Category Archives: Esperança
Crónicas de África – A Inigualável Gente de Moçambique
Crónicas de África – A Inigualável Gente de Moçambique
Maputo
E passa um chapa ruidoso
Que quase me atropela,
Atrás dele,
Desenha esses na estrada
Uma frenética chopela.
Passam carros com fulgor,
Estacionam num restaurante,
E, nesse mesmo instante,
Surge, solicito, o arrumador.
Vivem aqui
Sólidos e evitáveis
Desequilíbrios.
Uns pedem,
Outros dão.
E há nesta dança
Uma bruma de esperança.
Maputo é olhar em frente,
É uma terra
Semeada de gente.
É uma nação,
Um pátrio solo,
Um chão!
É a diferença
E a semelhança.
Maputo é mãe
De uma criança
Que ri e chora.
Maputo é todo
O tempo do mundo
E o tempo
É agora.
Crónicas de África – Três Meses de Esperança
Maputo 15 de dezembro de 2012
Todo o dia fora de antecipação e borboletas no estômago. A noite estava quente, acolhedora, e o aeroporto de Maputo tinha as entranhas repletas de portugueses à espera de portugueses. Para nós, aquele avião trazia a carga mais preciosa, o passageiro mais especial. O nosso filho chegou para nos visitar na passada quinta-feira à noite. Abraços infindáveis, as perguntas já feitas ao telefone e no skype agora repetidas com o calor da presença de quem nos anima a vida. Não é fácil descrever o que se sente com a ausência de um filho, e menos fácil ainda é descrever o momento da reunião. É uma completude, um preencher de vazios, é um refazer de sentidos e uma pacificação, é o afastar de um sobressalto constante no peito, é uma nuvem que se vai para o sol poder brilhar de novo. É só isso. E é isso tudo!
No dia seguinte, completaram-se três meses sobre a nossa chegada a Moçambique. Um trimestre de certezas e incertezas, de alegrias e dúvidas, de uma adaptação constante a tudo. Um trimestre de que ficam aqui alguns, poucos, aspetos que o marcaram.
Marco e Sandrine
O Nunes
A Escola
A Casa
Maputo
Clima
Arte e Festa
Chapas
Não é possível ficar-se indiferente. São aos milhares pela cidade e transportam toda a gente de todo o lado para todo o lado. Interferem com as vidas das pessoas e uma greve de utentes a este serviço para completamente a cidade.
Ritmos
Deitar por volta das 20h, 21h, levantar com a luz das 4:30h, 5:30h, começar aulas às 7:00h, almoçar às 11:30. Encarar as 8h como meio da manhã. Não forçar ritmos, aprender a navegar neles. Assumir que o descanso é para descansar.
RSA
Presente em hábitos do dia-a-dia, em expressões de fala, em hábitos alimentares, em objetos que se trazem no carro ou se guardam em casa, a África do Sul é uma vizinha donde chegam ventos culturais todos os dias.
Mail, Facebook, Skype, Amigos e Familiares
As comunicações por e-mail, as mensagens no FB, as vídeo-chamadas pelo Skype mantiveram presentes os amigos de lá, dessa Pátria fria e distante e mantiveram a presença visual e sonora da família.
Negociar em Meticais
Viver em Maputo é estar em permanente negócio, é medir forças em meticais constantemente. Tudo tem um preço, tudo se negoceia, tudo se vende. Não só coisas. Serviços. Tudo o que possa resultar no amealhar de umas moedas pode ser transacionável.
Portugal
Lá longe… esfumado nas mentes e vivido nelas também. É sempre a Pátria. Uma pátria donde chegam com frequência notícias de apreensão. Sim, é para voltar, mas não será já. Portugal terá de esperar.
O Futuro
O futuro, para já, é aqui. Aqui estão as soluções e a esperança de crescer. Aqui está o trabalho e a vontade de viver. Sempre desalojados. Sempre realojados da esperança e da vontade de superar. Hoje, enquanto estávamos no trabalho, o nosso filho andou pela cidade a conhecer, e a falar com as pessoas que mostraram gostar muito dele e do seu aspeto tranquilo. Chamam-lhe “O Argentino”, “O Reggae Man”, “O Messi” ou o “Brother”. E comprou umas sapatilhas All Star por 250 meticais, 6€. Em Portugal custam 70€. Sim, também para ele há esperança. Sim, também para ele, ela parece morar aqui.
Três meses repletos de dificuldades e alegrias, de crescer como pessoas na multiculturalidade que é a sociedade moçambicana. Uma sociedade aberta e simpática onde há riscos e onde há, sobretudo, oportunidades. Mesmo estando um pouco “vaidosos” com a nossa coragem para mudar de vida aos 45 anos, somos humildes e estamos gratos a todos os que se cruzaram connosco por bem. Três meses! Venham mais três!



