.
A Coca-Cola é a bebida mais consumida em Moçambique.
A sede acaba ali. Dançámos naquela esquina.

Comum.
De pequenino…
Olhó caju fesquinho!
Em Maputo é caro e aqui fica baratinho!

Não vai mais vinho para a mesa daquela carrinha.
Eixo partido é uma doença comum em Moçambique.

Porque será?

Boa vista!
Vendas na periferia urbana de Maputo.
Vendas na periferia urbana de Maputo.
Comum. Muito comum.
Transporte de minério.

Circular pela berma também é uma simpatia comum.

-Tens algo para vender?
– Sim, tenho algum algo para vender.
– Não vendas aqui nenhum algo que é proibido.
Hã?! Muita informação ao mesmo tempo!
E já aparecem em voo?
Eh lá! Um tradutor de códigos de estrada, por favor!
Hã?! Mas afinal, o carro pode ou não pode usar phones?!
Afinal acontece!
‘Tás cheio de sorte que o tipo não vem fora de mão!

jpv
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Todas as imagens
Foram captadas por mim ou familiares.
Pode clicar para aumentar um pouco o tamanho.



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Navegante do Pó

Navegante do Pó

És o navegante
Altivo
Do mar encapelado
Que me tem cativo.

Sou o caminhante

Desta estrada de terra e pó.

És o capitão
Do motim
No mar da minha revolta,
Rota sem horizonte nem fim.

Sou o homem
Que pisa o chão de ida
E perde o norte da volta.

E temos ambos,
Em terra ou no mar,
A força do olhar
Sob a mão erguida.
O sentido do tutano
Da vida.
A ânsia do regresso
Mesmo antes da partida!

jpv
(Ao som da tua playlist,
Nina Simone, Sinnerman)